Produção de biodiesel avança 9% em 2020, mesmo com pandemia e reduções temporárias da mistura obrigatória

Em 2020, o Brasil produziu o volume recorde de 6,43 milhões de m³ de biodiesel, 9% acima do registrado em 2019, mesmo em um ano marcado por incertezas, devido à pandemia do coronavírus.

Produção anual de biodiesel (mil m³)

Fontes: ANP e Abiove. Elaboração: StoneX.

Em março de 2020, a mistura obrigatória de biodiesel no diesel subiu para 12%. Contudo, entre março e abril, veio o primeiro impacto significativo da pandemia de Covid-19, com adoção de medidas restritivas ao redor do mundo, incluindo o Brasil. Com isso os combustíveis foram fortemente afetados, num contexto em que as pessoas estavam ficando em casa, evitando viagens e movimentações, em geral.

O mercado de biodiesel nacional viu as estimativas para o avanço em 2020 serem revisadas para baixo, chegando, inclusive, a perspectivas de que a produção poderia se manter estável frente a 2019, a despeito do aumento da mistura em mais 1 p.p. Passado esse impacto inicial, o setor de combustíveis começou a reagir, mostrando um desempenho acima do que se esperava anteriormente, o que também afetou as perspectivas para a produção do biodiesel, mas, nesse caso, pelo lado positivo.

Além disso, é importante destacar a redução da mistura obrigatória em setembro e outubro, para 10%, e em novembro e dezembro, para 11%, em meio à oferta restrita de soja, impactando a disponibilidade dos subprodutos e levando os preços a níveis nominais recordes. Medidas como a liberação do uso de matéria-prima importada também foram adotadas pelo governo.

De acordo com os dados oficiais da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o óleo de soja teve participação média de 71,2% entre as matérias primas utilizadas para a produção de biodiesel em 2020. Em segundo lugar, ficou o segmento de Outros Materiais Graxos, com 11,34%, e, em terceiro, a gordura bovina, respondendo por 9%, em média.

Matérias-primas na produção de biodiesel em 2020 (%)

Fonte: ANP. Elaboração: StoneX.

Dessa forma, destaca-se que o uso de óleo de soja registrou um incremento de participação, contra 68% em 2019, ressaltando que a categoria Outros Materiais Graxos também tem em sua composição o óleo de soja, pois são matérias primas tradicionais reprocessadas. Apesar de a ANP não discriminar o que está incluído nesta categoria, o óleo de soja, por responder pela maior parte das matérias-primas em geral, também tende a ter uma participação grande. Dessa forma, a participação do óleo de soja pode chegar perto de 80% do total, levando-se em conta os Outros Materiais Graxos na classificação da ANP.

Partindo-se dos percentuais de participação exclusivamente da categoria óleo de soja, estima-se que o esmagamento de soja somente para a produção de biodiesel em 2020 alcançou 22,1 milhões de toneladas. Contudo ao se considerar que o uso de óleo de soja é maior, por causa do que entra no segmento de Outros Materiais Graxos, a necessidade de soja ficaria em 24,9 milhões de toneladas.

Dessa forma, considerando um esmagamento estimado de soja em 2020 de 44,5 milhões de toneladas, o processamento para biodiesel ficou levemente abaixo de 50% do total, considerando que 71,2% da matéria-prima foi o óleo de soja, mas alcançaria 55,8%, ao se assumir que a maior parte da categoria Outros Materiais Graxos é formada por óleo de soja, com cerca de 80% do biodiesel vindo dessa matéria prima, não considerando aqui o uso de óleo de soja importado.

Para 2021, a mistura obrigatória vai subir para 13% em março, situação que reforça ainda mais o uso do óleo de soja para biodiesel, uma vez que essa matéria-prima deve continuar dominante na matriz do biocombustível no Brasil.

Esmagamento anual de soja (milhões de toneladas)

Fontes: Abiove e StoneX. Elaboração: StoneX. *Estimado.

 

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