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Isabela Garcia

Estudante de Economia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Possui experiência em pesquisa e trabalha na divisão de Inteligência de Mercado da StoneX do Brasil com foco em Energia.
Este texto teve a colaboração de João Lopes.

Como a seca no cinturão do algodão deve impactar a safra 2022/23 nos Estados Unidos?

A safra 22/23 deve ser a menor em treze anos

Os Estados Unidos se consolidaram como um dos principais produtores da pluma mundialmente, sendo o maior exportador de algodão dos últimos anos. Durante o ciclo 21/22, o país produziu mais de 3,19 milhões de toneladas e respondeu por 34% das exportações do período, voltadas majoritariamente para o abastecimento do mercado asiático, em especial da China.

O cultivo do algodão é tradicional no país, com relatos da sua pratica já no século XVI. A cultura passou a se expandir mais expressivamente no início do século XIX , com a utilização dos primeiros descaroçadores de rolo e com as plantations no “Cinturão de Algodão”, levando a região a ser responsável por quase um terço da produção global no início dos anos 1960. Ao longo das últimas décadas, a oferta do país mais que dobrou e, mesmo perdendo participação relativa sobre a produção mundial para países como China, Índia e Brasil, os Estados Unidos continuam sendo um importante fornecedor da pluma e com expressiva influência no mercado.

Participação relativa sobre a produção e exportações globais

Fontes: USDA, Elaboração: StoneX. *Estimativa USDA

Dessa maneira, quando a piora na seca no Texas começou a ameaçar a produção norte-americana já em maio desse ano, o mercado ficou atento e considerando que os resultados da safra 22/23 poderiam não repetir o volume do ciclo anterior. No entanto, com o relatório de agosto do WASDE, no qual o órgão reduziu a sua projeção de oferta dos EUA para 2,74 milhões de toneladas, percebeu-se a magnitude do estresse hídrico e das demais adversidades climáticas que vêm assolando regiões produtoras da pluma. O resultado é até 28% menor do que aquele registrado em 20/21, sendo a pior safra para os Estados Unidos desde 2009/10, valor que irá se refletir no desempenho das exportações do país.

Produção e exportações  dos Estados Unidos (milhões de toneladas)

Fontes: USDA, Elaboração: StoneX. *Estimativa USDA

O algodão, apesar de ser uma cultura de sequeiro, ainda exige um grande volume de chuvas para o desenvolvimento vegetal, especialmente nas primeiras etapas do plantio. Dessa forma, um solo mais seco não só impacta a produtividade da lavoura como também a qualidade da fibra. Nos Estados Unidos, as culturas estão concentradas nos estados que compõem o Cinturão do Algodão (Cotton Belt): Texas, Geórgia e o Delta do Mississipi. Em 2022 essas regiões sofreram com uma seca excepcional, que se iniciou no sul do país pelo Texas e se alastrou para os demais estados.

Ao longo do ano, o nível da umidade do solo não estava adequado para o algodão, e, além da falta de chuvas, as altas temperaturas durante o verão acentuaram o estresse hídrico do solo. Como a maior parte das lavouras do país depende exclusivamente das chuvas (ou seja, não são irrigadas), as condições foram se deteriorando com o passar dos meses, e a porcentagem do algodão em condições boas ou excelentes chegaram aos piores patamares nos últimos anos – 34%, quando a média dos últimos cinco anos foi de 49%.

Monitor da Seca nos Estados Unidos: Agosto 2021 x 2022

Fontes: Drought Monitor. Elaboração: StoneX.

Condições algodão dos EUA – % Bom e Excelente

Fontes: USDA. Elaboração: StoneX.

A situação é mais grave no Texas, responsável por cerca de 40% da produção doméstica. A região do Panhandle, localizada no noroeste do estado, é onde se concentra a produção de algodão e vem registrando baixíssimos níveis de chuva desde abril; com isso, o nível de algodão em condições boas é de apenas 14%, e 0% sendo avaliado como excelente. Dessa maneira, de acordo com o USDA, estima-se que o estado produza 638 mil toneladas em 22/23, valor 62% menor do que aquele registrado em 21/22 (1,6 milhão de toneladas).

