AÇÚCAR & ETANOL
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Fernando Maximiliano

Engenheiro Agrônomo formado pelo Instituto Federal do Espírito Santo. Participante do Brazilian Scientific Mobility Program (BSMP) na Oregon State University, Estados Unidos. Possui experiência em pesquisa e análise de mercado. Trabalha na divisão de Inteligência de Mercado da StoneX do Brasil com foco em Café.

Perspectivas para mercado de café [maio-julho]

Nesta análise, serão abordados as perspectivas para mercado de café.
O início de 2022 foi marcado por uma grande volatilidade no mercado de café. Conforme se consolidava entre os agentes do mercado o sentimento de amplo déficit no balanço global de O&D da temporada 2021/22, junto de um balanço provavelmente mais apertado em 2022/23, as cotações de iniciaram o ano estendendo a forte valorização de 79,2% e 72,7% observadas para o café arábica e robusta, respectivamente, em suas principais bolsas de negociação em 2021. Até meados de fevereiro, as cotações em Nova Iorque (ICE) avançaram cerca de 16% no ano para suas máximas em 10 anos, quando o contrato mais ativo tocou os US₵ 258,45/lb no dia 9 de fevereiro.

Todavia, um mercado com fatores majoritariamente altistas naquele momento, voltou a sofrer pressões baixistas durante o momento de exacerbada aversão ao risco após o início da guerra russo-ucraniana (24/fev). Desde o início do conflito armado, os futuros de café em NY apresentaram uma amplitude de 3610 pontos, com o contrato mais ativo oscilando entre máxima de US₵ 247,55/lb e mínima de US₵ 211,15/lb, para encerrar o último mês cotado a US₵ 222,10/lb, desvalorização de 10,3%. Em Londres, as cotações apresentaram trajetória semelhante, com as cotações recuando 5,7% desde o início da guerra até o final de abril, indo de USD 2234/t para USD 2107/t.

Evolução das cotações de café arábica (ICE) e robusta (ICE Europe)

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Fonte: CommodityNetwork Traders’ Pro. Elaboração: StoneX.

A guerra entre Rússia e Ucrânia trouxe novos elementos de incerteza para o mercado de café, que já tem um grande problema com a ampla discrepância entre as estimativas de oferta de demanda (O&D) disponíveis. A Rússia e Ucrânia comportam juntos cerca de 3,3% do consumo global de café, ou pouco mais de 5 milhões de sacas, com a maior parte deste café sendo direcionado a território russo (4,2 milhões).

O Brasil, se posiciona como o segundo maior exportador de café para a Rússia, tendo totalizado 1,2 milhão de sacas embarcas ao país, ficando apenas atrás do Vietnã. Devido às sanções impostas pelos países ao Kremlin, ao risco de calotes em pagamentos e ao risco reputacional, o volume médio dos envios do café brasileiro ao país deve ser amplamente impactado em 2022. Segundo os dados mais recentes do Cecafé, as exportações para a Rússia em março, primeiro mês completo após o início do conflito, totalizaram 33.855 sacas, um recuo de 72% em relação a fevereiro e de 74% ante março de 2021.

Sazonalidade das exportações brasileiras de café para a Rússia (mil sacas)

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Fonte: Cecafé. Elaboração: StoneX.

Apesar de o Departamento Geral Alfandegário do Vietnã (GSO) não discriminar os países destinos em seus dados mensais de exportações, os envios vietnamitas de café robusta à Rússia também devem ser amplamente afetados. Neste contexto, apesar das dificuldades para estimar o tamanho do impacto, torna-se provável uma queda nas exportações e consumo global, o que atuaria para reduzir um déficit ou elevaria um superávit no balanço global. Esta tendência deve se reforçar cada vez mais enquanto o conflito russo-ucraniano perdurar, atuando para limitar o ímpeto altista das cotações. Como fator adicional, existe o risco de que os desdobramentos econômicos da guerra, com o avanço da inflação, perda do poder de compra da população e redução nas estimativas de crescimento nos principais países consumidores globais de café possam em alguma medida prejudicar o consumo.

