Apesar da redução nos excedentes, puxada por polos produtores da Europa e no Brasil, relação estoque/uso deve ser recorde
Em meio ao cenário de menor produção de açúcar em importantes polos globais, como Brasil e União Europeia, a StoneX reduziu para 4,4 milhões de toneladas sua expectativa de saldo global de açúcar no ciclo 2018/19 – 3,6 milhões de toneladas a menos ante à projeção divulgada em julho deste ano.
A demanda também recuou no comparativo com a estimativa anterior, pressionada pela reação fraca aos preços baixos, além das recentes tensões comerciais entre Estados Unidos e China – que podem impactar negativamente o crescimento global, interferindo na demanda de commodities básicas como o açúcar. Ainda assim, a relação estoque/uso deve continuar superando recordes, com cenário propício a atingir 46,3%, cerca de 1,8 ponto percentual a mais que a projeção para 2017/18.
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No que se refere à oferta, o clima adverso persistiu sobre áreas produtivas na Europa, após verão severo durante o período de desenvolvimento da beterraba em países importantes como França e Polônia. Na Alemanha, o déficit hídrico atingiu o pior nível de toda a série histórica – iniciada em 1975.
“Reduzimos em 220 mil toneladas nossa projeção para a safra açucareira na União Europeia em relação à estimativa de julho, para 18,2 milhões de toneladas (valor branco). Apesar de posicionar-se em um patamar elevado no comparativo com o histórico dos últimos 10 anos, esta quantidade representa uma diminuição de 7,5% ante ao que foi fabricado em 2017/18”, ressalta o analista de mercado da StoneX, João Paulo Botelho.
Junto à Europa, o Brasil deve ser um dos principais responsáveis pela diminuição do superávit global de 2018/19, com influência do clima seco observado no inverno de 2018 no Centro-Sul, além do maior envelhecimento dos canaviais brasileiros.
O maior foco na produção de etanol também deve pesar sobre o output de açúcar no próximo ano. Isso porque as cotações deste último já devem começar a temporada no menor nível de preços em 10 anos, fazendo com que o biocombustível possa remunerar as usinas de forma mais atrativa em relação ao seu coproduto.
Quanto às perspectivas para a Ásia, mais uma vez a Índia se destaca pela safra positiva esperada principalmente em Uttar Pradesh, estado que vem apresentando clima favorável e aumento da área plantada. A StoneX manteve sua projeção total para o país em 32,8 milhões de toneladas (valor branco), mesmo número divulgado em julho/2018 e quantidade que, se concretizada, representaria nova máxima histórica.
Na Tailândia, a temporada chuvosa se mostrou bastante favorável aos canaviais, enquanto a área cultivada com cana para o ciclo 2018/19 apresentou relativa estagnação, o que, consequentemente, eleva a participação talhões de 2º corte. Devido à perda de potencial produtivo das soqueiras, a fabricação de açúcar apresentou retração safra-a-safra de 2,5%, para 14,6 milhões de toneladas na revisão do grupo.
Safra 2017/18 – Índia, Tailândia e países da União Europeia expandem produção, mas Brasil puxa ganhos para baixo
Na safra que se encerra em setembro, Brasil segue caminho oposto aos produtores supracitados de açúcar, e diminui superávit global no ciclo 2017/18, estimado anteriormente (julho/2018) em 10,8 milhões de toneladas, para 10 milhões de toneladas de açúcar, segundo nova revisão de setembro divulgada pela consultoria StoneX. “A tonelagem continua como a maior registrada desde o ciclo 2012/13, quando o superávit chegou a 11,7 milhões de toneladas”, ressalta João Paulo Botelho.
Dentre os produtores supracitados, destaca-se o papel da Índia, que ultrapassou o Brasil atingindo 32,3 milhões de toneladas (valor branco), fabricação recorde do adoçante no ciclo 2017/18. O número atingido é resultado do bom desempenho das monções em 2017, uma expansão significativa na área de cana e a introdução de uma variedade mais produtiva nas lavouras de Uttar Pradesh, o maior estado produtor.
A União Europeia também foi destaque na garantia de uma oferta mais robusta, contribuindo com 19,7 milhões de toneladas (valor branco) – reflexo da abolição das cotas impostas sobre a produção e exportação de açúcar, permitindo que produtores incrementassem significativamente a área cultivada com beterraba em um cenário de preços relativamente favorável.
No lado da demanda, cálculos mais recentes apontam consumo global do adoçante reduzido para 183,8 milhões de toneladas. “A demanda parece não ter sido estimulada pelos baixos patamares de preço do açúcar no mercado internacional”, avalia Botelho.