Mesmo com o elevado patamar histórico dos preços dos grãos, a escalada recente dos custos de produção deverá apertar as margens dos agricultores em 2022. Em um cenário que já vem se construindo ao menos desde o início do ano, puxado principalmente pelos preços dos insumos, os custos de produção de soja e milho no Mato Grosso já cresceram mais de 48% e 32%, respectivamente, desde janeiro. No Sul do Brasil, este aumento dos custos já supera 50% desde o início do ano, muito superior à valorização da soja e milho no período.
A disparada dos preços dos fertilizantes e defensivos nos últimos meses preocupa os produtores brasileiros quanto ao planejamento para as próximas safras, em meio a discussões sobre continuidade de expansão da área plantada, redução dos níveis de aplicação por hectare e até mesmo substituição de culturas como forma de amenizar os impactos nas margens financeiras da produção. Desde janeiro até o início de dezembro de 2021, os preços dos fertilizantes internalizados no Brasil mais do que dobraram, com os valores de alguns nutrientes, como nitrogenados e potássicos, crescendo mais de 200% no período. Com isso, as relações de troca da soja e milho, que se figuravam em um dos melhores níveis já registrados para o agricultor no início do ano, passaram a patamares extremamente elevados.
Histórico da Relação de Troca – Soja e Milho x Ureia, MAP e KCL em Paranaguá
Diante deste descolamento dos preços dos fertilizantes nos últimos meses, sua participação no custo total da produção tem aumentado, e contribuído para elevar as expectativas de despesa dos produtores em 2022. Para a safra de verão 2021, a maior parcela dos produtores conseguiu garantir os insumos de forma adiantada, em momentos em que as relações de troca estavam mais favoráveis e próximas à média histórica. Assim, mesmo que os preços estejam elevados atualmente, grande parte deste volume aplicado nas lavouras no segundo semestre de 2021 foi garantido à preços mais baixos. Para as safras de 2022, o volume de insumos garantidos a níveis de relação de troca saudáveis não foi tão significativo, e os agricultores estarão mais expostos aos altos custos.
SOJA
De acordo com o Deral, no Paraná, o custo total médio estimado de uma lavoura de soja estava em R$ 4,26 mil/hectare em fevereiro/2021 e, em novembro/21, este custo foi cotado a R$ 6,30 mil/hectare, alta de 48% em 10 meses. Nesse período, o custo projetado com fertilizantes e defensivos cresceu 95% e 73%, respectivamente, elevando suas participações nas despesas totais para 18% e 12%, contra 15% e 11% em fevereiro.
Estimando a relação entre a receita e o custo do produtor paranaense, com base nos custos divulgados pelo Deral e no indicador CEPEA do preço da soja no norte do estado, as margens da produção da oleaginosa estão 42% menores em novembro, frente a fevereiro, cenário amparado por uma leve queda da receita e forte aumento dos custos produtivos. No entanto, ainda vale destacar que, apesar da queda, as margens de produção se mantêm positivas.
Relação Receita/Custo da produção de Soja no Paraná (R$/hectare)
No Mato Grosso, os custos de produção divulgados pelo IMEA trazem um cenário semelhante ao observado no Paraná. Entre janeiro e outubro deste ano, os custos totais da produção de soja no MT cresceram de R$ 4,74 mil/hectare, para R$ 7,02 mil/hectare, alta de 48%. Neste período, os fertilizantes foram a categoria que mais se valorizou (130%), seguidos pelas sementes (106%). No início do ano, os fertilizantes representavam cerca de 21% das despesas totais da lavoura de soja, e, em outubro, esta participação se elevou para 32%.
Diante desta alta de 48% nos custos totais, a receita do produtor mato-grossense, considerando o indicador de preços da soja CEPEA em Rondonópolis, cresceu apenas 5% entre janeiro e outubro de 2021. Este descolamento da relação receita/custo esmagou as margens calculadas em outubro, para o menor nível desde o observado em julho/20.
Relação Receita/Custo da produção de Soja no Mato Grosso (R$/hectare)
Fonte: IMEA e CEPEA
Neste sentido, analisando os números do IMEA, apesar de outubro/21 registrar a menor margem mensal desde o início da escalada dos preços da soja, no início do segundo semestre de 2020, os níveis de retorno seguem superiores ao que era observado no primeiro semestre de 2020, quando os custos eram menores, mas a receita também era. Mesmo ainda olhando bons retornos, se comparado ao histórico dos últimos anos, os custos altos trazem maiores riscos aos agricultores, em caso de problemas produtivos na safra, além de depender de uma maior capitalização para conduzir a atividade.
MILHO
Assim como para a soja, a relação entre as receitas e os custos de produção também piorou para o milho, mesmo com os preços do cereal se mantendo sustentados.
