AÇÚCAR & ETANOL
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Bruno Santos

Formado em Economia e Relações Internacionais pela FACAMP. Trabalha desde 2021 na Inteligência de Mercado da Stonex do Brasil, com foco na área de Energia.
Este texto teve a colaboração de Isabela Garcia.

Balanço Global de Oferta e Demanda de Petróleo

Oferta

EUA

O último relatório STEO publicado pelo Departamento de Energia dos EUA (DOE, sigla em inglês) apontou uma produção doméstica de petróleo de 12,25 mbpd em fevereiro/23, marcando leve alta de 0,01 mbpd frente ao observado no mês anterior. Ainda assim, o departamento revisou para baixo as estimativas de crescimento anual da produção entre 2022-23, de 4,9% para 4,7%.

Para os próximos meses, a oferta da commodity deve expandir de maneira considerável no país, motivada principalmente por um aumento da produção de xisto. De acordo com o Relatório de Produtividade de Perfuração do DOE, é estimado que entre fevereiro e abril as sete principais regiões de extração de xisto marquem avanço de 0,15 mbpd, alcançando 9,21 mbpd. A região de Permian deve registrar o maior crescimento absoluto (0,09 mbpd), seguida de Bakken (0,07 mbpd) e Eagle Ford (0,03 mbpd).

Em relação aos estoques de petróleo, apesar da queda observada na segunda semana de março, observa-se que esses seguem posicionados bem acima da média histórica dos últimos cinco anos, em 480,2 milhões de barris, motivado principalmente por uma oferta estável (próxima a 12,3 mbpd), como também um consumo que segue levemente desaquecido, próximo das médias históricas (14,9 mbpd).

No caso dos derivados, tantos os estoques de gasolina quanto os de diesel operam abaixo das médias históricas, em 239,2 milhões e 121,9 milhões, respectivamente, em meio à manutenção de exportações aquecidas e a retomada gradual do consumo doméstico, sendo esse último mais direcionado para a gasolina, visto que os EUA seguem apresentando uma demanda por diesel abaixo das mínimas sazonais dos últimos cinco anos.

Produção nas sete principais regiões de xisto nos EUA (mbpd)

Fonte: EIA. Elaboração: StoneX.

Estoques de gasolina nos EUA*

*Milhões de barris. Fonte: EIA.

 Estoques de diesel nos EUA*

*Milhões de barris. Fonte: EIA.

 OPEP+

De acordo com o Relatório Mensal de Petróleo da OPEP, a produção da OPEP 13 alcançou 28.924 kbpd em fevereiro, marcando aumento de 117 kbpd frente ao observado em janeiro.

Os países que mais expandiram a sua oferta foi a Nigéria (72 kbpd) e a Arábia Saudita (59 kbpd), ao passo que a Angola e o Iraque registram as maiores quedas, na ordem de 52 kbpd e 25 kbpd, respectivamente. Quando analisado somente os resultados da OPEP 10 – excluindo o Irã, Líbia e Venezuela, que não possuem limite produtivo – foi constatado um avanço mensal de 80 kbpd, totalizando 24.489 kbpd.

Em relação à OPEP+, o crescimento produtivo foi mais expressivo, de 249 kbpd, chegando a 40.153 kbpd. O principal motivador dessa forte alta foi a Rússia, que entre janeiro e fevereiro expandiu a sua oferta em 180 kbpd, de modo que o país ainda não sentiu os impactos da política de “price cap” do G7 no que tange o volume de petróleo comercializado, em meio ao aumento das compras asiáticos do produto russo, principalmente China e Índia.

O avanço da produção, somado à queda dos limites produtivos, permitiu que o spread entre oferta e cotas caísse para 3.128 kbpd, evidenciando que o grupo segue buscando se aproximar dos limites anunciados.

Relação da produção da OPEP+ (em kbpd)

Fonte: OPEP, EIA, Minenergo, Ministério de Petróleo do Omã.

Demanda

EUA

Os Estados Unidos continuaram tendo grande influência sobre o mercado de petróleo e derivados nas últimas semanas. Em geral, investidores seguem temerosos em relação a demanda por combustíveis no país ao longo de 2023, o que contribuiu para pressionar os futuros desses produtos.

Os efeitos da contração monetária promovida pelo FED nos últimos meses já se refletem na queda da demanda por combustíveis nos EUA, especialmente o diesel. De acordo com o DOE, o consumo de diesel e gasolina recuou mais uma vez, com os valores atingindo as mínimas sazonais.

