Cacau registra valorização na semana, influenciado por fatores macroeconômicos

maior apetite por risco nos mercados globais favorece as cotações de cacau na semana

(Relatório semanal de 16/08/2022) Impulsionado por um sentimento de otimismo do mercado com o cenário macroeconômico, forte ganho do euro, e avanço significativo da moagem na Costa do Marfim, o cacau se valorizou na maior parte da última semana em suas principais bolsas de negociação. Depois de acumular ganhos de 4,1% até a quinta-feira (11), na sexta-feira (12), foi observada uma quebra deste movimento de alta, quando a amêndoa marcou uma queda diária de 1,8% em Nova Iorque, finalizando o dia cotada a U$ 2,394/ton, evidenciando um possível movimento de realização de lucros por parte dos agentes em função das altas registrados nos pregões anteriores. Todavia, a correção não foi capaz de eliminar os ganhos da semana, que fechou com valorização de 2,3% frente a sexta-feira anterior.

Em Londres, o cacau demonstrou movimento parecido com o da amêndoa cotada em Nova Iorque, entretanto, com menores flutuações nos preções durante a semana. O contrato mais ativo no terminal europeu encerrou cotado a GBP 1.796/ton, valorização semanal de 1,4%.

Intraday Semanal (contrato mais ativo) – 08/08 a 12/08

 

Fonte: CommodityNetwork Traders’ Pro. Elaboração: StoneX.

 

Analisando a visão do mercado sobre o cenário macroeconômico, que tem tido grande influência sobre o cacau, alguns indicadores econômicos foram especialmente importantes para as oscilações dos preços na última semana. Nesse sentido, um dos principais drivers do otimismo do mercado foi a divulgação de números abaixo do esperado de inflação na economia norte-americana. Para os agentes, o possível arrefecimento das pressões inflacionárias na principal economia mundial tende a sinalizar um menor risco de aumento de juros e, dessa forma, uma maior atratividade dos ativos de risco na economia real, o que motivou uma alta especulativa na maioria das commodities.

Diante do cenário exposto, a redução inflacionária ocorreu principalmente em função da queda mensal de 7,7% no preço da gasolina e de 11,0% nos valores do diesel, o que compensou, em grande parte, aumentos na alimentação e habitação. Deste modo, o indicador americano acumulado em 12 meses recuou de 9,1% no mês anterior para 8,5%, ficando abaixo dos 8,7% de aumento esperado pelos agentes. Além disso, na última quinta-feira (11), o Índice de Preços ao Produtor (PPI) também revelou estabilidade, com o acumulado nos últimos 12 meses retraindo de 11,3% em junho para 9,8%, o que também ficou abaixo das expectativas, já que os agentes aguardavam um indicador mais próximo dos 10,4% acumulado nos últimos 12 meses.

Outro fator de atenção para o mercado tem sido os aumentos nos valores dos fertilizantes no oeste Africano, principal região mundial produtora de cacau que também tem sido sujeita a altos níveis de inflação, o que vem afetando o poder de compra dos produtores. O forte aumento no preço dos fertilizantes impacta, principalmente, pequenos produtores em Gana, onde a inflação acumulada supera os 33% nos últimos 12 meses e há maior necessidade de cuidados do solo menos fértil que na Costa do Marfim, com cacaueiros mais velhos que também demandam maior fertilização.

Nesse cenário, o aumento brusco nos preços dos fertilizantes NPK (nitrogênio, fósforo e potássio) em comparação à última safra, ameaça a produtividade da temporada, podendo atuar como um fundamento altista para os preços. Contudo, relatos de chuva acima da média no oeste africano tem animado expectativas para a safra em grande parte da Costa do Marfim, fundamentando um certo otimismo para o lado da oferta.

Apesar de otimismo para a oferta, participantes do mercado projetam preços mais altos para o final do ano

Uma pesquisa realizada pela agência Reuters na última sexta-feira (12) com participantes do mercado do cacau apontou para uma expectativa dos agentes de aumento nos preços da amêndoa até o final do ano. Os participantes consultados apontaram para um aumento de até USD 200 (cerca de 8,0%) nas cotações do cacau em Nova Iorque, fechando 2022 a USD 2.600/ton. Para Londres, as apostas são de término do ano a GBP 1.957/ton, avançando 2,5% nos próximos meses. Nota-se que as projeções de melhora nos preços ocorrem a despeito das apostas em um maior balanceamento no saldo de oferta e demanda para o ciclo 2022/23.

Diante da visão exposta, a pesquisa demonstra a presença de agentes no mercado que esperam uma maior produção do fruto do cacaueiro, principalmente em função de um clima majoritariamente favorável na etapa de desenvolvimento das árvores no oeste africano. Apesar disso, para esses agentes, a recuperação do cacau até o final deste ano é motivada principalmente por fatores macroeconômicos. Vale ressaltar que essa perspectiva é altamente dependente dos rumos que deve tomar a economia global até o final do ano, e o cancelamento ou não da narrativa de recessão mundial que tem alarmado o mercado nos últimos meses. Além disso, também foi apontada a elevada posição liquidamente vendida dos fundos especulativos, que pode desencadear um forte movimento de compra em caso de novidades altistas nos fundamentos do mercado, como problemas na produção africana ou dados de moagem acima do esperado.