O QUE ESPERAR DO BALANÇO DE OFERTA E DEMANDA EM 2022/23

Antes de avaliar o balanço de O&D, é importante salientar que a discrepância entre as estimativas para a produção brasileira e para o balanço de O&D global é um dos maiores desafios do mercado de café e um grande promotor de volatilidade. Por exemplo, só em 2021/22, algumas estimativas apontavam para um déficit de 11 milhões de sacas e o USDA para um excedente de 2,6 milhões, resultando em uma diferença de quase 14 milhões de sacas entre a maior e a menor estimativa. De forma geral, o sentimento do mercado é que o ano de 2021/22 tem de fato um déficit bastante negativo, com a médias das estimativas apontando para um déficit de 6,9 milhões de sacas, o que justificou parte dos avanços nos preços que foram observados no segundo semestre de 2021 e no início de 2022.

Amplitude das estimativas para o saldo de oferta e demanda global de café (milhões de sacas)

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Fonte: StoneX, USDA, ICO. Elaboração: StoneX.

Ainda existem muitas incertezas para 2022/23, devido à produção de muitos países ainda estar em estágios iniciais de desenvolvimento da safra. Desta forma, o número de estimativas divulgadas ainda é pequeno, além de que as estimativas de agências importantes como o USDA e a OIC ainda não foram divulgadas. Como já foi comentado, ainda é muito incerto o tamanho do impacto da guerra entre a Rússia e Ucrânia no consumo mundial de café. Contudo, levando em conta apenas as estimativas disponíveis, pode-se observar que a perspectiva do mercado é de um balanço de O&D mais equilibrado em 2022/23, com a média das estimativas disponíveis até o momento indicando um excedente aproximado de 1 milhão de sacas. A expectativa de um balanço mais equilibrado ou com leve excedente arrefece as preocupações do mercado, que segue após um ano com o balanço muito negativo. Para o próximo trimestre, o mercado estará de olho na divulgação das estimativas do USDA para a produção dos países, que deverá ser divulgado em maio e as estimativas para o balanço global, com publicação do relatório completo prevista para a primeira quinzena de junho.

APESAR DOS RECENTES AVANÇOS, AS CONDIÇÕES NÃO SÃO FAVORÁVEIS À CERTIFICAÇÃO DE CAFÉS NA BOLSA

Um dos fatores que contribuíram para o avanço nas cotações foram as quedas dos estoques certificados de café arábica, que, desde o segundo semestre de 2021, apresentou forte queda. Os volumes dos estoques foram de aproximadamente 2,2 milhões de sacas em setembro, para mínimas abaixo de 1 milhão de sacas em fevereiro. A queda dos estoques certificados, que tem um viés altista para o mercado, está intimamente ligada aos diferenciais nas origens e os custos de frete marítimos. Quanto menores foram os diferenciais e mais baratos forem os custos de transporte marítimo, maior será a possibilidade que cafés sejam certificados na bolsa. A queda nos estoques apresentada acima se deu em meio ao fortalecimento dos diferenciais nas origens, reflexo da menor produção principalmente no brasil e ao aumento expressivo nos custos de frete, o que desestimulou do processo de certificação.

Evolução dos estoques certificados de café arábica na ICE NY (mil sacas)

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Fonte: ICE – Intercontinental Exchange. Elaboração: StoneX.

Desde o final de fevereiro, os estoques avançaram um pouco, porém seguiram de forma relativamente estável, em torno de 1,1 milhão de sacas, o que arrefeceu as preocupações dos agentes em torno desse assunto. Além disso, parte das atenções foram desviadas para outros assuntos, como a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, por exemplo. Contudo, o monitoramento dos estoques certificados é imprescindível, tendo em vista que, apesar dos avanços vistos recentemente, as condições ainda não são favoráveis à certificação de novos cafés das origens. Mesmo com a perspectiva de uma produção maior no Brasil em 2022/23, o cenário não deve se tornar favorável à certificação no curto/médio prazo, tendo em vista os problemas logísticos ainda recentes e os diferenciais em patamares elevados nas origens.

COM O ROBUSTA VALENDO MAIS NO BRASIL, O QUE ESPERAR NOS PRÓXIMOS MESES?

Desde a safra massiva de 2020 até o primeiro trimestre de 2021, o café robusta brasileiro alcançou posição de destaque nos embarques ao exterior, depois de se tornar a origem mais competitiva para o tipo. Tal condição foi resultado da grande produção naquele ano e a desvalorização da moeda brasileira, o que pôde ser notado no nível dos diferenciais – diferença entre os preços no mercado doméstico brasileiro e a bolsa de Londres -, que esteve abaixo das principais origens, como Vietnã e Indonésia.

