O par real/dólar operava em alta de 0,5% no início da tarde desta sexta-feira, repercutindo o movimento da moeda americana no exterior e os receios dos operadores no mercado doméstico com o futuro dos indicadores fiscais do Brasil. Cotada a R$5,06, a divisa ainda caminhava para registrar queda semanal expressiva de 1,3%, favorecida pela sinalização do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre o encerramento do forward guidance e da possibilidade de elevar a taxa básica de juros no médio prazo.
No exterior, o dólar registrava leve alta de 0,2% ante uma cesta de moedas de economias avançadas, cotado logo abaixo dos 91 pontos. O movimento do dollar index repercutia o fortalecimento da divisa ante a libra esterlina, em vista das chances cada vez mais remotas de um acordo comercial entre o Reino Unido e a União Europeia até o encerramento do período de transição do Brexit, no final deste ano. No acumulado da semana, a moeda americana caminha para uma leve valorização de 0,3%.
A libra esterlina chegou a recuar mais de 1% ante o dólar americano nesta manhã, depois de a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmar em reunião de cúpula da UE que há uma “probabilidade mais elevada” de que as conversas com o Reino Unido não resultem em um acordo. A sinalização pessimista reforçou um comentário feito pelo primeiro-ministro britânico Boris Johnson na véspera, afirmando que as negociações poderiam falhar devido ao interesse de Bruxelas em manter o Reino Unido “preso à órbita da UE”. Caso um acordo não seja aprovado até 31 de dezembro, a falta de clareza nas regras de comércio pode atrapalhar as transações de mercadorias e serviços, que passarão a ser sujeitas à tarifação.
Em adição à desvalorização da moeda britânica, o movimento construtivo do dólar também estava associado nesta sexta-feira ao impasse nas negociações no Congresso americano por um pacote de estímulos adicionais. As divergências entre a proposta defendida pelo líder republicano do Senado, Mitch McConnell, que inclui proteções legais a empresas e empregadores contra processos relacionados à Covid-19, e o projeto encampado pela presidente da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi, que destina uma parcela significativa de recursos aos governos estaduais e locais, impediam a continuidade das discussões.
Uma política fiscal mais expansionista, complementando as medidas aprovadas no primeiro semestre para atenuar os impactos da pandemia, é considerada indispensável para garantir a consolidação da recuperação da economia americana. Desde a metade de 2020, os membros do Comitê de Mercado Aberto do Fed (FOMC), têm alertado sobre a necessidade de um papel mais atuante do Congresso neste sentido, complementando as ações adotadas pela autoridade monetária para garantir a liquidez nos mercados e o acesso ao crédito.
Nesta sexta-feira, o IBGE publicou a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) referente ao mês de outubro de 2020, que revelou limites para a recuperação do setor frente aos impactos da pandemia. O volume de serviços prestados apresentou crescimento de 1,7% em outubro em relação a setembro, mantendo uma tendência mais lenta de retomada e registrando a quinta alta mensal consecutiva, acumulando de junho a outubro um aumento de 15,8%. A retomada foi insuficiente para compensar as contrações dos meses anteriores, causadas pela necessidade de adoção de medidas restritivas de distanciamento social.
No comparativo com outubro de 2019, o volume de serviços recuou 7,4% na série sem ajuste sazonal, com influência das quedas nos serviços profissionais, administrativos e complementares (-13,5%), nos transportes e serviços auxiliares aos transportes (-8,2%) e nos serviços prestados às famílias (-30,2%). De fevereiro a maio deste ano, houve queda de 19,8% no volume de serviços prestados, e as altas registradas até então não foram suficientes para compensar essas baixas.
A recuperação mensal registrada em outubro foi acompanhada por quatro das cinco atividades investigadas, com os serviços de informação crescendo 2,6% e acumulando +10,0% no período junho-outubro, após perdas de 8,8% em janeiro-maio. Outros avanços, como o de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio (+1,5% em outubro) e dos serviços prestados às famílias (+4,6%) acumulam ganhos expressivos entre junho-outubro (de 22,7% e 80,4%, respectivamente), mas ainda não compensaram as fortes perdas causadas pela pandemia, necessitando crescer mais 8,8% e 47,6%, respectivamente, para retornar a patamares de fevereiro.
A média móvel trimestral apresentou crescimento de 2,2%, que se refletiu em resultados positivos em todas as cinco atividades no trimestre encerrado em outubro, mantendo trajetória ascendente iniciada em julho. No acumulado do ano (janeiro a outubro), no entanto, os serviços recuaram 8,7% em comparação ao mesmo período em 2019. As dificuldades do setor foram causadas pela mudança na dinâmica econômica e nos hábitos e comportamento dos indivíduos durante a pandemia. Com isso, os impactos sobre os serviços ainda se mostram duradouros e a recuperação segue lenta.
Os operadores do mercado brasileiro de câmbio também repercutiam o anúncio do relator da PEC Emergencial, senador Márcio Bittar (MDB), sobre o adiamento do parecer sobre o projeto. Segundo Bittar, “a proposta será melhor debatida no ano que vem, tão logo o Congresso nacional retome suas atividades e o momento político se mostre mais adequado.” A expectativa era de que o texto fosse apresentado oficialmente aos parlamentares hoje, entretanto, depois de a prévia disponibilizada aos líderes dos partidos no início da semana ter sido duramente criticada, a formatação do projeto deve ser reconsiderada.
O parecer encaminhado às lideranças do Senado incluía dispositivos na PEC Emergencial que permitiriam flexibilizar o teto de gastos. A medida abriria a possibilidade de ampliar por até um ano as despesas do governo para além da recomposição inflacionária, desde que esses gastos adicionais fossem financiados pela desvinculação de fundos públicos.