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O biometano vem ganhando destaque nos últimos anos entre os combustíveis por ser uma alternativa renovável e mais limpa, tornando-se uma das apostas do mercado para a descarbonização da matriz energética global e se atingir o “Net Zero”.
A Agência Internacional de Energia (IEA, sigla em inglês) estima que o consumo de biometano possa alcançar 200 milhões de toneladas de petróleo equivalente (Mtoe) em 2040, com grande potencial em economias em desenvolvimento. O Brasil também vem investindo nesse combustível em anos recentes, com o biometano devendo ganhar maior importância no mercado doméstico nos próximos anos.
Assim, a Inteligência de Mercado elaborou uma breve análise sobre o biometano e o potencial do biocombustível no mercado brasileiro para os próximos anos, bem como sua relação com o gás natural.
Alternativa para transição energética
Uma das maneiras de se produzir biometano é a partir da purificação do biogás, podendo conter mais de 90% de metano e se assemelhar à composição do gás natural. O biogás, por sua vez, é produzido a partir da decomposição da matéria orgânica – especialmente de resíduos da atividade agropecuária e antrópicas (aterros sanitários, por exemplo).
Esses resíduos devem ser submetidos a biodigestores, os quais contém bactérias que realizam a decomposição e liberam o biogás a ser purificado para a produção do biometano. A produção do biometano pelo biogás responde por 90% da oferta global atualmente, mas também existe a possibilidade de gerar a molécula a partir da gaseificação da biomassa sólida seguida de metanação. O método alternativo, no entanto, envolve maiores custos e processos, sendo menos utilizado.
Ilustração da cadeia de biometano
Fonte: IEA. Elaboração: StoneX.
A geração de biogás ocorre naturalmente, fora de ambientes controlados, liberando gás carbônico e metano para a atmosfera. Ambos são considerados gases do efeito estufa (GEE), mas, com a produção do biometano, parte dessas emissões são evitadas, permitindo também a geração de crédito de carbono.
Por ter composição química similar ao gás natural, o biometano pode ser utilizado nos mesmos setores que seu equivalente fóssil, além de ser possível aproveitar as malhas de gasodutos existentes para transportar a alternativa renovável, não sendo necessários investimentos maiores para o desenvolvimento tecnológico da malha de distribuição.
Dessa maneira, o biometano pode ser aplicado para a geração de energia térmica (alimentação de fornos, caldeiras, aquecedores de água, entre outros), elétrica, ou substituindo o GNV como combustível veicular. O biogás também pode ser utilizado para a geração de energia em termelétricas sem passar pelo processo de purificação.
De acordo com a IEA, até 2018, a produção de biogás se concentrava majoritariamente na Europa (16 Mtoe), China (7,3 Mtoe) e Estados Unidos (3,9 Mtoe), com essas três regiões representando até 90% da oferta global. De acordo com estimativas da entidade, a maior parte da produção de biogás (66%) era destinada para a geração de eletricidade e calefação, seguido do uso residencial (30%) e o restante (4%) para abastecimento veicular.
O desenvolvimento do biogás, por sua vez, dependeu fortemente de políticas de incentivo e de disponibilidade de matéria prima, o que explica o desequilíbrio da produção global em anos recentes e a menor participação desse combustível na matriz energética global (0,3%).
Capacidade instalada de geração de biogás – GW
Fonte: IEA. Elaboração: StoneX.
Apesar disso, os benefícios do uso do biogás e do biometano – como o aspecto sustentável dos combustíveis, o aumento da segurança energética (por se apoiar em fontes renováveis e majoritariamente locais) e a compatibilidade com a atual malha de gasodutos – devem estimular o desenvolvimento do setor nos próximos anos.
Estimativas da IEA apontam que o consumo de biogás chegue a 75 Mtoe até 2040, considerando as atuais políticas de incentivos anunciadas, com um potencial maior de crescimento em economias em desenvolvimento apoiado na captura de aterros sanitários e na produção por biodigestores.
O biometano, por sua vez, deve ganhar maior destaque nos mercados asiáticos, atuando utilizado juntamente com o gás natural para o abastecimento elétrico e calefação de ambientes na região.
Mercado brasileiro de biogás
No Brasil, o mercado de biogás e biometano ainda é incipiente, mas possui grande potencial por conta dos resíduos gerados pelo agronegócio, especialmente da cana-de-açúcar.
De acordo com a CiBiogás, a produção de biogás em 2021 chegou a 2,34 bilhões de Nm³ no país, aumentando em 9% no comparativo com 2020, com 755 plantas espalhadas pelo país – concentradas especialmente no Centro-Sul.
A exploração do gás, no entanto, é considerada subaproveitada no país, tendo potencial de aumentar 15 vezes até 2030, e podendo atingir 170.912 GWh/ano, de acordo com a Associação Brasileira de Biogás (Abiogás).
Produção de biogás e número de plantas existentes no Brasil
Fonte: CBiogás. Elaboração: StoneX.
Os resíduos do agronegócio do país, em especial o bagaço e a palha da cana-de-açúcar, mas também da palha de milho e dejetos de animais, posicionam o Brasil como um grande produtor de biogás e biometano.
Atualmente, no entanto, a maior parte do biogás é produzido a partir de resíduos urbanos ou esgoto, com essa fonte de substrato detendo o maior número de plantas de grande porte até 2021. Apesar do setor agrícola deter o maior número de plantas de biogás, a maior parte é de pequeno porte, com o gás destinado para a produção de energia elétrica para abastecimento próprio (CiBiogás).
A produção de biometano, por sua vez, ainda é limitada no país. Apesar do grande número de plantas de extração de biogás, o processamento e purificação dessa molécula para a fabricação de biometano conta com apenas seis unidades pelo país, de acordo com a ANP.
Desse montante, três estão localizadas em São Paulo, duas no Rio de Janeiro e uma no Ceará. Em geral, a produção de biometano registrou um crescimento médio de 27% nos últimos três anos, atingindo 58 milhões de m³ em 2022.
De acordo com a Abiogás, o potencial de produção de biogás no Brasil se concentra no setor sucroenergético, o qual pode chegar a 21,1 bilhões de m³/ano (48%), seguido de resíduos de proteína animal (14,2 bilhões de m³/ano), produção agrícola (6,6 bilhões de m³/ano), e, por fim, saneamento (2,2 bilhões de m³/ano). Dessa maneira, a produção da molécula ainda deve ser concentrada no Centro-Sul, especialmente em São Paulo,
Potencial de geração de biogás por setor e estado (Nm³/ano)
Fonte: Abiogás. Elaboração: StoneX.
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