Segundo boletim do Ministério de Minas e Energia (MME), o consumo de gás natural no Brasil avançou em junho, influenciado pelo incremento da demanda para geração termelétrica, superando o consumo do mesmo período do ano passado. O país utilizou 87,8 milhões de metros cúbicos por dia (Mm³/d) na média do mês, alta de 16,1% em relação a junho e de 12,6% em comparação com o ano passado.
Demanda mensal de gás natural no Brasil (Mm³/dia)
Fonte: MME.
Como de costume, a maior parte da variação no consumo de gás no Brasil no mês esteve relacionada à demanda das usinas termelétricas. Foram 34,9 Mm³/d utilizados para esse fim na média de junho, alta mensal de 37,9%. A categoria de consumo também teve forte incremento em relação ao ano passado, de 35,5%.
O menor volume útil médio dos reservatórios das usinas hidrelétricas, principais fontes de eletricidade do Brasil (65%), foi a causa do vertiginoso aumento do consumo de gás natural das térmicas. Mesmo com uma redução anual de 8,5% da geração das hidrelétricas, para 29,8 TWh no mês, a falta de chuvas em diversas regiões do país ainda causou uma baixa no nível dos reservatórios das usinas do Sistema Interligado Nacional (SIN) para 42,8%, contra 43,9% em junho de 2017, ficando abaixo do patamar do ano passado pela primeira vez desde fevereiro e aumentando o despacho das térmicas, que geraram 9,9 TWh de energia no mês, alta anual de 21,3%.
Oferta mensal de gás natural no Brasil (Mm³/dia)
Fonte: MME.
Volume útil médio dos reservatórios do SIN (%)
Fontes: ONS, StoneX.
Este cenário ainda persiste, com a geração hidrelétrica continuando a recuar em julho e agosto, mas sem reverter a tendência declinante do volume útil dos reservatórios. Assim, os próximos boletins do MME devem revelar maiores incrementos no consumo de gás natural para geração elétrica. Esperamos que a demanda de gás para esse fim continue em alta até o final de setembro ou início de outubro, a partir de quando as hidrelétricas devem voltar a ganhar espaço sobre as térmicas.
O consumo industrial de gás natural no Brasil também cresceu em junho, atingindo 41,1 Mm³/d, 5,1% a mais que no mês anterior e maior média mensal desde setembro passado. Em comparação com o ano anterior, contudo, as indústrias apresentaram pelo quarto mês consecutivo, uma redução na demanda de gás, na ordem de 1,6%.
No curto prazo, dois fatores devem causar reduções no consumo industrial de gás natural no Brasil. O primeiro deles, como discutimos anteriormente, será a hibernação das fábricas de fertilizantes nitrogenados da Petrobras no Sergipe e na Bahia, programada para o final de outubro. Na média de 2018, essas plantas consumiram cerca de 2,39 Mm³/d de gás natural, cerca de 6% do consumo industrial total.
Sazonalidade da demanda de gás natural para geração elétrica no Brasil (Mm³/d)
Fonte: MME.
O outro fator são os problemas enfrentados pela Replan durante o mês de agosto. A Refinaria de Paulínia da Petrobras, a maior Brasil, ficou interditada por ordem da ANP, após uma explosão seguida de incêndio numa unidade de craqueamento, entre os dias 24 e 29. A refinaria está retomando sua atividade aos poucos e deve atingir uma taxa operacional de 50% até o dia 5 de setembro. Na média de 2018, a refinaria consumiu 1,87 Mm³/d, cerca de 5% do consumo industrial brasileiro.
Além disso, o baixo dinamismo da economia brasileira deve manter o consumo industrial de gás natural em níveis reduzidos pelo restante do ano. Todavia, apesar do contexto eleitoral conturbado, o mercado continua relativamente otimista para o desempenho da economia em 2019, projetando um crescimento de 2,5% do PIB que, caso se concretize, pode impulsionar a compra do insumo pelas indústrias no longo prazo.
Sazonalidade da demanda industrial de gás natural no Brasil (Mm³/d)
Fonte: MME.