A pandemia da COVID-19 se colocou como destaque do primeiro trimestre de 2020. O quadro que se iniciou como um surto viral concentrado em Hubei, na China, hoje causa incertezas e volatilidade nos mercados internacionais. O cenário não é diferente para os fertilizantes.
A expectativa era de que o primeiro semestre de 2020 trouxesse uma retomada do apetite comprador nos principais importadores, com foco nos Estados Unidos, país que viu o nível de aplicações de primavera severamente impactado em 2019 por condições edafoclimáticas não favoráveis ao plantio de grãos. Um aquecimento da demanda no primeiro trimestre de fato levou a uma alta de 13% e 15% das cotações de nitrogenados e fosfatados em Nova Orleans, respectivamente, mas a trajetória altista se reverteu nas últimas semanas, diante do sentimento de aversão ao risco e pessimismo desencadeados pela confirmação de mais de 1 milhão de casos de COVID-19.
As perspectivas para o segundo trimestre ainda indicam uma predominância do sentimento baixista para o complexo NPK em território estadunidense. Os possíveis impactos da conjuntura atual sobre a demanda do milho podem influenciar uma contração das estimativas de área plantada, o que acarretaria um recuo das aplicações de nitrogenados, com destaque para a ureia e o UAN, visto que o cereal se destaca como principal consumidor de N nos EUA. Ademais, a molécula dos nitrogenados são mais voláteis, resultando em uma evaporação mais rápida do nutriente, dificultando sua aplicação em cenários de alta precipitação ou solo encharcado.
Segundo as perspectivas climáticas da Agência Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA) para a primavera yankee, a região do Meio-Oeste, maior produtora de grãos do país, deve apresentar inundações às margens do rio Mississippi e afluentes nos próximos meses – vide mapa. O quadro se compõe a partir de um solo já úmido devido à alta pluviosidade recente e perspectivas de chuvas acima do normal nos próximos três meses. Este pano de fundo pode dificultar a navegação das barcaças de fertilizantes rio Mississippi acima, partir do porto de NOLA para as regiões consumidoras, além de atrasar a aplicação dos adubos no solo.
Destacamos que a janela de plantio do milho antecede à da soja, o que poderia desencadear em uma migração de área plantada para a oleaginosa, esta que, conforme comentado acima, apresenta perspectivas favoráveis à demanda. Neste cenário, haveria um impulso nas aplicações de fosfatados e potássicos nos Estados Unidos, considerando condições ideais à semeadura. Não obstante, os agricultores devem ainda ficar à mercê do quadro climático e do nível das cotações dos grãos, que vêm sendo afetadas pelas preocupações e impactos econômicos da Covid-19.
Sob a ótica global, um consumo de fertilizantes aquém do esperado nos Estados Unidos no segundo trimestre desencadearia um sentimento baixista nos mercados dos três principais nutrientes, NPK, visto a conjuntura de maior oferta ante uma demanda arrefecida em outros países consumidores.