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Soja e milho: Tamanho das safras na Argentina vai afetar balanço mundial em 2023

Pelo terceiro ano consecutivo, os produtores de grãos sul-americanos estão presenciando os efeitos do fenômeno La Niña, que costuma resultar na escassez de chuvas no sul do continente, em especial no Uruguai, Sul do Brasil e Argentina. Com uma maior incerteza envolvendo o regime de chuvas e as temperaturas, o desenvolvimento da safra de grãos da América do Sul tem sido seguido de perto.

As safras brasileiras de soja e milho verão já foram afetadas pelo clima, mas a expectativa ainda é de uma produção recorde de soja e milho – considerando as 3 safras – e, atualmente, a maior preocupação recai sobre as lavouras argentinas.

O plantio dos grãos já está em sua reta final no país. Segundo relatório divulgado no último dia 02 de fevereiro pela Bolsa de Cereales de Buenos Aires (BCBA), o plantio da área de 16,2 milhões de hectares de soja já estava completo, ao passo que 96% da safra de milho havia sido semeada, contra média de 92,2%.

Contudo, tanto para a oleaginosa como para o cereal, o ritmo de plantio foi consideravelmente mais lento que a média, fazendo com que boa parte da safra se desenvolvesse em um período não considerado o ideal.
 

Plantio da safra de milho (%)*

Fonte: BCBA e StoneX. Elaboração: StoneX. *Média, mínimo e máximo se referem ao período entre as safras 17/18 e 21/22

 

 

Plantio da safra de soja (%)*

Fonte: BCBA e StoneX. Elaboração: StoneX. *Média, mínimo e máximo se referem ao período entre as safras 17/18 e 21/22

 

Além do atraso no plantio, a irregularidade e a escassez das chuvas têm feito as lavouras argentinas apresentarem condições muito adversas para o desenvolvimento das plantas.

Segundo acompanhamento da Bolsa de Cereais de Buenos Aires (BCBA), em 02/02, 22% da safra de milho do país se encontrava em condição boa ou excelente (aumento de 10 p.p. em uma semana), contra 31% no mesmo período da temporada 2021/22 e média de 5 anos em 36%.

Entre 2017/18 e 2021/22, a pior condição observada na mesma semana foi em 2020/21, quando 24% das lavouras se encontravam em condição boa/excelente.

 

 

 Porcentagem das lavouras de milho em condição boa/excelente*

Fonte: BCBA  e StoneX. Elaboração: StoneX. *Média, mínimo e máximo se referem ao período entre as safras 17/18 e 21/22

 

No caso da soja, apenas 11% da safra do país se encontrava em condição boa ou excelente, contra 35% no mesmo período da temporada 2021/22 e média de 5 anos em 36,4%.

Entre 2017/18 e 2021/22, a pior condição observada na mesma semana foi em 2020/21, quando 19% das lavouras se encontravam em condição boa/excelente.

 

 

Porcentagem das lavouras de soja em condição boa/excelente*

Fonte: BCBA e StoneX. Elaboração: StoneX. *Média, mínimo e máximo se referem ao período entre as safras 17/18 e 21/22

 

Em função desse cenário pouco favorável para a safra argentina de grãos, o USDA reduziu suas estimativas para as safras 2022/23 de soja e milho do país em seu relatório de oferta e demanda de janeiro. No caso do cereal, o Departamento realizou um corte de 3 milhões de toneladas em seu número, para 52 milhões, enquanto para a oleaginosa, a redução foi de 4 milhões de toneladas, para 45,5 milhões.

A Bolsa de Rosário trouxe o ajuste mais agressivo, com uma redução de 12 milhões de toneladas na produção de soja 22/23, que ficaria em 37 milhões de toneladas.

A instituição ainda não divulgou seu número oficial para a safra do cereal, mas de acordo com seu informe especial deste mês, em um cenário normal, poderia esperar-se 50 milhões de toneladas. Contudo, em função dos graves problemas com o plantio e as perdas produtivas esperadas, o volume deverá ficar em torno de 45 milhões de toneladas.

A Bolsa de Buenos Aires também promoveu um corte significativo, de 7 milhões de toneladas, na safra de soja, com a produção esperada ficando em 41 milhões.

Além dos impactos adversos da falta de chuvas no país, a BCBA reduziu em 500 mil hectares a área plantada da oleaginosa, passando para 16,2 milhões de hectares, em consequência das perdas registradas devido a temperaturas muito elevadas e do encerramento da janela de plantio nas regiões do centro da área agrícola do país.

 

Produção de soja na Argentina (milhões de toneladas)

Fonte: BCBA e StoneX. Elaboração: StoneX. *Estimativa

 

Considerando uma área plantada de 16,2 milhões de hectares e uma taxa de abandono de 4,9% (média das últimas 5 temporadas), seria necessária uma produtividade de 2,66 ton/ha para atingir as 41 milhões de toneladas estimadas pela Bolsa de Cereales, número inferior à média dos últimos 5 anos (2,79 ton/ha), mas ainda assim elevado ao considerar que o ritmo de plantio e as condições de safra ficaram consideravelmente abaixo da média por várias semanas.

Na temporada 2017/18, por exemplo, o rendimento médio foi de 2,18 ton/ha, e naquela temporada as condições das lavouras estavam em condições melhores que as trazidas atualmente pela Bolsa.

 

 

 Produção de milho na Argentina (milhões de toneladas)

Fonte: BCBA e StoneX. Elaboração: StoneX. *Estimativa

 

O cenário para o milho é semelhante. A instituição estima a produção do cereal em 44,5 milhões de toneladas.

Considerando a área plantada de 7,1 milhões de hectares e a taxa média de abandono dos últimos 5 ciclos de 3,1%, seria necessária uma produtividade de 6,47 ton/ha, número abaixo da produtividade média das últimas 5 safras (7,44 ton/ha), mas acima do observado em 2017/18 (6 ton/ha), temporada em que, apesar de a Argentina registrar uma expressiva quebra de safra, as condições das lavouras estavam melhores que as do ciclo atual, segundo acompanhamento da BCBA

Diante desse cenário, o clima na América do Sul vai continuar central nas próximas semanas, mesmo com a ocorrência de chuvas recentes, destacando parte importante das lavouras ainda precisa passar por fases reprodutivas, que demandam umidade adequada.

Destaca-se que, as condições das lavouras estão significativamente mais adversas que nos últimos anos e, portanto, novas reduções de produção não podem ser descartadas, o que acentuaria o aperto no balanço global dos grãos, que já não está em uma situação folgada.

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