A desaceleração econômica no país deve se manter nos próximos meses, conforme membros do FED, especialmente Jerome Powell, defendem novos aumentos da taxa de juros a fim de combater a inflação (que chegou a 6,4% em janeiro no acumulado anual, apesar da meta do BC ser de 2%).

Assim, conforme a demanda doméstica segue desaquecida, os EUA mantém um ritmo de exportações acelerado. Nas últimas semanas, as exportações ficaram acima das máximas dos últimos 4 anos, dando sequência ao padrão observado ao longo de 2022. Empresas do país se aproveitam dos preços elevados de combustíveis no mercado internacional para escoar os estoques acumulados internamente. Essa tendência deve se manter nos próximos meses, com os EUA aumentando os fluxos para países europeus e da América Latina – especialmente Brasil e México.

Exportação de petróleo e derivados nos EUA (mbpd)

Fonte: EIA.

Demanda de gasolina nos EUA (mbpd)

Fonte: EIA.

Demanda de diesel nos EUA (mbpd)

Fonte: EIA.

China

Nos primeiros dois meses de 2023, verificou-se o fim das políticas de “Tolerância Zero” contra a COVID-19 na China. Dessa forma, as restrições consequentes dessas medidas deram espaço para a retomada da atividade econômica, atestada pela expansão do PMI industrial do país nos dois primeiros meses de 2023. Após atingir o menor valor dos últimos anos em dezembro (47 pontos), o PMI voltou a ficar acima de 50 pontos ainda em janeiro (50,1 pontos) e, posteriormente, atingir 52,6 pontos em fevereiro, maior crescimento mensal do índice desde 2014, indicando a expansão do setor industrial chinês.

Entre janeiro e fevereiro, a China importou 84 milhões de toneladas de petróleo. O resultado, no entanto, ficou abaixo dos valores em períodos anteriores, quando o país importou 85,1 milhões de toneladas em 2022 e 89,5 milhões de toneladas em 2021. Apesar do resultado negativo no comparativo anual, entende-se que a queda das importações está relacionado a uma possível formação de estoques ao longo de meses anteriores, os quais limitaram a necessidade de compras entre janeiro e fevereiro. Ademais, o aumento da demanda por combustíveis nos próximos meses deve impulsionar as importações do óleo bruto.

No mesmo período, as exportações chinesas de derivados de petróleo seguiram em alta. De acordo com o GAAC, nos dois primeiros meses de 2023, o país exportou 12,6 milhões de toneladas desses produtos, um aumento de 74% em relação ao mesmo período do ano passado. O volume ainda reflete o movimento que as empresas do setor adotaram em 2022, escoando sua produção para demais países diante de uma demanda doméstica vacilante e preços atrativos no mercado internacional. A tendência, no entanto, pode não se manter com a retomada do consumo de combustíveis na China nos próximos meses.

Importações acumuladas de petróleo na China em janeiro e fevereiro (milhões de toneladas)

Fonte: GAAC.

PMI industrial – China

Fonte: GAAC.

Brasil

No Brasil, a demanda por combustíveis seguiu forte no início do ano, especialmente para a gasolina. De acordo com a ANP, o consumo de gasolina alcançou 3,75 milhões de m³ em janeiro, 147% a mais do que o mesmo período do ano passado. Nesse tempo, os preços mais baixos da gasolina e uma paridade favorável (acima de 70%) impulsionaram a demanda pelo combustível. Esse movimento se refletiu também sobre o aumento das importações de gasolina nos últimos meses: de acordo com o MDIC, o Brasil importou 188 mil m³ do combustível em janeiro, mas o destaque se concentra em fevereiro, com a importação de 631 mil m³ – 275% a mais do que o mesmo período no ano passado.

Apesar do resultado positivo nos últimos meses, é provável que a tendência de consumo elevado desacelere nos próximos períodos. Com a retomada dos impostos federais sobre a gasolina a partir de março, o preço médio do combustível para o consumidor final chegou a atingir o maior nível desde agosto (R$ 5,57/L), apesar do reajuste negativo realizado pela Petrobras para as distribuidoras. Com isso, a paridade com o etanol recuou nas últimas semanas, chegando a 71,1% e aumentando a competitividade do biocombustível.

