AÇÚCAR & ETANOL
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Filipi Cardoso

Mestre em Bioenergia e Engenheiro Ambiental pela Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho (UNESP - Rio Claro), possui experiência em pesquisa e análise de mercado focados no mercado sucroenergético e combustíveis. Trabalha na divisão de Inteligência de Mercado da StoneX com foco em Açúcar e Etanol.
Este texto teve a colaboração de Marcelo Di Bonifacio Filho, Rafael Borges.

Estimativa de Safra: Centro-Sul 2022/23 e 2023/24

Ao longo dos próximos parágrafos, a Inteligência de Mercado da StoneX apresentará sua sexta revisão para a safra 2022/23 (abr-mar) no Centro-Sul, bem como suas primeiras estimativas para a temporada 2023/24 (abr-mar). Tais análises buscam avaliar qual será o potencial produtivo brasileiro, de modo a traçar perspectivas mais concretas para a produção dos produtos da cana-de-açúcar e cenário econômico para seus mercados.

1ª estimativa para a safra 2023/24 no Centro-Sul do Brasil

Após enfrentar um período grande de seca e de fortes geadas durante o ciclo 2021/22, o setor sucroenergético vem demonstrando sinais de recuperação nesta safra 2022/23, e deve permanecer sustentando esse otimismo na próxima temporada, que se iniciará em abril de 2023.

Até o momento, os modelos climáticos apontam para um volume de precipitações mais próximas da normalidade, com exceção dos estados de Minas Gerais, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que possuem expectativa de chuvas acima do normal. Tal tendência deve persistir, pelo menos, até o fim da primavera em grande parte do Centro-Sul brasileiro. Ainda assim, é preciso ponderar que a probabilidade de incidência do La Niña, mesmo que com menos intensidade, até o fim do último trimestre de 2022, pode prejudicar a regularidade do regime de chuvas – colocando-se como ponto de atenção para o potencial produtivo das lavouras.

Anomalias de chuvas*

*set/22 – nov/22. Fonte: INMET

Caso esta tendência de chuvas se concretize, é provável que a produtividade dos canaviais mantenha um crescimento que já se observa no ciclo atual. Ainda que de modo preliminar, a StoneX projeta que o TCH (Tonelada de Cana por Hectare) médio na região avance 4,2% no comparativo safra-a-safra, alcançando patamar de 75,5 t/ha em 2023/24.

A área canavieira também deve observar leve recuperação das perdas projetadas para 2022/23. Embora a rentabilidade elevada das demais culturas como a soja e o milho mantenha uma competitividade elevada com os canaviais em algumas regiões, a conjuntura para o setor sucroenergético se mostra favorável para a ampliação dos investimentos na produção. De fato, estimamos que a extensão destinada à cana tenha crescimento anual de 1,0%, para 7,78 milhões de hectares.

Estimativa de safra no Centro-Sul (abr-mar)

*Estimativa. Fontes: UNICA e StoneX. Elaboração: StoneX.

Consequentemente, a moagem no Centro-Sul deve totalizar 583,1 milhões de toneladas, podendo representar aumento anual de 4,6%. Em meio à expectativa de um quadro climático mais próximo da normalidade, os canaviais devem passar, em 2023, por um inverno e um outono mais típico da região, com menores volumes de chuvas e temperaturas mais baixas da observada em 2022. Com isso, esperamos que o ATR médio das lavouras apresente ligeiro avanço frente ao estimado para a temporada 2022/23, na ordem de 0,5%, totalizando 140,6 Kg/t. Tal perspectiva, contudo, poderá ser revisada caso a ocorrência de La Niña seja confirmada nos próximos meses – fenômeno que, geralmente, resulta em menor umidade no Centro-Sul, o que tende a elevar a concentração de açúcares no colmo da cana.

O mix produtivo, assim como no ciclo atual para a próxima temporada, também estará rodeado de incertezas. Depois de uma quebra prematura no ciclo 2021/22, que provocou uma forte escalada nos preços no primeiro trimestre de 2022, o etanol passou a mostrar quedas constantes nas cotações, motivadas pelas novas dinâmicas no mercado de combustíveis, que permitiu uma perda considerável de competitividade entre o hidratado e a gasolina.

Para o ciclo 2023/24, a safra apresenta uma tendência de crescimento no mix de açúcar, porém ainda deverá ser mais voltada para a produção de etanol, uma vez que, com a retomada da cobrança de impostos, o etanol tende a ser mais competitivo que a gasolina em algumas regiões do Centro-Sul. Além disso, a precificação do açúcar tende a permanecer num cenário mais baixista, já que as expectativas para o ciclo global 2022/23 (out-set) trazem um superavit de 3,88 milhões de toneladas. Sendo assim, estima-se que 45,0% do volume de biomassa processada deverá ser destinado à produção de açúcar, alta de 0,2 pontos percentuais do mix projetado para 2022/23.

Paridade entre o açúcar #11 e o etanol hidratado* (US¢/lb)

* Nas usinas, com base em Ribeirão Preto/SP. Fonte: ICE/NY e StoneX. Elaboração: StoneX

Contudo, o setor segue acompanhando as atualizações no mercado de combustíveis, visto as novas dinâmicas na redução das alíquotas aplicadas no cálculo dos impostos estaduais e possível retomada na cobrança dos impostos federais no início de 2023. Diante dessas mudanças, foi projetado um crescimento para o consumo de Ciclo Otto de 1,1% e, considerando uma maior competitividade para o etanol, estimou-se um share do hidratado de 28,0%.

