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Tomas Pernías

Analista de Fertilizantes e Pecuária na Equipe de Inteligência de Mercado da StoneX. É formado em Ciências Econômicas e Relações Internacionais pela FACAMP. Mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela UNICAMP.
Este texto teve a colaboração de Felipe Sawaia.

“Vaca Louca” no Brasil:

Ocorrência atual, comparação com casos anteriores e estimativas de impacto sobre as exportações

A ocorrência atual

No dia 22 de fevereiro, um caso da doença da “Vaca Louca” em um bovino macho de 9 anos de idade, em uma propriedade localizada em Marabá, município que pertence ao estado do Pará, foi confirmado pelo Ministério da Agricultura (MAPA). O caso, que é o sexto na história brasileira, imediatamente levou à suspensão das exportações de carne bovina brasileira à China, causando um grande impacto no mercado de pecuária.

Após o envio de amostras do animal infectado ao Canadá, conforme orientação da Organização Mundial de Saúde Animal, foi confirmado, na noite do dia 2 de março, que o caso de “Vaca Louca” se tratava de uma ocorrência “atípica”, e, portanto, não apresenta chances de contaminação aos rebanhos da região. O animal, que possuía idade avançada, desenvolveu a doença sozinho e se trata de um caso isolado.

Os danos negativos no mercado pecuarista brasileiro, contudo, já estavam feitos. Em conformidade ao acordo bilateral firmado entre o Brasil e a China, as exportações de carne bovina ao país asiático já estavam suspensas, e, em meio às investigações, os preços do boi gordo caíram significativamente.

A China e o Brasil, vale ressaltar, estabeleceram em acordo comercial que estabelece que após uma notificação de uma ocorrência de “Vaca Louca”, o Brasil deve imediatamente cessar os seus envios de carne ao país asiático. Posteriormente, caberá à China, e não ao Brasil, a decisão de retomar as importações de carne brasileira. Desde então, além da China, outros países vetaram temporariamente as aquisições de compras de carne brasileira, como a Tailândia, o Irã e a Jordânia.

 

Comparação com casos anteriores

O Brasil teve, nos últimos anos, outras ocorrências da doença da “Vaca Louca”. Em 2019, houve uma notificação em Mato Grosso, e, em 2021, dois casos foram identificados, um em Minas Gerais e outro também no Mato Grosso. Assim como foi observada para a ocorrência atual, as notificações passadas também eram casos atípicos da doença, e, em todos os casos, houve queda no preço do boi gordo.

Em 2019, o caso foi confirmado no dia 31 de maio, momento em que o CEPEA indicava o boi gordo cotado a R$ 153,15/@. Os preços até chegaram a cair, com a perda máxima equivalendo a uma desvalorização de 5,4%. Entretanto, a reabilitação das exportações para a China, que aconteceu menos de duas semanas depois, significou que as desvalorizações para o boi gordo não foram tão significativas. Vale destacar, também, que em 2019 a China era responsável por “apenas” 31,7% das exportações brasileiras de carne bovina (46% com a adição de Hong Kong), o que significava um impacto menor sobre o mercado se comparado com o cenário atual. Em 2022, a China adquiriu 62,2% das exportações brasileiras.

Já em 2021, o caso foi confirmado pelo MAPA no dia 4 de setembro, momento em que o CEPEA indicava o boi gordo cotado a R$ 305,10/@. Os impactos de curto prazo não foram muito significativos. De modo geral, o mercado tinha como exemplo o caso de 2019, esperando uma rápida retomada do comércio com a China. Assim, no primeiro mês de embargo, as cotações resistiram, registrando uma desvalorização relativamente modesta de 4,2%. Entretanto, quando enfim se percebeu que o embargo não tinha data para acabar, as cotações derreteram, alcançando um vale de R$ 254,10/@ no final de outubro, o equivalente a uma desvalorização de 16,7% na comparação com o dia da confirmação do caso. No total, o embargo durou 102 dias.

