O par dólar/real encerrou a sexta-feira passada (31) cotado a R$ 3,924, em baixa diária de 1,4% e recuo semanal de 2,3%. As sinalizações favoráveis do Congresso brasileiro à agenda de reformas econômicas do governo do presidente Jair Bolsonaro, em especial à reforma da Previdência, e os atritos recentes entre Estados Unidos e México, favorecendo a compra do real contra o peso mexicano, estiveram entre os fatores que mais afetaram as cotações e favoreceram a valorização da moeda brasileira.
Com a recuperação das duas últimas semanas, o real escapou da “maldição de maio” e encerrou o mês estável. A tendência de enfraquecimento dos ativos brasileiros em maio foi observada de maneira recorrente entre 2012 e 2018 no mercado de câmbio local, anos em que o real encerrou o mês em desvalorização diante do dólar. Nos últimos sete anos, a alta média do par dólar/real em maio foi de 4,7%, sendo inferior a 1,0% em apenas uma ocasião.
Além do real, o Ibovespa também escapou da “maldição de maio”, encerrando o mês com leve alta de 0,7% na esteira da melhora nas expectativas para a aprovação de medidas de ajuste fiscal. Desde maio de 2009 o índice acionário não encerrava o mês em terreno positivo. Além do desempenho destacar o Ibovespa em relação à sua tendência histórica, a bolsa brasileira também performou melhor do que outros mercados internacionais, que encerraram o mês em quedas expressivas. Os índices Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq acumularam perdas de mais de 6% em maio, enquanto o índice MSCI Emerging Markets, recuou 7,3%.
Na última semana, o presidente americano, Donald Trump, abriu uma nova frente da guerra comercial ao anunciar a imposição de tarifas punitivas contra o México a partir de 10 de junho. No plano do governo americano, todos os produtos importados do país vizinho serão taxadas com uma alíquota de 5%, que poderá ser elevada até 25% em outubro caso o governo mexicano não dê demonstrações de que está agindo para interromper a entrada de imigrantes ilegais nos Estados Unidos.
Na sexta-feira, o peso mexicano recuou cerca de 3,6% e teve sua pior sessão em sete meses ante o dólar como resposta ao anúncio da Casa Branca. A perda expressiva da moeda mexicana fez com que o par real/peso (BRL/MXN) registrasse valorização de mais de 4%, sendo seu melhor desempenho diário em mais de um ano, o que atraiu investidores para assumirem posições compradas em real. Essa tendência, se acompanhada de progressos concretos na agenda de reformas econômicas, tende a potencializar a apreciação do real nos próximos meses.
Agenda de indicadores econômicos
São destaques na agenda desta semana para o Brasil as divulgações dos dados da atividade econômica medidos pelos PMIs da indústria e dos serviços e pela Pesquisa Industrial Mensal (PIM) do IBGE, assim como os números da inflação medidos pelo IPC-Fipe, IGP-DI e IPCA. De acordo com o IGP-M da FGV, divulgado na última quinta-feira, o nível geral de preços se desacelerou em maio, registrando um avanço de 0,45% no período, abaixo da alta de 0,92% observada em abril. Isolando apenas o componente de preços ao consumidor do índice, observou-se uma alta de 0,35% no último mês, inferior à alta de 0,69% de abril. A expectativa é de que o IPCA de maio registre uma alta semelhante, em torno dos 0,30%, o que, se confirmado, reduziria o acumulado em 12 meses do índice de uma alta de 4,94% para 4,84%.
A agenda de indicadores para a economia americana também merece atenção nesta semana, que deve ser pontuada por números da atividade econômica, falas de membros do Comitê de Mercado Aberto do Fed (FOMC) e culminar na divulgação do relatório de situação do emprego na sexta-feira (7). O mercado continua a projetar ritmo forte de criação de empregos em maio, com expectativa de um saldo de 180 mil admissões no mês, e avanço moderado da média salarial, em 0,3% em relação a abril.
Na agenda internacional, é destaque a divulgação do PMI da indústria chinesa medido pela Caixin/Markit na noite deste domingo, que amenizou a perspectiva de desaceleração do setor em meio à disputa comercial com os Estados Unidos. A semana também reserva indicadores de emprego e atividade econômica para a zona do euro, com a publicação do PIB do primeiro trimestre na próxima quinta-feira (6). No mesmo dia, o Banco Central Europeu (BCE) anunciará sua decisão de política monetária de junho.