AÇÚCAR & ETANOL
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Fernando Maximiliano

Engenheiro Agrônomo formado pelo Instituto Federal do Espírito Santo. Participante do Brazilian Scientific Mobility Program (BSMP) na Oregon State University, Estados Unidos. Possui experiência em pesquisa e análise de mercado. Trabalha na divisão de Inteligência de Mercado da StoneX do Brasil com foco em Café.
Este texto teve a colaboração de Leonardo Rossetti e Glenio Caetano.

Giro de Safra do Café e Estimativas 2022/23

Na condução do giro de safra do café, em novembro de 2021, a equipe visitou regiões produtoras de Robusta, visitando lavouras de café em Rondônia, Sul da Bahia e Espírito Santo. Na segunda metade da viagem, em janeiro de 2022, foram visitadas áreas de café Arábica no Cerrado, Sul de Minas, Mogiana e Matas de Minas.

As fazendas, ou amostras, foram selecionadas aleatoriamente nas regiões. Em termos de geolocalização, os caminhos percorridos pelo veículo foram coletados e armazenados por um dispositivo GPS, bem como as coordenadas de cada amostra visitada. Estas amostras serão visitadas safra após safra para manter os dados históricos e a consistência do estudo.

Do ponto de vista agronômico, foram coletados dados referentes às condições de cultivo, como nível de estresse hídrico, umidade do solo, nível de ataque de pragas e doenças, espaçamento entre plantas e fileiras, volume médio estimado de fruto por pé de café e rendimento estimado após o processamento, para posterior cálculo da produtividade.

Além dos dados coletados no campo, foram consultadas empresas e cooperativas parceiras da StoneX nas regiões produtoras. A ajuda dos parceiros da StoneX foi crucial para a determinação da produção em regiões não visitadas.

PRECIPITAÇÃO EM RELAÇÃO À MÉDIA DOS ÚLTIMOS 20 ANOS NO BRASIL
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Fonte: StoneX.
SUL DA BAHIA (ROBUSTA)
De forma similar ao que foi observado em 2021, as áreas de café robusta na região apresentaram boas condições fitossanitárias, uma indicação de que o clima favoreceu o desenvolvimento das lavouras. Além do clima favorável, foi notado um nível adequado de manejo das plantas. Em termos de pragas e doenças, a equipe não encontrou áreas com altos níveis de ataque. A região Sul da Bahia enfrentou situações adversas com o excesso de chuvas, no entanto, sem impacto generalizado.

Para 2022/23, estima-se que a produção na região atinja uma produtividade média de 59 sacas por hectare, com uma produção total de 2,3 milhões de sacas, 1,7% abaixo da produção de 2021/22, que foi de 2,35 milhões de sacas.

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Fonte:  StoneX, com dados de NOAA/NCEP/EMC (GFS: Global Forecast System).
RONDÔNIA (ROBUSTA)

As lavouras de café robusta no estado apresentaram condições similares ao que foi observado na temporada anterior. A maioria das áreas de café visitadas nessa região apresentou uma boa condição técnica e um nível baixo de ataque de pragas e doenças.

Espera-se que a produção no estado atinja 2,8 milhões de sacas, 4,4% abaixo do ano anterior, com rendimento estimado em 43 sacas/ha.

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Fonte:  StoneX, com dados de NOAA/NCEP/EMC (GFS: Global Forecast System).
ESPÍRITO SANTO (ROBUSTA)

Devido ao clima favorável, as lavouras no Espírito Santo apresentaram uma condição agronômica adequada. Como pode ser observado nos mapas de anomalia de chuva, a região recebeu volumes acima da média durante vários meses de 2021, o que contribuiu para uma expectativa de aumento na produção no estado. Em termos de disponibilidade hídrica, os níveis de água nas barragens e reservatórios estavam normais, o que permitiria a irrigação no caso de um curto período de seca.

As estimativas da StoneX apontam para uma produção de 14,9 milhões de sacas no estado, 730 mil sacas (ou 5,2%) acima do ano anterior, com rendimento estimado em 61 sacas/ha.

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Fonte:  StoneX, com dados de NOAA/NCEP/EMC (GFS: Global Forecast System).