No entanto, a partir do segundo semestre de 2021, esse cenário se reverteu com os preços de robusta ultrapassando as cotações em Londres a partir de agosto. O avanço dos preços no mercado doméstico foi reflexo do forte avanço nos preços de café arábica no mercado doméstico brasileiro, o que forçou a indústria a aumentar o uso do robusta no blend. Desde agosto do ano passado, os diferenciais avançaram para USD 400/ton em setembro e outubro, recuaram para próximo de 0 em janeiro de 2021, mas voltaram a avançar, alcançando valores acima de USD 800/ton em abril. O principal reflexo desse cenário foi a forte redução nas exportações brasileiras de robusta, enquanto as exportações vietnamitas avançaram, se consolidando novamente como origem mais competitiva no atual cenário.

Diferenciais de café robusta nas principais origens (USD/ton)

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Fonte: ICE, Traders Pro, Cepea, Bappebti, Giacaphe, StoneX. Elaboração: StoneX.

Para os próximos meses, a perspectiva é de que os diferenciais de robusta no Brasil não se mantenham nesses patamares após a entrada da nova safra, que, de acordo com várias fontes, deverá alcançar volume recorde. A média das estimativas disponíveis apontam para uma produção de 20,9 milhões de sacas para o tipo, e a StoneX estima a produção em 20,6 milhões. No entanto, as estimativas para o robusta tem uma diferença de 6,4 milhões de sacas, indo de 17 milhões (Conab) até volumes acima de 23 milhões, estimado por organizações privadas.

ALÉM DOS FATORES CITADOS, MERCADO DE CLIMA DEVERÁ DOMINAR AS OSCILAÇÕES DOS PREÇOS NOS PRÓXIMOS MESES

Como sempre, o Brasil, como principal produtor e exportador global, terá o maior peso na definição do balanço global em 2022/23 e nas oscilações do mercado. Apesar das preocupações com a produção, o início da colheita da safra 2022/23, que se iniciará em meados de maio e deve atingir seu pico entre junho e julho, deve aliviar a preocupação do mercado com a oferta no curto/médio-prazo.

Todavia, nos próximos meses, o clima deve voltar a tomar protagonismo sobre as oscilações de preços, com os participantes do mercado devendo olhar cada vez mais para a aproximação do inverno no Brasil. Depois dos severos danos provocados pela geada no último ano, o temor de que o inverno de 2022 possa acarretar novos danos na produção brasileira de café arábica deve gerar bastante volatilidade ao mercado.

As análises constantes nos modelos probabilísticos de La Niña/El Niño, bem como indicativos de sua intensidade, também serão fundamentais. As chances de manutenção de um La Niña pelo terceiro ano seguido deve continuar sendo fonte de preocupação. A Colômbia vem sofrendo sérias dificuldades por conta do fenômeno climático, que tem provocado chuvas em excesso nas áreas produtoras do país nos últimos meses e prejudicado a produção local. Segundo a Federação Nacional dos Cafeteiros (FNC), a expectativa é de que a produção do país registre uma redução de mais de 10% no primeiro semestre deste ano. Por outro lado, uma extensão das projeções de La Niña para o segundo e terceiro trimestre elevaria os riscos de atrasos e redução no volume de chuvas no período que antecede a florada na safra brasileira de 2022/23, afetando seu potencial.

Para a demanda, os sinais de que a guerra russo-ucraniana está longe de um fim, junto aos desdobramentos econômicos do conflito, como o avanço da inflação e perda do poder de compra da população, deve manter os agentes em alerta quanto a seus impactos negativos sobre o consumo. Ademais, as medidas de lockdown em importantes cidades industriais e portuárias da China merecem atenção, podendo, caso se prolonguem por mais tempo que o esperado, gerar impactos negativos no consumo fora de casa na região e provocar regresso no reestabelecimento das cadeias logísticas globais.

Fernando Maximiliano

Engenheiro Agrônomo formado pelo Instituto Federal do Espírito Santo. Participante do Brazilian Scientific Mobility Program (BSMP) na Oregon State University, Estados Unidos. Possui experiência em pesquisa e análise de mercado. Trabalha na divisão de Inteligência de Mercado da StoneX do Brasil com foco em Café.

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