Após os agricultores brasileiros terem expandido a adubação por hectare de todas as oito principais culturas no Brasil em 2016 [soja, milho, cana, café, algodão, trigo, arroz e feijão], o avanço das relações de troca das commodities pelos fertilizantes em 2017 limitou as compras dos insumos durante o ano, reduzindo o investimento em cinco dessas culturas: soja, milho, café, trigo e feijão.
Quem avalia é a consultoria StoneX, que espera uma continuidade desta tendência para 2018. Entre as principais culturas brasileiras afetadas em 2017, o grupo explica que a soja é a que apresenta menor desvio nas variações anuais da aplicação de fertilizantes, devido à elevada rentabilidade da oleaginosa.
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“Em 2017 a adubação da soja teve apenas uma leve queda em relação ao ano anterior: na média do Brasil, foram aplicados 430 kg/ha na oleaginosa, contra 432 kg/ha em 2016 (variação de -0,4%). A cultura foi favorecida por um avanço relativamente pequeno da sua relação de troca: em setembro, pico das compras de adubos para a soja, eram necessárias 17,47 sacas para se adquirir uma tonelada do formulado 00-18-18 em Rondonópolis, contra 16,20 sacas no ano anterior”, explica o analista de mercado do grupo, Fábio Rezende.
O cenário para o milho é outro. Embora a intensificação tecnológica da safrinha tenha reduzido a variabilidade da adubação do cereal, segundo maior consumidor de fertilizantes no Brasil, seu baixo preço relativo faz com que flutuações nas relações de troca impactem significativamente a sua adubação, principalmente na safrinha, quando os prêmios do cereal costumam ser menores. Foram aplicadas cerca de 319 kg/ha no milho em 2017, contra 362 kg/ha no ano anterior, recuo de 12,0%.
Surpreendendo as expectativas, a adubação por hectare de cana-de-açúcar avançou 3,5% em 2017, para 458 kg/ha. No ano anterior, uma forte alta das cotações do açúcar fez com que as relações de troca entre o adoçante e os adubos da cana recuassem para as mínimas dos últimos anos, resultando em um avanço de 23,6% na aplicação de fertilizantes em relação à 2015, sendo a cultura que mais expandiu o investimento em insumo no ano. Em 2017, as cotações do açúcar inverteram a tendência e recuaram, deteriorando suas relações de troca. “Por outro lado, o preço do etanol se manteve num nível favorável às usinas, o que incentivou a compra de fertilizantes no ano”, pondera o analista Rezende, da StoneX.
Perspectivas para 2018
A StoneX espera que, assim como ocorrido no ano passado, os produtores de soja devem reduzir levemente a adubação por hectare, diante de mais um avanço nas relações de troca. “Isso pode ser acentuado pelos problemas logísticos no transporte de fertilizantes ao interior, caso eles não sejam resolvidos em breve”, explica Fábio Rezende, da StoneX. O comércio de fertilizantes segue praticamente paralisado por conta dos elevados preços mínimos de fretes e falta de caminhões nos portos.
Apesar do preço do etanol manter sua tendência de alta, uma queda mais forte das cotações do açúcar deve também pressionar a adubação por hectare da cana-de-açúcar. No caso do milho, as relações de troca para a safra de verão se encontram em um patamar semelhante ao do ano passado. Ainda assim, menores compras no início do ano para a safrinha devem impactar o indicador total do ano para o cereal.
Há, contudo, alguns fatores favoráveis para a demanda brasileira de fertilizantes. “A recente valorização do dólar e alta dos prêmios da soja resultaram em boas vendas por parte dos produtores de grãos nos últimos meses, de modo que eles se encontram bem capitalizados, o que pode levar a maiores investimentos em adubação. Ademais, as perspectivas são positivas para a demanda total de fertilizantes, já que a expansão da área agrícola, especialmente a de soja, deve compensar a possível queda na adubação por hectare”, resume Rezende.