MATAS DE MINAS (ARÁBICA)

Destoando das outras regiões do estado mineiro, as Matas de Minas foram mais favorecidas pelo clima no início de 2021, em especial no mês de fevereiro, quando recebeu em sua maior parte volumes significativamente acima da média histórica. Mesmo também não sendo o ideal, um clima mais ameno em relação a outras áreas do estado garantiu uma condição mais satisfatória para as lavouras. No entanto, é importante destacar que algumas áreas apresentaram lavouras com produção abaixo do esperado e indicativos de impactos do clima mais seco, o que também acarretou alguma redução do potencial produtivo da região.

A produção do ano na região foi estimada em 7,2 milhões de sacas, avanço de 38,9% em relação à safra passada, com uma produtividade de aproximadamente 25 sacas por hectare.

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Considerando que em um ano de clima favorável e alta produtividade a produção das Matas de Minas poderia ser de um pouco menos que 8 milhões de sacas, o estimado neste ano fica 8,6% abaixo do seu potencial produtivo.

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Fonte:  StoneX, com dados de NOAA/NCEP/EMC (GFS: Global Forecast System).
INDICE DE SAÚDE DA VEGETAÇÃO*
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Fonte: NOAA. *Se os índices estiverem abaixo de 40, indicando diferentes níveis de estresse da vegetação, podem ser esperadas perdas de produção de culturas e pastagens; se os índices estiverem acima de 60 (condição favorável) pode-se esperar uma produção abundante.

CERRADO (ARÁBICA)

Assim como foi na região da mogiana e Sul de Minas, o cerrado mineiro foi umas das regiões que mais sofreram no ano de 2021. Analisando os mapas de anomalia de chuva, podemos observar que as chuvas estiveram abaixo da média na maior parte do ano, principalmente durante o primeiro semestre.

Apesar do retorno das chuvas em outubro, que registrou precipitações acima da média, o ritmo chuvoso não se manteve no nível e os volumes voltaram a ficar abaixo da média em novembro e dezembro de 2021.

O atraso da chegada das chuvas no segundo semestre do ano passado afetou a florada, o que foi notado pelo número reduzido de frutos nas rosetas. As lavouras irrigadas foram as que apresentaram melhores condições fito-técnicas, enquanto as lavouras de sequeiro apresentavam notáveis sinais do impacto do clima seco e, em algumas regiões, da geada que ocorreu em julho de 2021.

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Foi observado também, um número elevado de lavouras que foram submetidas ao esqueletamento ou recepa – na maioria dos casos, estas duas modalidades de poda foram usadas em lavouras que sofreram com a seca ou de forma parcial, pela geada. Como reflexo da geada, algumas lavouras foram totalmente eliminadas e se encontravam com o plantio de soja no momento das visitas.

Tendo em vista os aspectos citados acima, mesmo em um ano de bienalidade positiva, a produção do Cerrado foi estimada em 5 milhões de sacas, 7% maior do que na última temporada, com produtividade média de 24,5 sacas por hectare. É importante salientar que o potencial produtivo poderia ultrapassar 8 milhões de sacas em um cenário de clima favorável. Desta forma, estimasse que a produção no cerrado deverá ser 37,5% inferior ao seu potencial devido ao clima adverso.

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Fonte:  StoneX, com dados de NOAA/NCEP/EMC (GFS: Global Forecast System).

SUL DE MINAS (ARÁBICA)

O Sul de Minas foi uma das áreas mais afetadas pelo clima quente e pela escassez de chuvas em 2021. Ao observar os mapas de anomalia de precipitações, podemos observar que a principal região produtora do estado recebeu volumes pluviométricos significativamente abaixo da média histórica durante todo o primeiro semestre do ano, com exceção de junho.

O clima longe do ideal neste período contribuiu para dificultar o crescimento vegetativo nos ramos, o que foi observado em algumas lavouras. Apesar de uma melhora nas chuvas a partir de meados de setembro, que se estenderam a outubro, parte das lavouras não conseguiram se recuperar a tempo e promover uma florada adequada.

