O primeiro trimestre de 2021 se encerra com o mercado de óleos vegetais extremamente aquecido, ditado pela demanda em ascensão para o consumo de biocombustíveis e uma oferta restrita nas principais praças produtoras.
Neste período, as cotações dos óleos vegetais nos mercados físicos e futuros engataram sequências de valorizações, superando quase que semanalmente patamares de preços que não eram vistos há diversos anos. E mesmo que o momento seja de recuperação geral nos preços globais dos alimentos, após o impacto causado pelo início da pandemia, a inflação da categoria de óleos vegetais ainda tem superado a de outros tipos de alimentos. A Food and Agriculture Organization (FAO/ONU), em seu acompanhamento mensal sobre a variação global dos preços dos alimentos, elencou os óleos como a categoria alimentícia que mais se valorizou em 2021, superando os cereais, leite, carnes e açúcar.
Índice mensal de preços dos alimentos por categoria
Fonte: FAO/ONU. Elaboração StoneX.
São diversos fatores endógenos e exógenos aos mercados de óleos vegetais que corroboram para a alta das cotações neste início de ano. Os principais mercados produtores de óleos atravessam um período de oferta restrita, reforçado por problemas climáticos e elevado crescimento do consumo.
O óleo de palma sofreu grandes perdas de produção entre o final de 2020 e início de 2021, decorrente do intenso regime de chuvas na principal região produtora, o sudeste asiático. As inundações causadas pelo efeito climático La Niña impossibilitaram que a extração da palma fosse realizada em sua capacidade total, reduzindo a produção do óleo na Malásia no primeiro bimestre de 2021 para o menor volume desde 2016. Somado ao elevado volume das exportações do país no segundo semestre do ano passado, os estoques de óleo de palma na Malásia entraram em 2021 com o menor nível dos últimos 5 anos, sustentando os preços.
Com os estoques baixos, os preços do óleo de palma na bolsa de Bursa, na Malásia, alcançaram a marca de RM4.000/tonelada em março/2021 pela primeira vez desde 2011. O alto preço tem afetado a demanda neste início de ano: entre dezembro/20 e janeiro/21, as exportações de palma da Malásia e da Indonésia caíram 41% e 18%, respectivamente.
Preços futuros contínuos do óleo de soja e óleo de palma, padronizados em US$/tonelada.
Fonte: Reuters
Mesmo com os preços da palma em alta, o óleo tropical ainda é uma das opções mais competitivas do mercado, já que o preço de todo o complexo de óleos tem se movido para cima. Ao longo do primeiro trimestre de 2021, o contínuo do óleo de soja na bolsa de Chicago, principal referência para a categoria de óleos vegetais, valorizou cerca de 33% e chega ao final de março cotado acima de 55 ct/lb pela primeira vez desde 2012.
O boom dos preços do óleo de soja nos últimos 3 meses é também reflexo da oferta apertada da oleaginosa nos Estados Unidos, atraso da colheita no Brasil e expectativa de quebra da safra argentina devido ao clima mais seco. Se confirmada as estimativas atuais do USDA, os Estados Unidos deverão encerrar a temporada 2020/21 com 3,25 milhões de toneladas de soja no estoque, 11 milhões a menos que na safra anterior.
Mesmo com os preços recordes, a expectativa é positiva para consumo de óleo de soja. A retomada da economia global, favorecida pelos pacotes de estímulos e expansão monetária aplicada por vários governos nacionais, e o avanço da vacinação trouxeram otimismo ao mercado, elevando principalmente os preços e a demanda por fontes de energia. Ao longo do primeiro trimestre, o preço do petróleo bruto no mercado internacional chegou a saltar de US$50/bbl no início do ano para US$70/bbl em meados de março, alta de 40% em menos de 3 meses. Os preços dos óleos vegetais possuem uma correlação positiva com o petróleo, principalmente com o avanço do mercado de biocombustíveis.
Além disso, na segunda metade de março, o presidente Joe Biden anunciou que pretende investir pesado na indústria de geração de energia renovável, animando o mercado de biocombustíveis e, consequentemente, de óleos vegetais. Nos EUA, o óleo de soja representa cerca de 50% da matéria prima do biodiesel.
No mercado brasileiro, a oferta de óleo de soja também está limitada, prejudicada pelos atrasos da colheita, e os preços no mercado físico têm acompanhado a bolsa de Chicago em um ritmo ainda maior, impulsionado pela oscilação da taxa de câmbio e pela oferta restrita de soja no segundo semestre de 2020. A entrada da safra nova no mercado no próximo trimestre e aumento dos volumes de esmagamento deverão aliviar parte do stress na oferta. No entanto, a expectativa ainda não é de queda nos preços, já que a produção de soja abaixo do esperado na Argentina e aumento da mistura obrigatória de biodiesel no diesel no Brasil, para o B13, podem limitar a disponibilidade no país.
Preços físicos do óleo de soja FOB Paranaguá
Fonte: Bloomberg