No caso do diesel, as vendas em janeiro ficaram em 4,53 milhões de m³, volume levemente abaixo daquele registrado em 2022 (4,63 milhões de m³). Apesar disso, o valor está próximo das máximas para o período, com o consumo devendo aumentar nos próximos meses devido ao avanço da colheita de grãos. Ademais, os preços do diesel para o consumidor final chegaram aos menores patamares dos últimos doze meses (preço médio de R$ 6,03/L), reflexo de mais uma queda dos preços da Petrobras para as distribuidoras nas últimas semanas.

Preço médio ao consumidor final (R$/L)

Fonte: ANP.

 Consumo de gasolina C no Brasil*

*Milhões de m³. Fonte: ANP.

 Consumo anual de diesel B no Brasil*

*Milhões de m³. Fonte: ANP.

 

Perspectivas

Cenário macroeconômico incerto

Nas últimas semanas, o mercado de petróleo vem respondendo a fundamentos macroeconômicos, exógenos ao mercado petrolífero, que colocam em questão o balanço de oferta e demanda global da commodity – refletindo em uma queda das cotações do óleo bruto e seus derivados.

Com o avanço da inflação nas principais economias, especialmente nos Estados Unidos, bancos centrais continuaram com o ciclo de apertos monetários nos últimos meses. As tentativas, no entanto, ainda não conseguiram reverter a aceleração dos preços, apesar do acumulado anual estar lentamente reduzindo no último trimestre. Nos EUA, o núcleo da inflação segue influenciado pela alta dos alimentos, enquanto a categoria de energia está em desaceleração, reflexo da queda dos preços dos combustíveis – especialmente diesel – e do gás natural.

Os últimos dias foram marcados por fortes desvalorizações do petróleo e seus derivados. Desde sexta-feira (13), os futuros do Brent cederam 11%, com uma aversão ao risco de investidores gerada após a falência do SVB. Em geral, agentes temem uma crise financeira generalizada a partir da instabilidade do sistema bancário norte-americano – fator que incentiva a fuga de ativos arriscados ao mesmo tempo que afeta as perspectivas da demanda mundial de combustíveis em 2023.

Enquanto a situação não se normalizar, é provável que o mercado siga volátil, com investidores sensíveis a novas informações de fatores exógenos – especialmente o posicionamento do FED nas próximas semanas.

Variação dos preços dos energéticos na bolsa em 2023

Fonte: NYMEX, ICE.

 Evolução consumo global de petróleo (mbpd) x crescimento do PIB global (%)

*Estimativa. Fonte: EIA, Banco Mundial.

 Como tende a se comportar o balanço de O&D de petróleo?

Em seu último relatório de estimativas, a OPEP manteve as estimativas de um consumo global em 2023 de 101,9 mbpd – um aumento de 2,32 mbpd em relação ao volume de 2022. Apesar da manutenção entre um reporte e outro, o grupo entende que a expansão em 2023 se deve ao aumento da demanda chinesa e de outros países asiáticos, enquanto estimam um consumo praticamente estável dos Estados Unidos e Europa – reduzindo os volumes em relação ao relatório de fevereiro.

O Departamento de Energia dos Estados Unidos (EIA) , por sua vez, aumentou suas estimativas de demanda global para 100,9 mbpd, uma variação de 1,49% comparado aos níveis de 2022. Esse desempenho se apoia na recuperação do consumo chinês (15,86 mbpd), como também no aumento da demanda de países latino-americanos e outros não pertencentes à OCDE. Países europeus e os EUA, por sua vez, apresentaram uma leve expansão, com ritmo mais desacelerado diante de uma economia desaquecida pelo em meio ao ciclo monetário contracionista provido pelo bancos centrais.

Do lado da oferta, a instituição aponta um aumento da produção global entre o reporte de janeiro e fevereiro – apesar de diminuir suas estimativas para a oferta dos EUA. O volume, assim,  estaria associado a resiliência da oferta russa.

Diante desse cenário, a StoneX manteve as estimativas de um déficit no balanço de O&D global de petróleo em 0,5 mbpd, motivado principalmente por um aumento da demanda ao longo do segundo semestre, que não deve ser compensada em meio à redução da oferta da commodity pela OPEP+ e dos Estados Unidos.

Balanço de O&D (em mbpd)

Fonte: StoneX, OPEP, EIA.

 

Bruno Santos

Formado em Economia e Relações Internacionais pela FACAMP. Trabalha desde 2021 na Inteligência de Mercado da Stonex do Brasil, com foco na área de Energia.
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