As exportações do complexo de soja de destacaram em 2020. Segundo os dados oficiais da Secex, considerando o grão, o farelo e o óleo de soja, foram exportadas mais de 100 milhões de toneladas, num valor total superior a USD 35 bilhões, o que representa 34,9% de tudo que foi embarcado pelo setor do agronegócio nacional no último ano.
Evolução das exportações brasileiras de soja, farelo e óleo (milhões de toneladas)
Fonte: Comex Stat.
Mesmo num cenário de pandemia, a demanda por soja continuou fortalecida, em meio à recuperação do rebanho suíno chinês, além do adiantamento de compras devido a preocupações com possíveis rupturas de cadeias logísticas. As exportações do grão em 2020 alcançaram 82,98 milhões de toneladas, segundo maior volume já embarcado, ficando pouco atrás somente do alcançado em 2018.
Destaque importante foi o câmbio, com expressiva desvalorização do real, com a taxa nominal superando os R$ 5,00 e se aproximando de R$ 6,00 em alguns momentos, favorecendo as negociações antecipadas. Com isso, a competitividade dos produtos brasileiros no exterior foi ainda mais favorecida, impulsionando os recordes mensais de embarques de soja observados no primeiro semestre de 2020. Ademais, as exportações de farelo de soja foram recordes, atingindo 16,96 milhões de toneladas. No caso do óleo de soja, os embarques alcançaram 1,1 milhão de toneladas, nível superior ao registrado em 2019, lembrando que as expectativas eram de volumes bem menos expressivos, em meio ao aumento do consumo interno, com o crescimento do uso para biodiesel.
Esse cenário de demanda externa fortalecida pelo produto brasileiro, aliado a uma recuperação do consumo interno após o impacto inicial da pandemia e à concessão do auxílio emergencial pelo governo, resultou em uma situação de oferta restrita no segundo semestre, com preços extremamente fortalecidos.
Para tentar amenizar a menor disponibilidade e tentar influenciar os preços, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) zerou a Tarifa Externa Comum (TEC) em meados de outubro de 2020 até 15 de janeiro de 2021, para permitir a importação de soja, farelo e óleo de países de fora do Mercosul, sem o pagamento do imposto.
Contudo, é importante destacar que tal medida teve impacto limitado nos volumes importados pelo Brasil de fora do bloco comum.
A maior parte das importações de soja, farelo e óleo que o Brasil realiza acaba tendo como origem países vizinhos, que também têm destaque na produção e processamento do grão, além da vantagem logística, devido às menores distâncias, que permitem, em muitos casos, que o transporte ocorra por via terrestre, principalmente se o destino for regiões dos estados do Sul brasileiro, mais próximas às fronteiras com o Paraguai, por exemplo.
Em 2020 como um todo, o Brasil importou 823 mil toneladas de soja, 200 mil de óleo de soja e apenas 5 mil de farelo de soja. No caso do grão e do óleo, as importações representaram um crescimento expressivo em relação a anos anteriores. Destaca-se que os volumes comprados do exterior ganharam força no final do ano, em meio à entressafra da soja, num período que coincidiu com a suspensão da TEC.
Importações brasileiras de soja, farelo e óleo (mil toneladas)
Fonte: Comex Stat.
Mesmo assim, 99,94% da soja importada pelo Brasil teve como origem países do Mercosul, com destaque para o Paraguai, que respondeu por mais de 88%, segundo os dados oficiais. O restante, ou 0,06% do total, foi originado na Bolívia, além de um volume muito pequeno dos EUA, não representado no gráfico. No caso do óleo de soja, a situação foi bem similar, com volumes mínimos tendo como origem Bolívia, Alemanha, Holanda e EUA (também pouco relevante para o gráfico), mas com 98,46% dos fornecedores sendo representados por países do Mercosul. Nesse caso, destaca-se a Argentina, que é o maior exportador mundial de óleo de soja, tendo respondido por quase 74% do que o Brasil importou no último ano.
Origem das importações brasileiras de soja em 2020 (%)
Fonte: Comex Stat.
Origem das importações brasileiras de óleo de soja em 2020 (%)
Fonte: Comex Stat.
Dessa forma, essa medida, apesar de ter sido uma reinvindicação de setores ligados ao consumo, como a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), praticamente não teve impacto em alterar as origens das importações do complexo de soja pelo Brasil, com os preços domésticos se mantendo sustentados.
Além de outras questões que precisam ser avaliadas, como os custos de se buscar soja, farelo e óleo a maiores distâncias e o dólar, o mercado internacional também se encontra num momento altista de preços. Com isso, essa medida acabou chegando tarde e num momento de oferta menos folgada ao redor do mundo.