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Isabela Garcia

Estudante de Economia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Possui experiência em pesquisa e trabalha na divisão de Inteligência de Mercado da StoneX do Brasil com foco em Energia.
Este texto teve a colaboração de João Lopes.

Retrospectiva do primeiro semestre do algodão em 2022

Após atingir cotações em patamares históricos, algodão sofreu com a reversão de expectativas

Na primeira metade de 2022, o mercado de algodão passou por grandes mudanças, com revisões de fundamentos e tendências, o que culminou na inflexão da trajetória de preços da pluma. Os contratos futuros, que estavam nos patamares mais altos desde 2011, sofreram uma intensa reversão a partir de junho, levando-os a sucessivas quedas que romperam pontos de suporte. Em seu momento mais enfraquecido do ano, a fibra natural estava precificada em US¢ 83,71/lp, e, apesar de ter conseguido recuperar parte de seu valor, o dezembro/22 ainda encontra obstáculos para romper a barreira dos US¢100/lp.

Evolução preços algodão (US¢/lp)

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Fonte: ICE. Elaboração: StoneX.

O algodão começou o ano em alta, continuando a trajetória que vinha prevalecendo desde meados de 2020, e, a partir de abril, o contrato de julho/22 chegou a US¢158,02/lp. Esse resultado derivou basicamente de dois fatores. O primeiro deles era o descompasso entre oferta e demanda: com os estímulos e transferência de renda dos governos, o consumo de derivados têxteis voltou a crescer após o soluço em 2020, no início da pandemia. Contudo, a oferta não conseguiu acompanhar essa retomada, o que ajudou a sustentar os preços nos últimos anos. O segundo fator, e mais predominante, foi a massiva entrada de agentes especulativos – especialmente fundos. Diante da valorização expressiva da pluma, esse grupo de investidores passou a enxergar o algodão com um investimento atrativo, especialmente por conta da dinâmica das Posições On-Call.

Balanço de oferta e demanda global (em milhões de toneladas)

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Fonte: USDA. *Estimativa USDA, julho/22.

Resumidamente, no mercado físico, uma das opções para as fiadoras adquirirem algodão das tradings é utilizando uma modalidade conhecida como Vendas On-Call, que são contratos de algodão físico em que o preço está “a fixar”. Quando as duas partes chegam a um acordo, um contrato futuro normalmente é vendido para fazer o hedge da operação. Até o vencimento do contrato utilizado, as fiadoras precisam fixar o preço, e quando isso ocorre, a posição vendida aberta no início do acordo é comprada de volta, liquidando o hedge. Desse modo, um maior número de Vendas On-Call está ligado à uma maior demanda pelos futuros da pluma. Os especuladores também podem se aproveitar de um volume alto de Vendas On Call para antecipar compras no mercado futuro, uma vez que os preços deverão ser fixados e a posição vendida aberta no início do acordo deverá ser comprada de volta em um momento posterior, dando suporte às cotações.

Existem também as “Compras On-Call”, que também são contratos de algodão físico em que o preço está “a fixar”. Neste modelo, geralmente as tradings estabelecem um acordo de compra junto a um produtor/cooperativa com preço a fixar, e quando esse produtor/cooperativa fixa o preço, a posição comprada aberta no início do acordo é vendida, liquidando o hedge. Um maior número de Compras On-Call indica uma maior oferta dos futuros. Nesse tipo de operação, normalmente a trading está na ponta compradora do mercado físico, enquanto o produtor/cooperativa está na ponta vendedora. Os especuladores também podem se aproveitar de um volume alto de Compras On Call para antecipar as vendas no mercado futuro, uma vez que os preços deverão ser fixados e a posição comprada aberta no início do acordo deverá ser vendida de volta em um momento posterior, pressionando as cotações.

Durante o ciclo 21/22, houve um aumento de Vendas On-Call, o que chamou a atenção dos fundos. As fiadoras adotaram uma estratégia que se posteriormente se mostrou não ser a mais adequada. Diante do constante aumento das cotações da pluma, esperavam um momento de queda para fixar suas posições, mas isso não ocorreu, restando poucas sessões para comprarem os contratos que estavam comprometidas, dado a proximidade do vencimento. Assim, uma pressão de compra se instalou em um mercado menos líquido, o que proporcionou lucros grandes aos agentes especulativos, que revenderam as posições a preços muito acima do que adquiriram.

Dessa maneira, contrato após contrato, os preços do algodão continuaram a crescer, encontrando suporte na dinâmica das posições On-Call. Assim, durante esse período, a participação dos fundos que entraram comprados no mercado (long positions) ficou muito acima da média, aumentando a influência desses agentes na dinâmica do algodão.

