Clima impacta cana-de-açúcar e leva à queda de 4,9% no resultado final em relação ao ciclo 2017/18
Com mais da metade da safra sucroalcooleira de 2018/19 no Centro-Sul concluída, as condições vêm indicando uma moagem cada vez mais enxuta no principal cinturão canavieiro do Brasil. Segundo revisão de setembro da StoneX, a moagem de cana deve ser de 567,0 milhões de toneladas, volume 4,9% menor em relação a 2017/18 e 6,9 milhões de toneladas mais baixo ante à estimativa divulgada pelo grupo em julho.
“Em grande parte dos estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais, as chuvas acumuladas nos primeiros meses do inverno não ultrapassaram 50% do volume usual. Em alguns canaviais, o volume precipitado não atingiu 10% da média de longo prazo”, explica o analista de mercado da StoneX, João Paulo Botelho, sobre as condições atipicamente secas nas lavouras do Centro-Sul.
O Índice de Saúde Vegetal (VHI, na sigla em inglês) se manteve abaixo dos patamares registrados em 2017 durante julho e parte do mês subsequente. No entanto, este indicador mostrou recuperação entre o fim de agosto e setembro como resultado de chuvas que atingiram 56,8 mm (+32,7%) e 74,0 mm (+591,6%) na média do Centro-Sul.
Ainda assim, os impactos negativos da estiagem sobre o rendimento dos canaviais devem persistir – principalmente sobre a matéria-prima que será colhida no final do ciclo. Segundo visão da StoneX, com a diminuição da produtividade ao longo dos próximos meses, o cinturão canavieiro brasileiro deve acumular quebra de 5,4% no rendimento agrícola de 2018/19, atingindo 71,9 t/ha.
Quanto à qualidade da matéria-prima, destaca-se que os elevados teores de açúcar alcançados durante o ciclo 2018/19 fizeram com a StoneX elevasse sua projeção para o Açúcar Total Recuperável (ATR) médio de 2018/19 para 139,6 kg/t – avanço de 0,5 kg/t ante à projeção de julho e de 2,2% no comparativo safra-a-safra. Devido ao menor rendimento agrícola, contudo, a projeção para o ATR total foi revisada para baixo, em 79,1 milhões de toneladas (-2,9%).
Já em relação à produção de açúcar e de etanol, a StoneX revisou para baixo o mix açucareiro, para 35,6%, uma retração de 10.8 p.p. no comparativo safra-a-safra. Com isso, a produção de açúcar no Centro-Sul foi reduzida para 26,9 milhões de toneladas (-25,5%) – o menor patamar desde 2009/10.
A estimativa para a produção de etanol, por outro lado, cresceu 1,8 milhão de m³ em relação à projeção de julho e 17,3% ante a 2017/18, para 30 milhões de m³. Destaca-se, todavia, que as duas variedades devem seguir tendências opostas. Considerando que a demanda por hidratado continue favorável por mais algum tempo nos postos, a StoneX espera que sua destilação na safra atual totalize 20,8 milhões de m³ (+36,8%). A produção de anidro, no entanto, deve cair para 9,1 milhões de m³ (-11,4%).
“A decisão em produzir mais etanol tem sido sustentada por uma maior remuneração do biocombustível ante ao seu coproduto – tendência que tem sido observada desde dezembro de 2017”, destaca o analista Botelho. Mesmo com queda nos preços entre maio e agosto, tanto o anidro quanto o hidratado proporcionaram um maior retorno econômico: desde a última estimativa divulgada pela StoneX, em julho, o biocombustível remunerou, em média, 8,3% a mais que o adoçante.
Etanol de milho
As estimativas para a produção de etanol de milho da StoneX foram mantidas: a destilação de hidratado e de anidro devem totalizar 864 mil m³ (+100,4%) e 281 mil m³ (+210,1%), respectivamente. No total, a fabricação do biocombustível deve ser de 1,1 milhão de m³.
Dados mais recentes da UNICA mostram que a produção de etanol a partir do cereal tem se desenvolvido bem, atingindo 286,2 mil m³ até a primeira quinzena de setembro, 104,5% acima do mesmo período em 2017/18. Ressalta-se que esta produção deve registrar um crescimento mais expressivo nos próximos meses, período que compreende a entressafra da cana-de-açúcar.