Moagem de cacau recua em julho no Brasil

Na última semana, a Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC) divulgou que foram esmagadas 19.883 toneladas de amêndoas de cacau no país em julho. O volume é 0,8% inferior às 20.042 toneladas processadas no mesmo mês em 2021, e fica 1,4% abaixo da média de 20.169 toneladas dos últimos três anos. Desta maneira, o acumulado dos sete primeiros meses do ano chegou a 125.966 toneladas, 3,8% abaixo das 130.914 esmagadas no mesmo período do ano passado.

Processamento mensal de cacau no Brasil (mil t)

Fonte: AIPC, Elaboração: StoneX.

Vale destacar que o acumulado significativamente abaixo ainda sofre com o resultado fora do comum em abril, quando devido à paralização das atividades em uma planta de uma das grandes esmagadoras do país, os resultados do mês ficaram mais de 20% abaixo da média dos últimos anos. De qualquer maneira, os resultados de 2022 como um todo apontam para uma demanda que ainda tem enfrentado dificuldades em retomar níveis pré-pandemia.

Com pouco mais de três meses da temporada 2022/23 completada, o volume total de entregas de amêndoas às processadoras também segue abaixo do último ano-safra. Desde o início de maio, quando começou a safra temporã, até a última semana, o país acumula 90,2 mil toneladas de cacau entregues, 6,2% abaixo das 96,2 mil verificadas no momento do ano passado. Boa parte deste resultado é devido ao desempenho aquém do esperado para o cacau baiano, que segue com ritmo de entregas semanais inferior ao ano passado. Até a última semana, a Bahia contabilizou 57,8 mil toneladas de amêndoas, 15,6% a menos que as 68,5 mil verificadas no mesmo período do ano-safra anterior. Já o Pará tem compensado parcialmente de maneira positiva, com as 29,2 mil toneladas registradas até o momento ficando 12,8% acima das 25,9 mil do ano passado. Todavia, vale destacar que todas as principais regiões produtoras perderam ritmo de entregas em julho no comparativo com o mesmo mês do ano anterior e no comparativo da primeira semana de agosto, o que gera preocupação com uma queda do ritmo antes do esperado. Por outro lado, apesar de levemente abaixo do último ano, a atual safra segue com resultados melhores que o verificado nas temporadas de 2019/20 e 2020/21.

Sazonalidade das entregas semanais de cacau no Brasil (ton)

Fonte: AIPC, Elaboração: StoneX.

Já olhando para o ano calendário de 2022, o volume acumulado nos 7 primeiros meses do ano foi de 131 mil toneladas, 11,6% acima das 117 mil toneladas no mesmo intervalo de 2021. O volume acumulado do Pará se destaca neste período, com as 44,7 mil toneladas registradas até o momento ficando 43% acima das 31,3 mil no ano passado. Enquanto isso, na Bahia, as entregas mais fracas dos últimos três meses levaram o estado a sair do resultado positivo no comparativo anual para ficar 1,9% abaixo do visto no ano passado, totalizando 81 mil toneladas contra 82,6 mil em 2021.

Considerando o total produzido, esmagado, importado e exportado neste ano, as projeções dos estoques no Brasil se elevaram, com a relação estoque-esmagamento crescendo para 78,8% e ficando em seu maior nível verificado nos últimos anos. Esta relação mais elevada apontar para uma condição de oferta mais confortável, o que pode contribuir para manter os preços mais pressionados.

Estoque de cacau no Brasil (mil ton) e relação estoque/Esmagamento

Fonte: Cacauth, StoneX, AIPC, MDIC, Cacauth. Elaboração: StoneX.

Acompanhamento da safra 2021/22 – Oeste Africano

Na última segunda-feira (15), foi informado pela Associação dos Exportadores de cacau da Costa do Marfim (GEPEX, na sigla em francês) que, na semana encerrada no dia 14 de agosto, 9 mil toneladas de amêndoas foram entregues em portos marfinenses, 43,8% abaixo das 16 mil entregues na semana equivalente do último ano. No acumulado do ano-safra corrente (iniciado em outubro/21), o país contabiliza 2,034 milhões de toneladas entregues, 3,9% ao último ano.

Depois de um período de mais de 15 dias de precipitações reduzidas no Oeste Africano, que haviam elevado as preocupações com o desenvolvimento da próxima safra, a última semana voltou a apresentar volumes satisfatórios de chuvas. As precipitações registradas devem ajudar tanto Costa do Marfim quanto Gana a manterem boa quantidade de estoque de água no solo. O clima no mês de setembro também será crucial para a temporada 2022/23, quando uma abundância de chuvas e raios solares regulares serão fundamentais para que a próxima safra corresponda às expectativas do mercado, que projeta produção maior em ambos os países em relação a 2021/22.

Entregas semanais de cacau na Costa do Marfim (mil toneladas)

Fonte: GEPEX. Elaboração: StoneX.

Tabela de indicadores

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