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Felipe Sawaia

Estudante de Ciências Econômicas pela Unicamp. Trabalha desde 2021 na Inteligência de Mercado da StoneX, com foco nas áreas de pecuária e grãos.

Impactos da planta de Mozarlândia sobre a pecuária bovina brasileira

A partir da análise dos impactos do embargo, é possível inferir as mudanças que podem vir com a reabilitação

Em 2018, a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) estimou que 23,8% da produção brasileira de carne bovina foi exportada, com os 76,2% restantes sendo consumidos no mercado doméstico. Já em 2022, a estimativa para as exportações foi de 35,1%, um salto significativo.

Consumo da produção brasileira de carne bovina

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Fonte: Conab. Elaboração: StoneX. * Estimativa

Além da retração do consumo dos brasileiros, pressionado pelo desemprego, inflação e pandemia, o principal responsável pelo crescimento da participação das exportações foi a China. A partir de 2019, o país asiático passou a demandar volumes cada vez mais elevados, tornando a cadeia pecuária brasileira bastante dependente desse mercado.

Neste sentido, o embargo chinês imposto à planta de Mozarlândia-GO, em março de 2022, teve um impacto bastante significativo. Essa fábrica estava entre as que mais exportavam para a China, representando um importante escoadouro para a produção doméstica de boi gordo.

No dia 18 de janeiro, esta planta reconquistou sua habilitação de exportação. A notícia, confirmada pelo Ministério da Agricultura, impulsionou ganhos para o boi gordo no mercado futuro, mas ainda não se sabe os verdadeiros impactos que ela terá sobre o mercado físico. Através dessa matéria, a StoneX busca jogar um pouco de luz sobre essa questão.

 

Impacto do embargo sobre os números

Em todos os anos entre 2019 e 2021, a planta frigorífica brasileira que mais exportou carne bovina para a China foi a de Mozarlândia. Em 2019, foram 78,0 mil toneladas, volume que representou 15,7% do total nacional. Em 2020, 95,2 mil toneladas, 11,0% do total. Por fim, em 2021, foram 79,9 mil toneladas, também 11,0% do total nacional. No agregado destes três anos, portanto, foram 253,1 mil toneladas. A segunda planta que mais exportou nesse período, a de Promissão-SP, embarcou “apenas” 151,2 mil toneladas.

O embargo imposto pela China em 2022, portanto, teve um impacto bastante significativo. De principal exportador, Mozarlândia caiu para a 29ª posição, tendo exportado menos de 20 mil toneladas, volume referente apenas aos quatro primeiros meses do ano (apesar do embargo ter sido imposto em março, alguns embarques chegaram a acontecer em abril). A participação no total nacional recuou para 1,6%.

Essa queda abrupta impactou todo o estado de Goiás. Entre 2019 e 2021, os frigoríficos goianos foram responsáveis por parcelas entre 17% e 19% das exportações brasileiras para a China. Com a limitação de Mozarlândia, este percentual caiu para 8,7% em 2022. Em contrapartida, o principal beneficiado acabou sendo São Paulo, que inverteu um movimento de diminuição da participação.

Participação de estados selecionados nas exportações para a China

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Fonte: Secretaria de Comércio Exterior. Elaboração: StoneX

 

Impactos do embargo sobre os preços

O estado de Goiás, com destaque para a região de do Vale do Araguaia, tem um papel de destaque no mercado da pecuária bovina brasileira. Por um lado, há na região um grande número de confinamentos, capazes de ofertar quantias elevadas de animais. Por outro, há alguns frigoríficos de importância significativa, com destaque para o de Mozarlândia, que absorve boa parte dos animais que são engordados nos confinamentos da região.

Contudo, a interrupção súbita das exportações de Mozarlândia para a China colocou um freio na demanda do frigorífico de Goiás, que cessou as suas compras em meio ao embargo chinês. Abruptamente, pecuaristas da região se viram impossibilitados de escoar a sua produção de animais, que, antes, era em grande medida destinada à planta exportadora. Eventualmente, com o decorrer do tempo e o prolongamento do embargo, houve um acúmulo de animais confinados, gerando custos adicionais para o pecuarista. A pressão de custos sobre o pecuarista que manteve os seus animais, somada à abundância de bois na região, impôs dificuldades ao engordador, que precisava de uma saída para o escoamento de sua produção.

Estimativa de animais abatidos em Mozarlândia com destinação China (em mil unidades)

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Fonte: Secretaria de Comércio Exterior. Elaboração: StoneX. *Estimativa com base em um animal pesando 19@

A solução encontrada consistiu em destinar os seus animais ao mercado paulista, que passou a absorver também a produção antes adquirida pela planta de Mozarlândia. No entanto, essa oferta adicional, e não esperada, de animais no mercado de São Paulo gerou uma pressão negativa para os preços da região. Frigoríficos de SP tiveram, a partir de então, uma farta oferta de animais disponíveis para a sua produção. As escalas de abate da praça paulista aumentaram, o que gerou uma situação confortável para os frigoríficos de SP, que agora poderiam adquirir sua matéria prima em meio a um cenário negativo para o preço do boi.

Mais que isso, em função da relevância do mercado paulista no Brasil, os preços praticados em SP tendem a ser acompanhados por outras praças no interior. Ou seja, com São Paulo conduzindo um movimento baixista para o boi, houve um acompanhamento dessa queda de preços em diferentes regiões do país, significando que o embargo chinês sobre a planta de Mozarlândia teve um impacto nacional.

 

Possíveis impactos da reabilitação de Mozarlândia

A renovação da permissão de exportação à China para os frigoríficos de Mozarlândia pode reinserir o município no mapa dos principais compradores da região. Esse crescimento súbito das aquisições, por sua vez, pode vir a fortalecer os preços do boi gordo em âmbito nacional, já que isso interromperia a dinâmica baixista de excesso de oferta nas praças de São Paulo.

É claro que tudo isso dependerá do comportamento de Mozarlândia. Nos próximos meses, portanto, os agentes do mercado da pecuária devem ficar atentos às exportações dessa importante planta, observando se ela voltará a produzir nos níveis observados entre 2019 e 2021.

Felipe Sawaia

Estudante de Ciências Econômicas pela Unicamp. Trabalha desde 2021 na Inteligência de Mercado da StoneX, com foco nas áreas de pecuária e grãos.

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