AÇÚCAR & ETANOL
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Fernando Maximiliano

Engenheiro Agrônomo formado pelo Instituto Federal do Espírito Santo. Participante do Brazilian Scientific Mobility Program (BSMP) na Oregon State University, Estados Unidos. Possui experiência em pesquisa e análise de mercado. Trabalha na divisão de Inteligência de Mercado da StoneX do Brasil com foco em Café.
Este texto teve a colaboração de Leonardo Rossetti.

Florada do café segue em risco com La Niña pelo terceiro ano consecutivo

Florada do café segue em risco com La Niña pelo terceiro ano consecutivo

Após a safra recorde de 2020, a cafeicultura brasileira enfrentou uma sequência de desafios, o que resultou em grandes perdas na produção e contribuiu para que os preços atingissem em 2022 os maiores patamares em 10 anos. Além da geada, que provocou grandes perdas em 2021, a ocorrência do La Niña provocou o atraso das chuvas durante a florada do café de 2020 e 2021, e um clima seco que acentuou as perdas na produção em 2022. O fenômeno climático, que é basicamente o resfriamento das águas de uma região do oceano pacífico, está associado, principalmente, a um clima seco no sul do país e ao atraso das chuvas no cinturão cafeeiro no segundo semestre do ano.

Histórico de ocorrência de El Niño/La Niña e projeções para os próximos meses

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Fonte: IRI/CPC. Elaboração: StoneX. *Média das projeções dinâmicas e estáticas.

Com a colheita da safra 2022/23 quase finalizada, as atenções se voltam para o desenvolvimento da safra 2023, que, em condições climáticas adequadas, deveria refletir a recuperação das lavouras sofreram com a geada e o clima adverso em 2021. Tendo em vista que parte das lavouras impactadas pelos fenômenos climáticos foram podadas ou renovadas, foi construída uma expectativa que a produção em 2023 poderia ser grande ou até mesmo ultrapassar o volume colhido em 2020. Claro que ainda é muito cedo para estimar a safra 2023/24, e deixando claro que esta NÃO é uma estimativa StoneX, mas houve rumores de participantes que estariam projetando uma safra de 70 milhões de sacas ou maior.

Mas antes que estas expectativas se tornem realidade, as lavouras brasileiras de café ainda precisam passar pela florada, período que é crucial e pode definir o potencial para 2023. Qualquer que seja o problema neste estágio, a produção brasileira ficaria comprometida, assim como foi visto nos 2 anos anteriores.

O SUCESSO DA FLORADA DO CAFÉ DEPENDE DA UNIFORMIDADE DAS CHUVAS

Antes de analisar o cenário da florada no Brasil, é importante relembrar os estágios do processo. Para este relatório, nos concentraremos apenas no desenvolvimento e na abertura da florada a partir do ciclo bienal da planta de café. O crescimento do botão floral do café se intensifica de fevereiro a agosto, quando o comprimento dos dias começa a diminuir, chegando a menos de 13 horas de luz solar efetiva. O processo de florada pode ser separado em quatro fases distintas, com um certo grau de sobreposição entre elas: (fase 1) iniciação do botão floral; (fase 2) diferenciação e desenvolvimento do botão floral; (fase 3) dormência do botão floral; e (fase 4 e 5) abertura da flor.

Fases de desenvolvimento do botão floral do café

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Fonte: Camayo&Arcila, 1996. Elaboração: StoneX.

Os botões florais do café vão do estágio 1 ao estágio 3 entre fevereiro e agosto, quando se inicia a dormência. Enquanto em dormência, os botões florais são menos suscetíveis a danos causados por seca e temperaturas altas. A fase de abertura da flor se inicia quando a planta enfrenta um aumento do potencial de água do solo, que é basicamente a disponibilidade de água no solo (ocorrerá após uma chuva ou irrigação), mas os botões continuarão dormentes se o clima estiver seco. Uma vez que os botões florais começam seu processo de abertura, após um aumento inicial do potencial de água do solo, ele não pode ser parado e a flor se abrirá. Uma vez abertas, as flores de café se tornam muito suscetíveis a danos causados por seca e temperaturas altas.

