O custo do transporte via navios em rotas comerciais internacionais vêm apresentando forte tendência de alta desde o início de 2016, quando atingiram patamares historicamente baixos. A cotação de trajetos com destino para o porto de Paranaguá verificaram um incremento médio de 105,4% no período desde então, com algumas rotas observando um aumento de até 140%.
Tal fenômeno impacta diretamente o fretamento de navios transportando fertilizantes para o Brasil e, portanto, as cotações CFR. Atualmente, o frete da rota Mar Negro – Paranaguá é avaliado em USD 31 por tonelada de ureia, o que representa uma alta de 29,2% em comparação com a mesma data do ano passado. No que se refere à importação de cloreto de potássio (KCl), a rota é cotada em USD 27 por tonelada tanto com origem no Báltico como em Vancouver – principais fornecedores do produto. Esse valor corresponde, respectivamente, a incrementos ano-a-ano de 22,7% e 17,4%.
No caso do transporte de MAP, a escalada nos preços foram as mais expressivas. Navios com origem em Tampa (EUA) cobram hoje USD 21 por tonelada do insumo, enquanto em Marrocos tal valor encontra-se em USD 19/t. Desse modo, o frete dessas rotas tornou-se respectivamente 31,3% e 26,7% mais caro apenas no último ano.
Fretes marítimos de fertilizantes ao Brasil por origem (USD/t)
Fonte: StoneX.
Motivos da alta
A elevação dos custos dos fretes marítimos nos últimos meses está relacionada sobretudo à alta nos preços do petróleo no mercado internacional. Tanto o óleo combustível marítimo como o diesel, principais combustíveis utilizados na indústria marítima, são derivados da commodity e possuem preços diretamente atrelados à cotação da mesma.
Nos últimos 12 meses o barril de petróleo apresentou uma valorização de 47,7%, sendo cotado atualmente a USD 77,90. Tal movimento altista acarretou em uma apreciação de 54,2% no preço do óleo combustível marítimo no período. No caso do diesel, o aumento foi de 54,7%. O preço do combustível representa 80% dos custos operacionais da indústria de transporte marítimo, exercendo uma forte influência no preço final dos fretes – o que explica a alta recente observada nas cotações de fretes marítimos internacionais.
Fretes marítimos de fertilizantes ao Brasil por origem (BRL/t)
Fonte: StoneX.
Desvalorização cambial impacta produtores brasileiros
No caso brasileiro, a elevação recente do preços dos fretes conta com um agravante: a depreciação do real frente ao dólar. Como os valores de transporte nas rotas marítimas internacionais possuem como referência a moeda norte-americana, os mesmos sofrem alterações de maior impacto quando o real encontra-se cotado a valores mais baixos.
Desde o início do ano a moeda brasileira sofreu uma redução de valor de 27,2% em relação ao dólar, sendo que apenas no mês de agosto a depreciação foi de 9,1%. Consequência desse fato é que, apesar de um cenário de relativa estabilidade dos preços internacionais dos fretes marítimos, nas últimas semanas o importador brasileiro verificou custos totais maiores para adquirir fertilizantes. Quando cotadas em reais, as rotas mencionadas acima apresentaram um incremento médio de 64% em seu preço nos últimos 12 meses, sendo 14,4% somente em agosto.
A instabilidade cambial vista no Brasil nos últimos meses, e principalmente nas últimas semanas, é decorrente sobretudo de um cenário global de incerteza quanto às economias emergentes – o que promove uma fuga de capitais nesses países e consequente desvalorização da moeda local. Ademais, um período eleitoral conturbado e indefinido contribui ainda mais para a depreciação do real frente ao dólar.
Perspectivas
Nossas perspectivas de curto e longo prazo são de que os fretes marítimos devem continuar em alta.
No curto prazo, o desequilíbrio entre oferta e demanda de petróleo, com as sanções americanas contra o Irã e a produção declinante da Venezuela reduzindo a sua produção global, tende a impactar positivamente a cotação do barril, já que sua demanda permanece firme e outros produtores não conseguiram aumentar sua produção rápido o suficiente para cobrir o vazio deixado pelo Irã e pela Venezuela. E no caso brasileiro a expectativa é de manutenção de um cenário cambial negativo, por conta das eleições.
Preços futuros do óleo combustível e diesel (USD/bbl)
Fontes: Bloomberg, StoneX.
No longo prazo, a perspectiva é de que a tendência altista nos preços de transporte marítimo continue. Tal análise se baseia sobretudo nas adaptações necessárias ao mercado para atender as novas regulações da Organização Marítima Internacional (OMI): a agência da ONU estipulou a redução da concentração máxima de enxofre em combustíveis marítimos dos atuais 3,5% para 0,5% — medida que entrará em vigor em 2020.
Tendo em vista esse cenário, as empresas de transporte marítimo terão basicamente duas opções: (i) substituir o óleo combustível — utilizado atualmente — por diesel marítimo, que contém menor concentração de enxofre; ou (ii) instalar sistemas de filtragem (conhecidos como “scrubbers”) em seus navios, de modo a reduzir a emissão de gases poluentes.
De qualquer maneira, tais mudanças certamente terão influência nos preços dos fretes internacionais marítimos, exercendo uma pressão altista. O diesel marítimo é cerca de 41,9% mais caro que o óleo combustível (diferença que tende a crescer após 2020), e a instalação de scrubbers corresponde a um custo elevado e é inviável economicamente para alguns operadores.