Com isso, a oferta de açúcar pelo Centro-Sul em 2023/24 deve totalizar 35,2 milhões de toneladas (+5,7%), ao passo que a destilação de etanol de cana é estimada em 26,5 milhões de m³ (+4,7%). Especificamente, esperamos que a produção de hidratado seja de 16,4 milhões de m³ – avanço safra-a-safra de 4,2% – enquanto 10,1 milhões de m³ de anidro devem ser ofertados pelas usinas do Centro-Sul (+5,6%).

Por fim, esperamos que a produção de etanol de milho continue ganhando espaço no mercado de etanol e apresente crescimento anual de 22,2%, totalizando 5,5 milhões de m³ – levando a produção total do biocombustível na temporada para 32,0 milhões de m³, alta de 7,4% frente ao volume estimado pela StoneX para a safra 2022/23. O setor da destilação do etanol pelo grão vem crescendo exponencialmente na região Centro-Oeste do Brasil, e deve ganhar cada vez mais espaço no mercado alcooleiro do país, com expectativa de abertura de novas usinas e ampliação da capacidade produtiva nos próximos anos.

6ª Revisão das estimativas para a 2022/23 no Centro-Sul do Brasil

A temporada 2022/23 (abr-mar) do Centro-Sul brasileiro já está chegando na metade. Até o final de agosto, de acordo com os dados da União da Indústria de Cana-de-açúcar e Bioenergia (UNICA), a região acumulou uma moagem de 366,3 milhões de toneladas. No comparativo com o mesmo período da safra 2021/22 (abr-mar), o volume de cana processada apresenta uma retração de 6,8%. Apesar desse recuo na moagem ter sido evidenciado desde o início da safra, como consequência da estratégia adotada pelas usinas de atrasar o início da colheita para recuperar a produtividade dos canaviais, a diferença vem diminuindo quinzena a quinzena, devendo inverter o cenário na segunda quinzena de outubro.

Estimativa de evolução quinzenal da moagem (milhões de toneladas)

Fonte: UNICA. Estimativa e Elaboração: StoneX

Ao contrário da temporada anterior, em que o clima seco e as geadas prejudicaram a produtividade das lavouras, o retorno das chuvas desde o último trimestre de 2021 favoreceu o desenvolvimento dos canaviais, fortalecendo o sentimento otimista para o setor. Desde o início de abril/22 até o fim de agosto/22, os dados de precipitação indicam que 239,8 mm de chuvas incidiram na região Centro-Sul, alta de 67,2% em relação ao mesmo período do ano passado. Esse acompanhamento climático é fundamental para compreendermos a evolução dos campos.

Regime de chuvas do Centro-Sul ponderado pela área de cana-de-açúcar (mm)

Fonte: NOAA e StoneX. Elaboração: StoneX.

Diante disso, as perspectivas para produtividade dos canaviais permanecem otimistas, tal como na revisão divulgada em julho de 2022. O TCH permanece o mesmo (projetado em julho), em 72,5 ton/ha, que se concretizado, apresentará uma alta de 6,2% no comparativo entre safras. A área de colheita segue com uma retração leve, de 0,3%, permanecendo a moagem em 557,5 milhões de toneladas.

Devido ao comportamento da safra e ao grande volume de chuvas que tem incidido no Centro-Sul, ficou mantida a redução estimada em julho/22 no ATR médio dos canaviais, que deve fechar em 139,9 Kg de açúcar por tonelada de cana colhida. Com relação ao mix produtivo, manteve-se sem alterações o cenário que favorece a fabricação de etanol frente o adoçante, permanecendo assim o mix açucareiro de 44,8% e o mix alcooleiro de 55,2%.

Entretanto, o mercado permanece atento às movimentações no setor de combustíveis, vistas as últimas medidas tomadas pelo governo para diminuir os preços por meio de redução das alíquotas aplicadas no cálculo dos impostos estaduais e de isenção dos impostos federais até o fim de 2022. Diante dessas mudanças no mercado de combustíveis e da retomada da economia brasileira – mesmo que lenta – o crescimento estimado para o consumo de Ciclo Otto passou de 2,5% para 4,0%. Além disso, considerando as reduções no preço da gasolina em função das movimentações de queda nas cotações do petróleo, foi levada em conta uma perda de share do hidratado até o final da safra de 2,3 pontos percentuais (p.p) em relação às estimativas divulgas em julho/22, ficando em 27,0%.

Diante dos pontos discutidos e das perspectivas de movimentações para a safra 2022/23, a StoneX manteve as estimativas de produção dos produtos da cana divulgada em julho/22. A produção de açúcar permanece em 33,3 milhões de toneladas (+3,8%), enquanto a destilação do etanol de cana, por sua vez, ficou projetada em 25,3 milhões de m³ (+4,9%).

Para o mercado de etanol, a atualização efetuada foi no share produtivo do anidro, que passou de 37% para 38,7%, uma vez que a demanda do hidratado permanece enfraquecida em relação à gasolina. Especificamente, estima-se uma produção de 15,7 milhões de m³ de hidratado e 9,5 milhões de m³ de anidro.

Na mesma linha, a produção do biocombustível derivado do milho permanece idêntica ao estimado em julho/22, totalizando 4,5 milhões de m³ – detalhado em 2,5 milhões de m³ de hidratado (1,7%) e 2,0 milhões de m³ de anidro (100,3%). Os investimentos são crescentes no Centro-Oeste brasileiro e o esmagamento do grão continua extremamente favorável às usinas da região, algo já evidente no progresso da safra sucroenergética do Centro-Sul, em que a geração acumulada do etanol de milho já está 26,3% acima do observado para o mesmo período de 2021/22.

Filipi Cardoso

Mestre em Bioenergia e Engenheiro Ambiental pela Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho (UNESP - Rio Claro), possui experiência em pesquisa e análise de mercado focados no mercado sucroenergético e combustíveis. Trabalha na divisão de Inteligência de Mercado da StoneX com foco em Açúcar e Etanol.
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