MANUTENÇÃO DO LA NIÑA PODE REPLICAR O CENÁRIO DA FLORADA DOS ÚLTIMOS
2 ANOS

Antes de mais nada, precisamos entender que estamos lidando com o clima, um dos fatores mais imprevisíveis que podem afetar o café. Até mesmo os modelos de previsão climática têm um alto nível de incerteza. Para se ter ideia, previsões de clima com prazo maior que 48 horas são considerados previsões de longo prazo e tem um alto grau de incerteza.

Em 2022, de forma similar aos dois últimos anos, as condições do pacífico são de La Niña e as projeções probabilísticas do NOAA (Administração Nacional Oceânica Atmosférica dos Estados Unidos), agência climática americana, indicam que o fenômeno deve persistir durante todo o segundo semestre, com probabilidade acima de 90% para o trimestre SON (setembro, outubro e novembro) e probabilidade acima de 80% até o trimestre NDJ (novembro, dezembro e janeiro).

Previsão probabilística de El Niño/La Niña

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Fonte: IRI/CPC/NOAA. Elaboração: StoneX.

Parte das lavouras de café em 2022, apesar de estarem se recuperando do clima de 2021, enfrentaram alguns meses com o clima desfavorável em 2022. Conforme os mapas de anomalia de chuva, que compara o volume observado com a média história para a região, os meses de fevereiro e maio tiveram volumes de chuva acima da média em grande parte do cinturão. Porém, no restante dos meses – março, abril, junho, julho e agosto – a maior parte do cinturão cafeeiro viu volumes bem abaixo da média histórica. Em meados de agosto, alguns municípios da região sul de Minas receberam volumes de até 36 mm, o que resultou na abertura de uma pequena florada, mas a florada principal ainda está por vir.

Precipitação em 2022 em relação à média dos últimos 20 anos no Brasil

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Fonte: StoneX.

A partir de setembro, a florada do café poderia ser impactada pelo clima de duas formas: o atraso prolongado da chuva ou um regime desuniforme das chuvas, associado a um clima quente e seco. O atraso por si só já é um problema, tendo em vista que as lavouras estão enfrentando um clima seco há meses. Já um regime desuniforme de chuvas, intercalado por períodos secos e quentes, coloca em xeque as floradas que eventualmente podem abrir com as chuvas – como foi comentado acima, uma vez quebrada a dormência, o processo de florada segue independentemente das condições climáticas.

As inconsistências climáticas já começaram e devem continuar impactando o mercado nos próximos meses. Veja o que aconteceu há algumas semanas: em meados de agosto, em meio às previsões de um clima seco para as regiões produtoras, o relatório de clima da StoneX, que usa os dados do modelo de previsão GFS, do NOAA – modelo reconhecido mundialmente e usado por várias agências climáticas – , começou indicar a possibilidade da chegada das chuvas em parte do cinturão a partir do dia 07/09. No entanto, com a aproximação da data, o modelo mudou a previsão, passando a indicar volumes insuficientes de chuva para o período em questão.

Considerando cenários, no caso do retorno adequado das chuvas, cresceria a percepção que a próxima safra seria grande, gerando sentimento baixista no mercado. Caso contrário, qualquer adversidade climática, como as provocadas pelo La Niña nas floradas dos últimos dois anos, poderia trazer novos impactos e frustrar as expectativas para a produção em 23. Uma confirmação deste cenário contribuiria para que as cotações se mantenham próximas dos patamares historicamente altos registrados em 2022, com potencial de que, a depender da intensidade do impacto, avancem para níveis até maiores. Enquanto não é possível ter certeza com relação à chuva e à florada, podemos esperar que o mercado de clima domine as movimentações e traga volatilidade aos preços de café.

Fernando Maximiliano

Engenheiro Agrônomo formado pelo Instituto Federal do Espírito Santo. Participante do Brazilian Scientific Mobility Program (BSMP) na Oregon State University, Estados Unidos. Possui experiência em pesquisa e análise de mercado. Trabalha na divisão de Inteligência de Mercado da StoneX do Brasil com foco em Café.
Este texto teve a colaboração de Leonardo Rossetti

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