Agora, em 2023, o caso teve confirmação governamental e os embarques para a China foram suspensos no dia 22 de fevereiro, dia em que o CEPEA anunciou o boi gordo cotado a R$ 299,50/@. Desta vez, o que estava fresco na memória dos agentes era o caso de 2021 e o longo embargo implementado. Assim, os impactos de curto prazo foram e estão sendo muito significativos. Já no dia seguinte à confirmação, o boi gordo CEPEA despencou para R$ 267,45/@, uma desvalorização de 10,7%. Passados treze dias, as cotações seguem em torno deste patamar.

 

Variação do indicador Cepea pós confirmação pelo MAPA de casos de mal da vaca louca (dia 1 = 100)

Preços CEPEA/B3

 

Estimativa do impacto da ocorrência atual sobre as exportações

Até o final do carnaval, ventos positivos pareciam soprar a favor do mercado de carne no Brasil. Ainda que o mercado doméstico estivesse marcado por uma demanda enfraquecida, parecia que o aumento da demanda externa poderia impulsionar os preços do boi, já que uma série de notícias positivas para o setor estavam sendo divulgadas.

Em primeiro lugar, o afrouxamento chinês das restrições anti-covid poderia estimular um aumento na demanda por proteína bovina brasileira. Em segundo, a planta de Mozarlândia (GO) obteve sua reabilitação para exportar carne à China, e, considerando que essa instalação foi a maior exportadora de carne nos últimos anos, esperava-se um impacto positivo para as vendas brasileiras. Ademais, houve a ampliação de acordos comerciais, com a Indonésia habilitando onze novos frigoríficos. Por fim, havia rumores de que mais plantas ganhariam, em breve, permissão para exportar para a China. Neste cenário, os preços do boi gordo em São Paulo chegavam perto dos R$ 300/@, e uma tendência altista para os preços parecia se consolidar no horizonte.

Com o embargo chinês, entretanto, as exportações deixaram de ser um fator de sustentação, perdendo toda sua potência. A fim de estimar os impactos que essa medida está tendo e ainda terá sobre o mercado brasileiro, a StoneX traçou três cenários: a) um positivo, em que os embarques para a China voltariam já no dia 11 de março; b) um médio, em que o embargo dura até o dia 25 de março; e c) um negativo, em que o Brasil não exporta carne bovina para a China até o final de abril. Esse estudo parte do pressuposto de que os chineses comprariam em 2023 o mesmo volume que foi adquirido em 2022 e que, dentro de cada mês, as compras se distribuem igualmente ao longo dos dias

No cenário positivo, o embargo durará 16 dias, contando 23/02 como o dia 1 e 10/03 como dia 16. Nesse caso, a China terá deixado de comprar cerca de 52,1 mil toneladas.

No cenário médio, o embargo durará 31 dias, contando 23/02 como o dia 1 e 25/03 como o dia 31. Nesse caso, a China terá deixado de comprar cerca de 102,1 mil toneladas.

Por fim, no cenário negativo, o embargo durará 67 dias, contando 23/02 como o dia 1 e 30/04 como o dia 67. Nesse caso, a China terá deixado de comprar impressionantes 220,1 mil toneladas.

No gráfico abaixo, foram traçados esses distintos cenário. Para janeiro e fevereiro, foram colocados os volumes de exportação já consolidados. Para março e abril, os números refletem os diferentes cenários estimados, mostrando como os embarques devem se comportar em cada um dos casos.

 

Exportações brasileiras em 2023 – diferentes estimativas para os meses de março e abril (mil toneladas)

Fonte: Cepea/B3. Elaboração: StoneX
De todo modo, o impacto sobre a pecuária brasileira é imenso. Usando a estimativa da Conab de que as exportações irão consumir 35,9% da produção brasileira de carne bovina em 2023 e com base no fato de que a China foi o destino de 62,2% dos embarques brasileiros em 2022, é possível estimar que o país asiático consome cerca de 22,3% da produção nacional. Ou seja, no momento, ⅕ da demanda por carne brasileira simplesmente sumiu, o que torna muito difícil que quedas importantes nos preços não aconteçam.

Tomas Pernías

Analista de Fertilizantes e Pecuária na Equipe de Inteligência de Mercado da StoneX. É formado em Ciências Econômicas e Relações Internacionais pela FACAMP. Mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela UNICAMP.
Este texto teve a colaboração de Felipe Sawaia

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