Fixação da mistura B10 em 2022 deverá reduzir consumo brasileiro por biodiesel

O mercado brasileiro de biocombustíveis foi surpreendido na última segunda-feira, 29/11, com a oficialização, por parte do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), do nível de 10% de mistura de biodiesel no diesel durante todo o ano de 2022. A política de misturas de biodiesel para 2022 vinha sendo discutida por um Grupo de Trabalho (GT) no último mês, devido às mudanças estruturais na comercialização do biocombustível, que deixará de ser realizada pelos tradicionais leilões bimestrais e passará a um mercado livre e spot. No entanto, o setor esperava que o GT respeitasse o cronograma de níveis acordados em 2018 pelo próprio CNPE, estipulando uma mistura de 13% (B13) no primeiro bimestre de 2022 e 14% (B14) nos meses seguintes até março/23, quando começaria o B15.

A pressão pela manutenção de um B10 ao longo de todo o ano de 2022 partiu principalmente da ala econômica do Governo Federal, preocupada com o encarecimento do diesel ao consumidor final provocado pela mistura do biocombustível. Desde o início de 2020, até o último leilão de 2021, o preço do biodiesel negociado em leilões quase dobrou, puxado, em grande parte, pela valorização do óleo de soja no período, matéria prima que compõe cerca de 70% da produção nacional do biocombustível, e chega perto dos 80%, se considerarmos a categoria outros materiais graxos (matérias-primas tradicionais em tanque de reprocessamento). Neste intervalo de tempo, o valor do diesel S10, sem a mistura, também subiu (+40%), porém em amplitude inferior ao biodiesel, o que acabou elevando o custo da mistura para os consumidores finais.

A mudança no cronograma de misturas não é algo novo para o setor de biodiesel. Em 2021, o mandato B13 foi estipulado para entrar em vigor a partir de março, no entanto esteve presente apenas durante o segundo bimestre. Nos meses seguintes, a mistura foi reduzida para entre 10% e 12%, o que acabou levando a uma mistura média a ficar em torno de 11,2% para o consolidado do ano. De acordo com as estimativas da StoneX, essa mistura mais baixa em 2021 reduziu em 13,2% (1 milhão de m³) a demanda por biodiesel no ano, em relação ao cenário do B13 em vigor.

Para 2022, com o B10 fixo, apesar da perspectiva de um leve aumento nas vendas de diesel, a StoneX estima uma demanda anual de 6,35 milhões de m³ de biodiesel, 8% menor em relação a 2021, em decorrência da menor mistura. Em comparação ao cenário no qual o cronograma de B13/B14 fosse respeitado em 2022, a demanda esperada com o B10 fixo deverá ser 2,45 milhões de m³ menor (-28%).

Demanda anual por biodiesel no Brasil (milhão de m³) *Estimado

Do ponto de vista das matérias primas, essa redução da mistura de biodiesel deverá resultar em um corte de cerca de 1,85 milhão de toneladas na demanda por óleo de soja frente ao um cenário com B13/B14. Além disso, considerando a venda de 6,35 milhões de m³ de biodiesel em 2022, o volume de óleo de soja destinado ao setor deverá cair cerca de 300 mil toneladas em relação ao consumo previsto em 2021.

Variação estimada na demanda por biodiesel no Brasil com B10 fixado em 2022

Esta menor demanda por óleo de soja para o setor doméstico de combustíveis, poderá impactar o processamento de soja, dependendo as margens de esmagamento. Por outro lado, no caso de margens favoráveis, uma maior oferta de óleo de soja poderá ser direcionada ao mercado externo, lembrando que as exportações brasileiras do óleo vegetal costumavam ser maiores, antes dos sucessivos aumentos da mistura de biodiesel no diesel. Por outro lado, caso os volumes esmagados recuem, há preocupação com os impactos sobre o mercado de farelo, principalmente num momento em que os custos da pecuária estão elevados.

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