O crescimento do consumo de gás natural pelo mundo mostra como o combustível tem assumido um papel mais importante na matriz energética global. Avaliado como um energético de transição em regiões dependentes de outras fontes fósseis mais poluentes, como carvão e petróleo, a demanda pela molécula deve se intensificar principalmente em países que se comprometem com a descarbonização de suas economias.
Para além de uma fonte de energia, o gás natural também é insumo de diversos setores industriais, especialmente na indústria de fertilizantes e petroquímicos.
Estimativas apontam que o consumo de gás natural aumentou 2,3% a.a desde 2010 em média, atingindo 393,5 Bcf por dia em 2021 – ápice da série – e recuando em 2022 para 381,3 Bcf por dia em decorrência da instabilidade do mercado com o início do conflito no Leste Europeu.
Os investimentos no setor permitiram uma ampliação da oferta global nos últimos 10 anos, especialmente de países como Austrália (+191%), Azerbaijão (+109%), China (+130%) e Estados Unidos (+70%), levando a produção total para 319,25 Bcf por dia em 2021. Nesse cenário, o gás natural se mostra como um combustível competitivo, com um preço menos elevado e maior eficiência energética do que outros fósseis, apesar das limitações de infraestrutura e distribuição na malha global.
Consumo global de gás natural (Bcf por dia)
Fonte: Energy Institute. Elaboração: StoneX.
O gás natural, por sua vez, pode ser classificado de duas maneiras: gás associado e gás não associado. A termologia está relacionada às modalidades de extração da molécula, cujas diferenças impactam a quantidade de produto disponível para a comercialização.
O gás natural de produção associada é aquele que se encontra juntamente com o petróleo em reservatórios geológicos, seja dissolvido ou em forma de uma capa acima das reservas. Assim, há uma extração conjunta em que se comumente privilegia o petróleo, ou seja, a produção do gás é determinada pela produção do óleo bruto.
Outro fator importante é que, nesse tipo de produção, parte do gás extraído pode ser queimado e/ou reinjetado caso não haja viabilidade econômica para a comercialização da molécula. A reinjeção também costuma ser comum para aumentar a produtividade na extração de petróleo ao aumentar a pressão dos reservatórios. O gás natural não-associado, por sua vez, é aquele que não se encontra próximo a grandes reservas de petróleo. Assim, a extração é voltada apenas para a comercialização da molécula, o que permite maior arbitragem para controlar o volume de gás produzido nos campos.
Outra maneira de extrair gás natural é a partir do fracking, ou fraturamento hidráulico, produzindo o gás de xisto. Essa técnica não-convencional permite explorar reservatórios em rochas sedimentares não acessíveis por outros métodos ao injetar volumes elevados de uma mistura de água e solventes químicos, os quais fragmentam essas rochas permitindo a liberação do gás para a tubulação do poço. A modalidade é amplamente utilizada nos Estados Unidos, e permitiu o aumento da exploração das reservas norte-americanas, antes inviáveis.
No entanto, por conta de riscos ambientais envolvendo a técnica – como contaminação do solo, ar e lençóis de água subterrânea a partir da mistura utilizada, além da liberação de gases do efeito estufa, em especial o metano – o método é abolido em diversos países.
Tipos de produção de gás natural
Elaboração: StoneX
Produção no Brasil
A produção brasileira de gás natural também vem expandindo nos últimos anos. De acordo com a ANP, o país chegou a extrair 55,65 bilhões de m³ em 2022 – o melhor resultado da série – o que representa um aumento de 79% desde 2012.
Desse volume, quase 51 bilhões de m³ são de gás natural em sua forma gasosa, com o GNL sendo apenas 10% do total produzido pelo país. O aumento da extração da molécula no Brasil, por sua vez, é reflexo de investimentos no setor de petróleo, com a produção brasileira sendo majoritariamente de gás natural associado.
De acordo com os dados disponibilizados pela ANP, até abril/23, dos 5.565 poços que produzem gás natural no país, 95,4% são produção associada, de modo que menos de 5% são modelos não associados.
Na oferta total brasileira da molécula, 93,5% (228.909 Mm³ por dia) são providos pela produção associada, enquanto 6,5% (15.849 Mm³ por dia) ficam a cargo da produção não associada, evidenciando a importância que a oferta via poços que também produzem petróleo tem para o mercado brasileiro de gás natural.
Produção de gás natural e petróleo no Brasil (bilhões de m³)
Fonte: ANP. Elaboração: StoneX.
Como mencionado anteriormente, a produção de gás natural associado envolve uma lógica diferente da forma não-associada. Ao estar atrelada à extração de petróleo, os controladores do campo visam maximizar suas operações, o que não necessariamente implica em disponibilizar e comercializar todo o gás extraído. No caso brasileiro, cerca de 48% de toda produção de gás é reinjetada, restando um pouco mais de 33% disponível para consumo, de acordo com a ANP.
Diretores da Petrobras, empresa responsável por grande parte da exploração no país, justificam esse movimento alegando que parte do gás brasileiro é reinjetado para maximizar a produção de petróleo ao pressionar os reservatórios, sendo mais interessante do ponto de vista econômico para a companhia. Ademais, a molécula dos campos possui alto teor de gás carbônico (CO2) e sulfeto de hidrogênio (H2S), sendo custoso o tratamento, além de existir falta de infraestrutura de escoamento para a comercialização.
Destinos do gás produzido no Brasil em 2023*
*Até março. Fonte: ANP. Elaboração: StoneX.
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