Nos demais estados produtores, a quebra de safra não será tão expressiva como no Texas. Mesmo aqueles em que se prevê um crescimento da produção, não é um valor significativamente relevante para amenizar as perdas texanas.

Os Estados Unidos costumam ter altas taxas de abandono na cultura do algodão, especialmente no Texas. O seguro de safra acaba sendo uma alternativa para os agricultores que não consideram viável dar continuidade para o trabalho nas lavouras, abandonando parte da produção. Em anos de maiores adversidades climáticas, como seca, alagamentos e tornados, a taxa de abandono tende a crescer, como foi o caso de 2011 com um índice de 62%, por exemplo. Os demais estados produtores, por sua vez, não têm um histórico tão expressivo de taxa de abandono.

Taxa de abandono (%) nos principais estados produtores

Fontes: USDA, Elaboração: StoneX.

No entanto, o valor estimado para 2022 se tornou um dos maiores da história, com quase 69% dos campos de algodão sendo deixados no Texas, elevando a média nacional para 43%. Em 2021, esses indicadores ficaram em torno de 13% para o estado e apenas 8% para o país.

Dessa maneira, as perdas relacionadas à seca e as taxas de abandono mais que descompensam a expansão da área de cultivo de algodão nos Estados Unidos. A extensão das terras para a cotonicultura vinha decaindo desde 2018, mas o expressivo desempenho da pluma ao longo do ciclo 21/22, no qual se teve um aumento de 42% nos preços, tornou a commodity mais atrativa para os produtores. Logo, em 2022, a área de cultivo de algodão se estendeu para 5,05 milhões de hectares, valor 11% maior em relação ao ano passado. No entanto, as expectativas do USDA é de que apenas 2,88 milhões de hectares sejam colhidos.

Evolução área plantada de algodão Estados Unidos (milhões de hectares)

Fontes: USDA, Elaboração: StoneX.

Após um excelente ciclo para a pluma em 21/22, a perspectiva de uma estagflação global têm pressionado a demanda por derivados do algodão. Com uma renda disponível menor, as famílias buscam direcionar os gastos com bens considerados essenciais, como alimentação, moradia e energia, enquanto produtos de segunda necessidade ou de luxo, como artigos têxteis, tem seu consumo adiado.

Dessa maneira, a expectativa de demanda nos principais países consumidores da pluma vinha se deteriorando desde meados de maio. Em agosto, o USDA considerava que o consumo global ficaria em torno de 25,9 milhões de toneladas em 2022/23, valor ligeiramente menor do que aquele registrado em 2021/22 e com margem para maiores deduções, conforme maiores ajustes recessivos são anunciados pelos Bancos Centrais.

Apesar da possível queda no consumo, o balanço de oferta global também tem se deteriorado, e as projeções apontam que, em 2022/23, a produção continuará sendo insuficiente para atender a demanda. Dessa forma, com os Estados Unidos tendo uma safra menor e diminuindo suas exportações para 2,6 milhões de toneladas, abre-se o caminho para outros países exportadores da pluma aumentarem seu market-share global.

Crescimento do PIB global (%) vs. consumo global de algodão (milhões de toneladas)

Fontes: : Banco Mundial e USDA Elaboração: StoneX. *Estimativa USDA. ** Dentro do ano safra do USDA

Entre eles, Brasil e Austrália devem ganhar maior destaque ao longo do ciclo, sendo responsáveis por 21% e 14% das exportações, respectivamente. Do Brasil, espera-se que o volume comercializado aumente 20% entre as duas safras, passando para 2 milhões de toneladas; a Austrália, por sua vez, deve exportar 1,3 milhão de tonelada (+60%).

Exportações algodão – quatro maiores exportadores (milhões de toneladas)

Fontes: : USDA Elaboração: StoneX. *Estimativa USDA.

Isabela Garcia

Estudante de Economia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Possui experiência em pesquisa e trabalha na divisão de Inteligência de Mercado da StoneX do Brasil com foco em Energia.
Este texto teve a colaboração de João Lopes

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