As usinas flex, capazes de conciliar a produção de etanol tanto de cana-de-açúcar quanto de milho, tem ganhado espaço no Brasil. Apesar de ter um potencial produtivo muito maior do que a do milho para a produção de biocombustíveis, a cana-de-açúcar tem uma janela de safra entre abril e novembro, o que coloca o milho em posição de destaque como matéria-prima alternativa.
Assim, a instalação de usinas flex tem agradado o setor sucroalcooleiro, principalmente, por garantir um volume de produção contínuo durante a entressafra da cana-de-açúcar, entre dezembro e março, período que sucede a colheita da safrinha de milho.
No entanto, a crescente viabilidade do milho para a produção de etanol, principalmente, em grandes regiões produtoras, tais como o Centro-Oeste, tem resultado em um maior número de usinas totalmente dedicadas à destilação do grão, sem fazer o uso da cana-de-açúcar. Em Mato Grosso, por exemplo, tendo em vista a ampla oferta de milho, a produção de etanol vem ganhando força e veio como uma forma de agregar valor ao cereal, alongando, inclusive o basis da região.
Além do avanço da produção de etanol, o uso do milho como matéria-prima tem resultado em valiosos subprodutos, ou melhor definidos como coprodutos agroindustriais, destinados à alimentação animal, os grãos de destilaria (DGs).
Em síntese, a produção de etanol de milho é composta por três etapas principais: moagem do grão, fermentação e destilação. Destes processos, obtém-se como subprodutos os sólidos grosseiros, que podem ser comercializados como grãos de destilaria úmidos (WDG). No entanto, se direcionados a uma etapa adicional de secagem, os WDGs dão origem aos grãos de destilaria secos (DDG). Por fim, solúveis ainda podem ser adicionados para melhorar o rendimento do consumo animal, que por sua vez, dão origem aos grãos de destilaria secos com solúveis (DDGS).
Especificamente, o WDG é o produto com menor valor agregado dentre os grãos de destilaria por apresentar um baixo conteúdo de matéria seca, além de um alto teor de umidade, o que aumenta o seu grau de perecibilidade. No entanto, vale ponderar que a sua quantidade de nutrientes totais digeríveis (NTD) atinge uma média de 90%. Tendo em vista o seu alto nível de umidade (70%), o WDG tem uso limitado em regiões mais distantes das destilarias. Ainda assim, uma alternativa que tem ganhado espaço para a sua armazenagem é o uso de silo-bolsas, que estendem a vida útil do produto.
Diante deste cenário, o DDG, versão seca do WDG, com apenas 10-12% de umidade, vem ganhando destaque por apresentar um teor mais expressivo de matéria seca e poder ser armazenado por um período mais longo, o que o torna similar aos outros alimentos concentrados já amplamente utilizados na nutrição animal.
Mas, afinal, qual é o real potencial dos DGs na pecuária brasileira?
Diante da boa digestibilidade e composição dos DGs, a sua aplicação na nutrição animal vem ganhando cada vez mais espaço no setor pecuário nacional. Ademais, tendo em vista a conjuntura favorável à intensificação do mercado de proteínas animais do Brasil, a demanda pelo coproduto está prevista para crescer e contribuir com melhores estratégias dos pecuaristas para a redução dos custos com formulação de rações.
Ainda que majoritariamente extensiva, a bovinocultura de corte brasileira vive um momento de ampliação do potencial produtivo e de busca por novas tecnologias que reduzam o custo da produção. Em meio ao cenário de intensificação e avanço produtivo, o peso da alimentação nos custos do pecuarista tem sido crucial para o delineamento de estratégias. Assim, os DGs se apresentam como uma matéria-prima alternativa que vem a somar não só com o incremento da qualidade da nutrição dos rebanhos, mas também no melhor gerenciamento de custos.
Conforme ilustrado nas figuras acima, o DDG é uma fonte competitiva de proteína bruta (PB), mas também tende a ser uma fonte alternativa de matéria seca em meio à firme valorização recente nos preços do milho. No entanto, vale ressaltar que os gastos com a logística não foram computados nesta análise e precisam ser levados em consideração para analisar a realidade de cada pecuarista com maior acurácia.
Vale a ressalva de que, além de ser uma fonte alternativa de proteína bruta e matéria seca, os DGs ainda podem melhorar as estratégias de compra dos pecuaristas levando em consideração o fornecimento de outros nutrientes. Deste modo, cabe à cadeia investir neste setor para a garantia de uma estabilidade e equilíbrio na oferta de DGs, fator que beneficiaria não só a matriz bioenergética brasileira, mas o mercado de grãos e de proteína animal do país.