No início da semana, dados divulgados pelo MDIC mostraram que as exportações brasileiras de açúcar atingiram pouco menos de 1.750,9 mil toneladas em maio de 2019. Por um lado, este volume representa crescimento de 486,6 mil toneladas em relação a abril. Contudo, as vendas internacionais no último mês foram 16,4% inferiores ante ao ano passado – posicionando-se, ainda, como o menor patamar desde 2014 para o período analisado.
Este cenário pode não surpreender parte do mercado açucareiro global. Além do atraso no início da safra ter limitado as atividades de colheita e processamento da cana, é preciso destacar que o mix produtivo das usinas do Centro-Sul do Brasil neste início de temporada tem se mostrado fortemente alcooleiro.
Tanto que, com base nos dados oficiais da UNICA e estimativas da StoneX, projetamos que a fabricação do adoçante tenha ficado em 3.437,5 mil toneladas no acumulado de maio/19 – volume que representa queda de 5% em relação às médias de 3, 5 e 10 anos para o período (o dado de 2018/19 é distorcido pelo impacto da greve dos caminhoneiros).
Ademais, conforme apontado pelo Cepea/Esalq, o indicador doméstico do Cristal 150 em São Paulo atingiu R$ 69,10/sc no último mês, o maior patamar desde junho/17. Comparativamente, este valor se mostra superior às cotações equivalentes praticadas no porto de Santos, tanto para o VHP quanto para o Cristal 150.
Destino das exportações
Em meio à redução nas vendas internacionais de açúcar, observa-se que, com base nas exportações acumuladas dos dois primeiros meses de 2019/20 (abr-mar), houve algumas mudanças no perfil dos importadores do produto brasileiro.
As compras da Índia, por exemplo, ficaram praticamente zeradas no período analisado. O contexto de ampla oferta no país asiático, o qual levou usinas indianas a exportarem quantidades expressivas de açúcar pela primeira vez desde 2014/15 (out-set), reduziu as necessidades de aquisição de produto internacional.
A Indonésia, por sua vez, ainda não importou açúcar do Brasil na safra corrente – sendo que, no mesmo período da temporada anterior, o país havia adquirido 78,2 mil toneladas. É preciso lembrar que os indonésios são os principais compradores do produto fabricado na Tailândia – país cujas exportações atingiram 5.542,4 mil toneladas entre outubro/18 e abril/19, alta de 42,7% ante à temporada anterior.
Nas Américas, o Canadá reduziu suas importações de açúcar brasileiro em cerca de 166 mil toneladas nos dois primeiros meses do ciclo corrente no Centro-Sul, para apenas 3,4 mil toneladas. Neste sentido, é provável que o México tenha suprido parte da demanda canadense, já que as exportações totais do país latino-americano até maio¹ cresceram 30,2% no comparativo anual.
Países com grande capacidade de refino, por outro lado, ampliaram seus negócios com o Brasil entre abril e maio de 2019. Por exemplo, Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos importaram 336,8 mil toneladas (+58,4%) e 295,7 mil toneladas (+208,0%), respectivamente, no período analisado.
Outro destaque foi a China, cujas compras avançaram 271,1 mil toneladas no comparativo anual e totalizaram 325,2 mil toneladas. É importante destacar que este crescimento ocorre mesmo com a incidência de tarifas de 85% sobre a importação do produto brasileiro, reforçando as indicações de firme demanda do país asiático e corroborando o anúncio de que Pequim não renovará a alíquota adicional após maio/20.
Há, também, maior direcionamento de produto a determinados compradores africanos. As exportações para Nigéria e Angola, por exemplo, atingiram os respectivos volumes de 209,4 mil toneladas (+121,1%) e 100,8 mil toneladas (209,8%) nos primeiros dois meses da safra no Centro-Sul. Este cenário sugere crescimento da demanda no continente, uma vez que ambos os países são importantes pontos de refino e distribuição às nações mais interioranas.