Futuros do cacau oscilam, porém mantêm patamar de preço

Após iniciarem a semana apresentando um acentuado movimento de baixa, os contratos de cacau fecharam o período relativamente estáveis. Em Nova York (ICE), a tela de março/19 encerrou o pregão de sexta-feira a USD 2.183/t, caracterizando uma variação positiva de 0,3%. Em Londres (ICE Europe), o contrato equivalente verificou incremento de 0,8% – atingindo GBP 1.630/t no final da semana.

Depois de testemunharem uma vigorosa alta dos derivativos do cacau na semana anterior, as bolsas de valores observaram um movimento mais contido nos contratos da commodity essa semana. A divulgação dos dados confirmando a expansão do processamento no terceiro trimestre na Europa, Ásia e Estados Unidos forneceu um leve suporte às cotações, mas o mercado mais comedido reflete a espera dos agentes por informações mais confiáveis acerca do balanço entre oferta e demanda globais de cacau para a safra 2018/19.

Ainda, segundo o relatório do CFTC publicado na última sexta-feira, os fundos especulativos reforçaram a sua posição vendida em contratos de cacau na ICE durante a semana em um total de 7.222 lotes, reafirmando sua perspectiva bearish para o cacau.

Processamento de cacau verifica aumento na América do Norte e Ásia

A National Confectioners Association (NCA) publicou na semana passada os dados referentes ao esmagamento de cacau na América do Norte durante o terceiro trimestre de 2018. Os números demonstram um sutil aumento em relação ao ano passado, contrariando a expectativa de retração esperada por parte do mercado.

Entre os meses de julho e setembro, Estados Unidos, Canadá e México processaram em conjunto um total de 128.494 toneladas de amêndoas, ante 125.323 t no terceiro trimestre de 2017—o que equivale a um incremento de 2,5%.

Na Ásia, a Cocoa Association of Asia (CAA) reportou o esmagamento de 196.418 toneladas de cacau no terceiro trimestre na região, que compreende as atividades na Indonésia, Malásia e Cingapura. O montante observado corresponde a uma expansão de 3,7% em relação ao ano passado.

Tais resultados acompanham o crescimento de 2,7% nas moagens na Europa reportadas pela European Cocoa Association (ECA) na semana passada, reforçando as perspectivas de incremento da demanda para a safra 2018/19 que deverá fornecer suporte às cotações do cacau nos próximos meses no mercado internacional.

 Ratio da manteiga verifica movimento divergente da sua sazonalidade

Durante os últimos meses, o ratio da manteiga vem apresentando uma tendência oposta à sua sazonalidade típica, verificando uma contração acentuada em agosto e setembro. As cifras observadas nos primeiros meses do ano – em torno de 2,95 – mostraram-se muito acima do patamar médio de 2,3 para o período , e o movimento descendente averiguado recentemente destoa da apreciação que comumente é apresentada na segunda metade do ano.

O ratio da manteiga nada mais é que a razão do seu preço com o da amêndoa e está vinculado, principalmente, ao balanço entre oferta e demanda dos produtos secundários do cacau – a pasta (liquor), o pó e a própria manteiga. Os elevados valores do ratio da manteiga observados no início do ano podem ser justificados, em grande parte, pelo fato de que havia uma limitação de oferta do produto no período – acontecimento que foi compensado recentemente com o incremento do nível de processamentos, explicando o movimento descendente dos últimos meses.

Ademais, é constatado que há uma dinâmica espelhada entre os ratios de manteiga e de pó de cacau: quando um deles apresenta valorização o outro tende a depreciar, e vice-versa. Ainda, nota-se que a demanda por manteiga é liderada sobretudo pela Europa, enquanto a demanda por pó de cacau é concentrada nos Estados Unidos. Dessa maneira, o movimento corretivo no ratio da manteiga averiguado recentemente foi motivado, também, por um crescimento econômico acelerado dos EUA em relação à União Europeia aliado a uma apreciação do dólar – fatores que contribuem para um aumento da demanda por pó de cacau e encarecimento da manteiga para consumidores europeus, que fez o consumo retrair no continente.

Perspectivas

Tendo em vista os próximos meses, a tendência é que a expansão da economia americana relativamente superior ao crescimento da União Europeia – de acordo com o FMI, o PIB dos EUA aumentará 2,5% em 2019 ao passo que o bloco europeu expandirá 2,0% – contribua por uma maior exigência por pó de cacau, mantendo a tendência declinante no ratio da manteiga. Esse fato deve ser impulsionado, ainda, por uma valorização do dólar ocasionada pela política monetária contracionista dos EUA.

Portanto, espera-se que, a despeito do comportamento não usual testemunhado no ano até então, o ratio da manteiga de cacau mantenha o movimento corretivo e aproxime-se de seus valores médios históricos dadas as condições de mercado atuais.

Update climático

O ritmo das chuvas na África Ocidental apresentou redução nas últimas duas semanas, permitindo uma aceleração da colheita na Costa do Marfim e em Gana. Durante as três primeiras semanas de outubro foram recebidas 165.000 toneladas de cacau nos portos marfinenses, volume  46% superior ao observado no mesmo período do ano passado.  Ademais, a retração da precipitação prevista para as próximas semanas deverá melhorar as condições de umidade para a etapa de secagem das amêndoas, amenizando o risco de proliferação de doenças.

No Brasil, por outro lado, a escassez de chuvas nas principais regiões produtoras vem prejudicando as entregas. O clima mais seco observado desde o último mês promoveu uma queda nos recebimentos e causa preocupação em relação à safra principal e para o próximo Temporão. Na última semana, as entregas na Bahia foram 36,9% menores do que no mesmo período do ano passado—totalizando 2.077,4 toneladas. Nos demais estados, a retração foi de 17,1%.

 

Matéria escrita por Lucas Pereira, colaborador StoneX até agosto de 2019.

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