Ao longo de nossa visita na região, levando em conta o ano-safra de bienalidade positiva, pudemos observar um número atípico de lavouras com baixa carga produtiva, notável pelas plantas com reduzido número de frutos nas rosetas ou sem nenhuma produção.

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Todavia, a região, que tem por característica a grande variabilidade nas condições das lavouras, apresentou diferenças fundamentais no que podemos dividir, grosso modo, em regiões sul e norte do Sul de Minas. As áreas mais ao sul apresentaram um maior número de lavouras em condições mais precárias e com menor produtividade. Já as áreas mais ao norte, que receberam volumes melhores de precipitações em alguns momentos do ano, mostraram uma melhor condição produtiva, com um maior número de lavouras apresentando uma produtividade dentro do que habitualmente se espera em um ano de safra alta.

Neste contexto, estimamos uma produção de cerca de 13,7 milhões de sacas no Sul de Minas, o que representa uma alta de 7% em relação à última temporada, mas uma retração de 28% frente ao potencial de 19 milhões na região. Ainda assim, a região deve ser responsável por 35,4% da produção brasileira de café arábica. A produtividade estimada é de 24 sacas por hectare.

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Fonte:  StoneX, com dados de NOAA/NCEP/EMC (GFS: Global Forecast System).

SÃO PAULO (ARÁBICA)

As visitas no estado de São Paulo concentraram-se na região norte, também conhecida como mogiana. De forma similar ao que aconteceu no Cerrado e em parte da região sul de Minas, o clima foi seco afetou a produção em toda a região. Além disso, essa região também sofreu com perdas causadas pela geada. Do ponto de vista agronômico, foi observada uma situação similar ao que foi visto no cerrado, com lavouras com reduzido volume de frutos e limitado número de frutos na roseta. Apenas lavouras irrigadas apresentaram condições satisfatórias de produção.

Desta forma, a produção de 2022/23 em São Paulo foi estimada em 4,6 milhões de sacas, 5% acima dos 4,4 milhões de sacas produzidos em 2021/22, com uma produtividade média estimada em 21 sacas por hectare. Vale a pena lembrar que, em um ano de bienalidade positiva sem adversidades, o estado de São Paulo teria potencial para produzir mais de 6 milhões de sacas. Considerando o volume citado, a produção em 2022/23 deverá ficar em torno de 23% abaixo do potencial.

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Fonte:  StoneX, com dados de NOAA/NCEP/EMC (GFS: Global Forecast System).

PARANÁ, BAHIA E SUL DO ESPÍRITO SANTO (ARÁBICA)

As estimativas do Paraná, das regiões produtoras de Arábica da Bahia e do Sul do Espírito Santo se basearam nos dados de parceiros da StoneX nas regiões.
A produtividade média foi estimada em 18,5 sacas/hectare no Paraná, com produção estimada em 0,7 milhão de sacas. Na Bahia, a produção de Arábica foi estimada em 2,5 milhão de sacas, com rendimento de 34 sacas/hectare.
Finalmente, a produção no Sul do Espírito Santo foi estimada em 4,3 milhões de sacas, 37% acima do ano-safra anterior, com produtividade média de 26 sacas/hectare.
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NORTE DO PARANÁ

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Fonte:  StoneX, com dados de NOAA/NCEP/EMC (GFS: Global Forecast System).

CENTRO-SUL BAHIANO

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Fonte:  StoneX, com dados de NOAA/NCEP/EMC (GFS: Global Forecast System).

SUL DO ESPÍRITO SANTO

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Fonte:  StoneX, com dados de NOAA/NCEP/EMC (GFS: Global Forecast System).
ESTIMATIVAS PARA A PRODUÇÃO BRASILEIRA DE CAFÉ

Com relação a produção de 2020/21, após uma análise que considerou o expressivo volume exportado, que totalizou 45,7 milhões de sacas, o consumo nacional e o avanço nos estoques, aumentamos a estimativa de 2020/21 de 65,1 para 67,6 milhões de sacas – apesar das grandes incertezas com relação aos dados de estoques no Brasil, o IBGE indica que houve um aumento de 1,96 milhões de sacas nos estoques brasileiros em 20/21. O maior aumento aconteceu nas estimativas para o café robusta, que foi de 18 para 20 milhões de sacas. A estimativa para a produção de café arábica teve incremento de apenas 500 mil sacas para 47,6 milhões. Para o ano safra 2021/22, a estimativa foi mantida em 53,7 milhões de sacas, com a produção de arábica em 33,7 milhões e de café robusta de 20 milhões.