No Paraná, estado que cultiva duas safras do cereal, os custos totais do milho verão passaram de R$ 5,85 mil/hectare em fevereiro de 2021 para R$ 8,9 mil em novembro, um aumento de 45%. Destaque para o avanço nos preços dos fertilizantes, cujo custo por hectare avançou 89% no mesmo período, passando de R$ 1,65 mil para R$ 3,13 mil por hectare. Como os preços do cereal não subiram na mesma proporção, a receita média por hectare passou de R$ 10,4 mil para 11,06 mil no período, uma variação bem mais modesta, de 6%. Com isso, por mais que a receita continue superando os custos, houve uma queda significativa dessa margem, que está atualmente em pouco mais de R$ 2 mil/hectare, contra R$ 4,6 mil em fevereiro de 2021.
Relação Receita/Custo da produção de Milho Verão no Paraná (R$/hectare)
Fonte: Deral e CEPEA.
Para a safrinha, o mesmo cenário é observado, mas lembrando que, em geral, as margens no inverno são mais apertadas, uma vez que a produtividade tende a ser consideravelmente menor do que o alcançado na primeira safra no estado.
Mantendo a análise para o mesmo período, entre fevereiro e novembro de 2021, a margem do produtor (ao se comparar receita e custos totais por hectare) passou de R$ 1,94 mil para R$ 652,94, uma vez que os custos saíram de R$ 4 mil/hectare para 5,7 mil, aumento de 42%. Enquanto isso, as receitas cresceram apenas 6%.
Relação entre receita, custo e margem para produção de milho de inverno no Paraná
Fonte: Deral e CEPEA
Entre as categorias que compõem o custo, como já esperado, os fertilizantes subiram de forma bem mais acentuada, com uma variação de 92%. É importante destacar, que o uso e, consequentemente, os gastos com fertilizantes tendem a ser menores na safrinha, uma vez que essa cultura já se beneficia das aplicações feitas para a soja e está sujeita a um risco mais elevado.
No Mato Grosso, os custos de produção divulgados pelo IMEA trazem um cenário semelhante aos acima descritos. Entre janeiro e outubro de 2021, os custos totais de produção do cereal no estado passaram de R$ 3,69 mil/hectare para R$ 5,04 mil/hectare, aumento de 36%. Como nos demais casos, os custos com fertilizantes foram os que mais avançaram no período analisado (95%), seguidos por sementes (38%) e defensivos (25%). Dado o aumento mais intenso no preço dos fertilizantes em comparação com as outras despesas, o peso do custo dos fertilizantes avançou 9 p. p. entre janeiro e outubro deste ano, para 31,2%.
Considerando o indicador de preços do CEPEA para a praça de Sorriso, que recuou 1,5% entre janeiro e outubro/21, para R$ 67/sc, e uma produtividade média de 124,5 sc/hectare (7,5 toneladas/hectare) para o milho de alta tecnologia, verificou-se um recuo de 1,3% na receita bruta calculada em outubro em relação à calculada no início deste ano, para pouco mais de R$ 8,34 mil/hectare.
Desse modo, em meio às variações observadas nos custos de produção e na receita, observou-se uma queda de 31% na margem de lucro, para R$ 3,3 mil/hectare.
Relação entre receita, custo e margem para produção de milho de inverno no Paraná
Fonte: IMEA e CEPEA
Mesmo considerando-se fontes diferentes para os custos no Paraná e no Mato Grosso, o que resulta em metodologias diversas no levantamento das informações, o cenário traz preocupações quanto a possíveis impactos desses custos mais elevados nas próximas safras, apesar das margens continuarem no campo positivo.
Pelo que foi descrito, os preços do milho e da soja ainda resultam em um retorno até mais elevado do que já foi registrado no passado. Contudo, o produtor tende a ficar mais receoso de gastar tanto nas lavouras, que estão sujeitas à possibilidade de perdas. No caso de uma quebra de safra, as perdas sofridas acabam sendo maiores.
Assim, os custos mais elevados, com destaque para o peso dos fertilizantes, podem limitar o crescimento de área, que tem sido um constante nos últimos anos para o milho e para a soja, ou mesmo resultar em queda de área, dependendo da região. Além do mais, pode se optar por realizar um investimento menor nas plantações, com potencial de se afetar o resultado final. É importante lembrar que nem sempre um investimento menor afeta a produtividade das lavouras de maneira proporcional. Outros fatores atuam em conjunto para determinar qual será o resultado de um ciclo, como o clima, a qualidade do solo, o tratamento que foi feito anteriormente etc.
De qualquer forma, a preocupação com possíveis impactos negativos dos custos mais elevados sobre as lavouras vai continuar no centro das atenções nesses próximos meses, já que os produtores compram os insumos com antecedência.