A valorização dos grãos, que vem ocorrendo desde 2020, levou os preços da soja e milho para patamares historicamente elevados, e desde então, as margens de lucro dos produtores acompanharam essa tendência de alta. No entanto, os reajustes dos preços dos custos de produção, em especial dos fertilizantes, estão diminuindo os ganhos observados. Entre abril de 2021 e 2022, os gastos com adubos para a produção do milho e soja no Mato Grosso cresceram 91% para o cereal e 114% para a oleaginosa, enquanto os preços dos grãos obtiveram uma valorização muito inferior.
A discussão em torno do aumento dos custos dos insumos agrícolas esteve em pauta desde meados de 2021, quando os custos de produção começaram a ser reajustados depois de um 2020 com pouca variação. A disparada dos preços dos fertilizantes preocupou os produtores, uma vez que a relação de troca aumentava de forma rápida, com os nutrientes valorizando a um ritmo muito maior do que a soja e o milho.
Desde então, os preços dos fertilizantes continuaram a crescer, resultado de uma série de fatores externos. Nitrogenados e fosfatados tiveram parte da oferta restringida por conta de limitações de exportações de importantes players do mercado, como a China e Rússia. Ao mesmo tempo, a alta exorbitante do gás natural elevou os custos de produção da amônia, escalando em uma supervalorização dos custos de produção dos fertilizantes nitrogenados e fosfatados. Ainda, sanções econômicas contra a Bielorrússia bloquearam as exportações do terceiro maior país produtor de potássio, e um dos principais fornecedores ao Brasil do nutriente. No entanto, a situação se agravou ainda mais com o início do conflito da Ucrânia, no final de fevereiro de 2022, quando dificuldades logísticas nos mares Negro e Báltico passaram a interferir na comercialização dos nutrientes advindos da Rússia, importante produtora de N, P e K.
Histórico da Relação de Troca – Soja e Milho x Ureia, MAP e KCL em Paranaguá
Para a safra de 2022, os produtores não conseguiram garantir fertilizantes em uma relação de troca favorável como ocorreu no ciclo anterior. Dessa forma, na média nacional, as margens de lucro deverão ser menores nesta temporada, em relação à anterior, ao mesmo tempo que parte dos agricultores deverá reduzir a demanda e a aplicação de parte dos nutrientes.
Por mais que as margens se mostrem mais baixas que em períodos anteriores, é preciso destacar que continuam bastante positivas, uma vez que os preços da soja e do milho se mantêm sustentados. Contudo, mesmo com resultados positivos, o produtor acaba assumindo um risco maior, diante dos custos mais elevados. No caso de algum problema climático ou sanitário, que resulte em perdas de produtividade, por exemplo, o produtor incorreria em um maior prejuízo. Com isso, por mais que os preços dos grãos compensem, o produtor pode adotar medidas para se proteger, com a diminuição dos investimentos nas lavouras.
Além disso, é preciso acompanhar a evolução dos preços da soja e do milho. Por mais que não haja fatores com grande potencial baixista no mercado, as simulações a seguir ilustram cenários de preços e custos com fertilizantes no Mato Grosso. Em cenários extremos, como uma supervalorização dos fertilizantes a níveis ainda mais elevados que os atuais, ou uma forte queda de preços das commodities, as margens ficariam negativas para o produtor, considerando uma produtividade em linha com a dos últimos anos.
Cenários de margem operacional em uma produção modelo de soja no Mato Grosso (R$/hectare)
Cenários de margem operacional em uma produção modelo de milho safrinha no Mato Grosso (R$/hectare)