A trajetória de alta, no entanto, encontrou limites a partir de maio. Em primeiro lugar, as precificações estavam em patamares muito elevados, e que poderiam causar uma destruição de demanda. Os custos de produção do setor têxtil decorrentes do aumento dos preços do algodão estavam contraindo a margem de lucro da indústria, uma vez que as empresas não eram capazes de repassar completamente esse aumento nos gastos para o consumidor. Isso já sinalizava uma possível substituição do algodão para fibras sintéticas, que estavam muito mais baratas que a pluma. Além disso, uma possível estagnação da economia global já estava se desenhando no período. O avanço da inflação, lockdowns na China e o conflito entre Rússia e Ucrânia poderiam frear o consumo de derivados da pluma, uma vez que esses bens são mais sensíveis à renda – ou seja, as famílias priorizariam a compra de produtos essenciais como alimentos ao invés de gastar com roupas quando o orçamento é reduzido.

Dessa forma, a trajetória de preços do contrato contínuo não era condizente com a realidade que estava se formando. As altas cotações acabaram sendo artificialmente elevadas por meio do fator especulativo, potencializado pela dinâmica das posições On-Call. Mesmo problemas de oferta, especialmente relacionados à seca que atingiu o Cotton Belt norte-americano, não explicariam sozinhos o valor que os contratos assumiram entre abril e maio desse ano.

A “bolha” que havia se formado então começou a apresentar sinais de que não iria mais conseguir se sustentar. Em meados de junho, o spread entre o julho/22 e o dezembro/22 chegou a ser maior que US¢20, muito acima da média para a commodity. Logo, quando o N22 venceu e perdeu liquidez, os preços do próximo contrato já estavam muito abaixo.

Histórico do spread entre CTC1 e CTC2 (2020-2022)*
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Fonte: ICE. *Até 28 de julho. Elaboração StoneX.
A trajetória de queda das cotações dos contratos já estava em curso quando o mercado de algodão sofreu uma segunda onda baixista. O avanço da inflação nos Estados Unidos e a consequente política contracionista que o FED iria promover para evitar a escalada de preços abalou diversos ativos do mercado financeiro.
Investidores de commodities agrícolas começaram a migrar para ativos considerados mais seguros, e o algodão não foi poupado. Assim, um movimento de vendas de contratos acabou pressionando as cotações da pluma, que passaram de US¢143/lp para US¢104 em apenas 10 sessões. A saída dos especuladores acabava reforçando o sentimento baixista do mercado ao pressionar ainda mais as cotações, fomentando novas pressões de venda. Esse ciclo reverteu todos os ganhos do algodão do ano, e levaram os preços para valores observados em 2021.
Posição Líquida dos Fundos – Algodão (Managed Money)
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Fontes: CFTC. Elaboração StoneX.
Dessa forma, o algodão atingiu dois extremos na primeira metade de 2022. Logo após alcançar preços próximos das máximas históricas, passou por uma intensa queda – ambos os movimentos estimulados por fatores especulativos. Apesar da baixa ser antecipada diante da insustentabilidade dos preços, o ritmo em que isso ocorreu e o ponto mínimo que alcançou não poderiam ser resultado apenas dos fundamentos tradicionais de oferta e demanda. Agora, o mercado da pluma encontra outro problema: os patamares abaixo da marca dos US¢90/lp também podem ser complexos de serem mantidos.
Isso decorre das consequências que isso teria para o agricultor, uma vez que os custos de produção da pluma são altos, e não pararam de crescer durante 2022, especialmente aqueles relacionados a energia e fertilizantes/pesticidas. Logo, as margens de lucros desses agentes estariam cada vez menores. Além disso, o problema da seca do Cotton Belt norte-americano continua, agora somado às altas temperaturas no verão que vêm aumentando o estresse hídrico das culturas e devem contribuir para maiores taxas de abandono. Desde maio, o WASDE vem revisando a produção dos EUA, maior exportador de algodão, e acredita-se que o país possa ofertar menos de 5 milhões de toneladas, pior resultado desde a safra 2019/20.
Não é possível, por hora, afirmar que o mercado se livrou do peso especulativo, mesmo que a saída de fundos tenha evitado maior volatilidade nas últimas sessões. O número de posições On-Call continua acima da média, o que pode atrair de volta esses investidores conforme o cenário macroeconômico internacional se estabilize. Por hora, o agravamento das lavouras nos EUA e outras adversidades climáticas em importantes países produtores devem oferecer suporte para as cotações. Além disso, mesmo que a demanda caia por consequência da estagflação global, é possível que a queda na produção compense parcialmente o consumo e amenize o efeito dele no médio prazo.

Isabela Garcia

Estudante de Economia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Possui experiência em pesquisa e trabalha na divisão de Inteligência de Mercado da StoneX do Brasil com foco em Energia.
Este texto teve a colaboração de João Lopes

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