Após a condução do estudo, a produção brasileira de café em 2022/23 foi estimada em 58,9 milhões de sacas, com a produção de café arábica totalizando 38,3 milhões de sacas e a produção de café robusta 20,6 milhões de sacas. Em 2022/23, a produção deverá ser 9,6% ou 5,2 milhões de sacas maior que a temporada anterior. Contudo, a produção deverá ficar 13,4% abaixo do observado em 2020/21, ano de bienalidade positiva, assim como 2022/23. Enquanto a produção se manteve relativamente estável para o robusta, que avançou apenas 3%, o arábica apresentou um incremento de 14% frente ao último ano-safra, puxado principalmente pela produção na região das matas de minas e sul do Espírito Santo, regiões que não tiveram impactos da geada nem problemas severos devido ao clima seco.

Vale a pena enfatizar que, caso o Brasil não tivesse enfrentado os desafios climáticos nos últimos 2 anos, o país teria potencial para ter uma produção próxima de 70 milhões de sacas na próxima temporada. Portanto, a estimativa de 58,9 milhões de sacas é 15,8% inferior ao potencial que o Brasil possuía para 2022/23.

 

Estimativas de produção e produtividade

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Fonte: StoneX.

PERSPECTIVAS PARA AS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS
No ano safra 2020/21, os dados consolidados do Cecafé mostraram que o Brasil atingiu o recorde de exportação, totalizando 45,7 milhões de sacas de café, sendo 35,9 milhões de café arábica e 4,7 milhões de café robusta. Em 2021/22, as exportações deverão ser bem menores como reflexo da forte redução na produção do país e devido aos problemas logísticos que o mundo vem enfrentando.

Os dados do Cecafé mostram que no primeiro semestre do ano safra 2021/22, que compreende o período entre julho e dezembro de 2021, o Brasil exportou 19,4 milhões de sacas, volume 21% inferior ao observado no mesmo período do ano anterior. Considerando todos os aspectos citados acima, espera-se que as exportações totais de café em 2021/22 alcancem em torno de 33 milhões de sacas, volume 27% inferior ao observado em 2020/21 – as exportações de café arábica deverão ser em torno de 26 milhões de sacas e de café robusta em torno de 3,2 milhões de sacas.

Mesmo sem ter problemas na produção, as exportações de café robusta apresentaram forte recuo de 39% no primeiro semestre do ano safra 2021/22, resultado do fortalecimento dos diferenciais entre o mercado nacional e a bolsa de Londres, indicando que o café robusta brasileiro perdeu competitividade em detrimento as outras origens. O avanço dos diferenciais foi resultado da significativa valorização do arábica, o que estimulou a indústria brasileira a aumentar o café robusta no blend e, consequentemente, aumentar a demanda pelo tipo no mercado doméstico.

Para 2022/23, considerando a produção estimada de 58,9 milhões de sacas e todo o cenário logístico que tem sido enfrentando, estimamos que as exportações deverão ser em torno de 38 milhões de sacas, representando um avanço de 14,4% com relação a 2021/22, porém o volume deverá ser 17% inferior ao observado em 2020/21, último ano safra com bienalidade positiva. Estimamos as exportações de café arábica em 2022/23 em torno de 30 milhões de sacas, de café robusta em 4 milhões de sacas.

Fernando Maximiliano

Engenheiro Agrônomo formado pelo Instituto Federal do Espírito Santo. Participante do Brazilian Scientific Mobility Program (BSMP) na Oregon State University, Estados Unidos. Possui experiência em pesquisa e análise de mercado. Trabalha na divisão de Inteligência de Mercado da StoneX do Brasil com foco em Café.
Este texto teve a colaboração de Leonardo Rossetti e Glenio Caetano

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