Quais os possíveis cenários para a oferta de combustíveis no Brasil para novembro?

Na última semana, logo após o anúncio da Petrobrás sobre não conseguir atender todos os pedidos de combustíveis para novembro/21, agentes do mercado passaram a se preocupar com um possível desabastecimento de derivados no Brasil.

Tal cenário responde, sobretudo, ao avanço significativo da procura por combustíveis, já que o fator de refino das refinarias da empresa chegou a 90% em outubro (dados parciais), contra 77% na média de 2018 e 2019.

Fator de refino no Brasil

Fonte: Petrobrás.

De acordo com a estatal, os pedidos de gasolina e diesel para o próximo mês aumentaram na ordem de 10% e 20%, respectivamente, quando comparado com o mesmo período de 2019.

Tal aumento dos pedidos está diretamente relacionado com a defasagem existente entre o preço dos combustíveis importados e os preços dos derivados vendidos pela Petrobrás, onde a movimentação cambial e firme valorização do petróleo permitiu um descolamento entre os preços domésticos e o valor praticado no mercado internacional.

Tal defasagem dos preços praticados até o momento não foi completamente “corrigido” pela estatal. Mesmo com os reajustes promovidos no dia 25/10, a StoneX estima que os preços da gasolina e do diesel nas refinarias seguem defasados na ordem de R$ -0,0073/litro e R$ -0,1233/litro, respectivamente.

Diante dessa situação, as distribuidoras passarão a importar mais produtos petrolíferos para atender a demanda existente no país, cujos valores adicionais serão repassados, em última instância, ao consumidor final.

Preços de revenda às distribuidoras (em R$/litro)

Fonte: Petrobrás.

Com isso, é possível que os preços dos combustíveis nos postos venham a se expandir mesmo sem a Petrobrás promover novos reajustes nos preços de venda às distribuidoras. Atualmente, a média Brasil dos preços de revenda da gasolina C é de R$ 6,361/litro, enquanto do diesel S10 é de R$ 5,048/litro.

Média de preços de gasolina e diesel no Brasil ao consumidor final (em R$/litros)

Fonte: ANP.

Em relação à cada região do país, o Norte e o Nordeste devem ser os mais impactados pela alta dos preços, visto que essas localidades dependem mais da importação de produtos, que estarão mais encarecidos pela defasagem existente nas precificações.

As regiões Sul e Sudeste, que são mais abastecidas por refinarias domésticas, deverão sentir menos os impactos do descolamento existente entre os preços nacionais e internacionais.

Em relação aos níveis de importações nacional, foi-se observado nos últimos meses uma expansão das compras externas da gasolina A e do diesel A, que devem seguir se expandindo até o final do ano, de modo a suprir a aceleração do consumo observado para ambos os combustíveis.

Preços do diesel ao consumidor final em 2021 por região (em R$/litro)

Fonte: ANP.

 

Ainda assim, é importante frisar que a possibilidade de um desabastecimento em determinadas localidades do Brasil não é descartada, principalmente em regiões que detém uma alta dependência desses produtos importados, como citado antes.

Balanço Gasolina A (Brasil)

*Dados em mil m³. Fonte: ANP.

Balanço Diesel A (Brasil)

*Dados em mil m³. Fonte: ANP.

Além disso, o próprio aumento do fator de utilização (FUT) das refinarias nacionais pode gerar problemas técnicos nos centros de processamento, acarretando redução da oferta de combustíveis no âmbito doméstico.

Com isso, a StoneX observa três cenários possíveis em relação a novembro.

O primeiro desses cenários, com maior probabilidade, é de que as distribuidoras consigam ampliar a importação dos produtos petrolíferos para satisfazer a demanda não atendida pela Petrobrás, possibilitando um aumento dos preços de venda desses combustíveis aos postos de gasolina, conforme a defasagem existente nas precificações atuais.

O segundo cenário, com uma probabilidade média, se dá na incapacidade de abastecer completamente determinada região, gerando um déficit de combustíveis no curto prazo, mas que deverá ser compensando em poucos dias, conforme maior esforço da Petrobrás para atender a demanda através de um aumento do (FUT) das refinarias.

O terceiro cenário, com menor probabilidade, se dá no desabastecimento de determinadas regiões acarretada pela incapacidade de aumentar as importações ou por problemas técnicos/operacionais nos centros de processamento, conforme aumento do FUT.

Por fim, é importante mencionar também que a possibilidade de novos reajustes por parte da Petrobrás ainda existe, acompanhando a movimentação cambial e ao passo que os preços do petróleo no mercado internacional se mantenham elevados.

Diante dessa situação, o Governo Central e autoridades locais tentam buscar formas de reduzir o preço final ao consumidor por outras frentes. Hoje pela manhã (29), o Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) decidiu pelo congelamento do ICMS por 90 dias, com vigência a partir da próxima segunda-feira (01).

A medida vem como forma de impedir novas revisões quinzenais sobre o imposto citado. Diferente de impostos como o PIS e o Cofins, que possuem valor fixo, o ICSM tem valor flexível, que varia de acordo com o preço do produto.

Aliado a isso, o Confaz também requisitou que a Petrobrás congele os preços de venda às distribuidoras, sem promover novos reajustes durante o mesmo período de três meses. Nas próximas semanas, o mercado deverá aguardar um posicionamento da Petrobrás, o que será vital para compreender se os preços aplicados pela estatal seguirão a política de paridade com os preços internacionais ou se haverá um novo rumo nas precificações de combustíveis no Brasil.

Ainda assim, é importante ponderar que a medida não terá impacto tão significativo sobre o valor total pago pelo consumidor final, visto que o ICMS costuma corresponder por apenas 27% do valor da gasolina nas bombas, de modo que a interrupção das novas variações do tributo não gera uma queda expressiva da variação final.

Composição atual do preço final da gasolina

Fonte: Petrobrás.

 

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