Perspectiva de déficit global de açúcar, estoques finais de soja menores do que o esperado, oferta doméstica insuficiente de algodão de melhor qualidade. As commodities agrícolas têm apresentado condições de disponibilidade específicas que as colocam suscetíveis à variação de preços conforme os saldos vão se concretizando com o avanço das safras.
Para explicar essas influências, a consultoria StoneX lançou um estudo especial, que também avalia os impactos macroeconômicos e climáticos. “Além dos fatores gerais, as commodities agrícolas possuem especificidades relativas a seus balanços de oferta e demanda que podem contrapor o cenário macroeconômico e limitar a sua influência”, explica a coordenadora de inteligência de mercado da consultoria, Natália Orlovicin.
No caso da soja, por exemplo, há uma sinalização de redução anual de mais de 26% nos estoques, afetando certamente o nível de preços do mercado futuro. Pelo lado da demanda, a soja norte-americana tem encontrado espaço no mercado internacional nos últimos meses, com as vendas de exportação em patamares elevados em um período do ano em que normalmente ocorre uma redução no ritmo das negociações e até registro de cancelamentos. “É possível que os níveis de estoques de passagem de safra não fiquem tão confortáveis nos EUA, como se esperava, o que pode dar suporte às cotações nos próximos meses”, prevê Natália.
No Brasil, apesar da previsão de produção de milho ‘safrinha’ aquém do potencial, a entrada do cereal de inverno no mercado está abrindo espaço para a queda do preço interno do milho, que atingiu valores recordes ao longo de 2016. “As expectativas são de um volume de exportações mais baixo neste segundo semestre, com o milho sendo mais direcionado a atender o consumo doméstico, que é bastante elevado”, explica a analista de mercado, Ana Luiza Lodi.
Para as soft commodities, os fundamentos de oferta devem continuar a oferecer um patamar de sustentação para as cotações. “Este ano, a redução do ritmo da produção de cacau deve ser acentuada [neste terceiro semestre] pela quebra de safra na Costa do Marfim, ocasionada pela seca no final de 2015 e início de 2016”, explica o analista de mercado da StoneX, Fábio Rezende. Por conta disso, apesar do preço da amêndoa em Nova York já se encontrar elevado, e o cenário macroeconômico estar mais baixista, os fundamentos de oferta devem continuar a dar suporte às cotações até meados de outubro, quando a produção da próxima safra africana começa a chegar aos portos.
Na China, permanece o quadro de ampla disponibilidade de algodão, no entanto, a elevada demanda por fibra de melhor qualidade não tem sido atendida, sendo fator altista aos preços no mercado doméstico.
Já o açúcar, que foi uma das commodities com alta mais expressiva no segundo trimestre, continua sendo influenciado pela perspectiva de déficit global tanto na safra atual (2015/16) como na próxima, estimados pela StoneX em 9,3 milhões de toneladas e 7,8 milhões de toneladas, respectivamente. “Se confirmados, estes déficits levariam à queda do nível de estoques globais em 21,1%, para 63,8 milhões de toneladas, o que representa 34,2% da demanda anual. Este seria o menor patamar de estoques/uso desde a safra 2010/11, quando o contrato contínuo na ICE/NY registrou média de US¢28/lb”, explica o analista de mercado João Paulo Botelho.