Exportações de fertilizantes na China caem 66% desde o início do regime de inspeções

A China é o maior país produtor de fertilizantes do mundo, líder na produção e exportação global de MAP e vice-líder nas exportações de ureia, apenas atrás da Rússia. Com exceção dos potássicos, no qual a China é importadora, a produção chinesa de fertilizantes representa pouco menos de 30% da produção global de N e P, enquanto as exportações do país constituem, historicamente, 13% do comércio global de nitrogenados, e 23% do fluxo de fosfatados.  A China também é, de longe, a maior consumidora global de fertilizantes, e responde por quase 24% do consumo mundial.
Buscando garantir preços e disponibilidade à forte demanda interna por adubos da agricultura chinesa em meio uma crise energética, que elevara de forma rápida e aguda os preços dos nitrogenados e fosfatados no segundo semestre de 2021, o governo chinês decretou, em meados de outubro/21, uma medida que obriga as cargas de fertilizantes exportadas pelo país a passar por um rígido processo de “inspeções”. Tal medida, que não se configura oficialmente como uma proibição à exportação, praticamente impediu que grandes cargas de fertilizantes fossem vendidas pela China ao longo dos últimos meses, devido ao alto custo logístico decorrente do período de espera para liberação das inspeções. Com isso, desde o último trimestre de 2021, apenas cargas que já estavam vendidas e liberadas para embarque, e pequenos lotes acordados para países específicos, conseguiram liberação para embarcar na China. Importante ressaltar que o sulfato de amônio (SAM), nutriente mais exportado pela China nos últimos anos, foi o único que se livrou da obrigatoriedade das inspeções.
Passados quase dois trimestres após o início do período de inspeções obrigatórias, já é possível perceber os impactos causados pela medida contra os embarques de fertilizantes no país. Com exceção ao SAM, as exportações de N e P da China, entre novembro de 2021 e fevereiro de 2022, somaram pouco mais de 1,6 milhão de toneladas, queda de 66% contra as 4,8 milhões de toneladas exportadas no mesmo período um ano antes. Para a ureia, os embarques caíram 59%, para o MAP 74%, e para o DAP 61%.
Exportação de nutrientes selecionados na China entre novembro e fevereiro nos últimos 4 anos (milhão de toneladas)
Fonte: Chinese Customs
Apesar do grande impacto causado pelo bloqueio parcial às exportações, o período no qual ela está sendo adotada marca justamente a baixa temporada dos embarques no país, quando, concomitantemente, a produção se retrai devido ao inverno e maiores custos produtivos, e os produtores se voltam à demanda interna para aplicações de primavera entre abril e maio. Assim, historicamente, o mercado internacional já se prepara para receber menores volumes de produto chinês no período entre novembro e abril, o que acabou amenizando a ausência de grande parte do produto chinês no mercado, por ora.
Exportações de ureia, DAP, MAP, NPK, SOP e NP na China (milhão de toneladas)
Fonte: Chinese Customs
Não há confirmação de data para a retomada das exportações chinesas, no entanto, desde o ano passado o mercado já trabalha com a possibilidade de normalização dos embarques após o pico do consumo interno, a partir de meados do segundo trimestre de 2022. Se realmente confirmado no período esperado, a retomada das exportações chinesas ocorreria em tempo hábil para os importadores brasileiros garantirem o volume necessário para a safra verão 22/23. A salvaguarda destes volumes se torna ainda mais necessária nesta temporada, em que a importação de fertilizantes russos está cada vez menos provável, e consumidores buscam de forma intensa suprir a falta de NPK acarretada pela guerra na Ucrânia.
Historicamente, os embarques de fertilizantes chineses começam a ganhar força a partir de abril e se mantém em fortes até agosto, permitindo que as cargas desembarquem no Brasil a tempo para o consumo nas aplicações para a safra de verão. No Brasil, o pico do desembarque das cargas de fertilizantes ocorre entre junho e outubro. O gráfico a seguir, que apresenta o volume mensal de fertilizantes embarcados pela China para o Brasil, com exceção do SAM, mostra claramente a queda dos embarques de fertilizantes a partir de novembro/21, em decorrência do período de inspeções. Assim como também revela que ainda há tempo hábil para que estas vendas ocorram na janela convencional, caso a China realmente volte a liberar as exportações a partir do 2ºT 2022.
Embarques de Ureia, DAP, MAP, NPK, SOP e NP na China para o Brasil (mil toneladas)
Fonte: Chinese Customs
A expectativa do mercado brasileiro pela liberação das cargas chinesas é grande e, ainda, bastante incerta. Desde o início de março, o regime de inspeções portuárias se enrijeceu, diante da iminência do período de aplicações domésticas, e poucos volumes deverão deixar o país entre março e maio. O volume de fertilizantes disponíveis em estoques na China é nebuloso, e ainda não se sabe ao certo quanto haverá disponível no país para exportação após a temporada de consumo doméstico. Na semana passada, o governo chinês anunciou a liberação de 4 milhões de toneladas das reservas comerciais de NPK do país para os agricultores, e novos volumes deverão ser liberados ao longo das próximas semanas. Fato é que a demanda pelos insumos deverá ser alta no país nos próximos meses, dado os preços praticados internamente em níveis consideravelmente menores em relação aos níveis internacionais. O MAP, por exemplo, que está cotado a US$1.216/tonelada CFR nesta semana no Brasil, está sendo negociado a cerca de US$540/tonelada internamente na China. A ureia, cotada a US$975/tonelada CFR no Brasil nesta semana, está sendo vendida a US$450/tonelada aos agricultores chineses.

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