Notícias de recuperação das atividades nos portos chineses trazem otimismo

Em meio ao surto de Covid-19 e dos seus possíveis impactos no crescimento econômico mundial, as exportações brasileiras de carne bovina de fevereiro registraram um recuo de 5,5% em relação a janeiro. Grande parte desta perda veio puxada pela queda nos embarques para a China, que retraíram 30% no comparativo mensal.

No entanto, em relação ao ano passado, as exportações do primeiro bimestre de 2020 estiveram 9,7 mil toneladas acima ao visto em 2019. Considerando o período de janeiro a fevereiro, os carregamentos internacionais em 2020 atingiram altas históricas e com mercados consumidores pagando a mais pela carne bovina brasileira, que atingiu, em fev/20, a marca próxima de US$ 5/kg.

Embora as exportações brasileiras ainda estejam em ritmo favorável, os embarques nacionais registraram um recuo expressivo no comparativo com o final de 2019, grande parte em resposta ao surto de coronavírus. Vale ponderar que a queda no consumo de carne bovina foi mais atrelada às questões da logística portuária chinesa do que, de fato, a uma perda no ímpeto de compra do consumidor asiático.

Com o maior controle do quadro de evolução do vírus na China, um retorno das atividades do país já está sendo observado, com o fluxo de comércio voltando a normalidade, após as sucessivas medidas públicas tomadas para a contenção do trânsito populacional e de mercadorias. Segundo o consultor da StoneX dos Estados Unidos, Bevan Everett, o governo chinês tem adotado políticas de corte de custos e tarifas para os carregamentos nos portos de modo a facilitar o escoamento de mercadorias.

Diante deste contexto, e em meio a uma produção animal penalizada, a retomada na escala de compra chinesa é aguardada ao longo dos próximos meses. Embora o governo da China preze pela segurança alimentar e venha injetando força à pecuária nacional para acelerar a recuperação do setor, tudo indica que o gigante asiático ainda recorrerá ao mercado externo para abastecer seu mercado doméstico.

Gráfico 1- Exportações brasileiras de carne bovina para a China (mil toneladas)

Fonte: ComexStat. Elaborado por: StoneX

Gráfico 2-  Exportações brasileiras de carne bovina no primeiro bimestre do ano

Fonte: ComexStat. Elaborado por: StoneX

Neste contexto, é notório que a China domina o destino dos embarques do Brasil, porém, em meio à assinatura da Fase 1 do Acordo Comercial, às constatações de uma desaceleração econômica global e às incertezas com relação aos impactos do Covid-19, a necessidade da pecuária brasileira de diversificar a sua gama de parceiros comerciais tem ganhado relevância.

O Brasil vem expandindo, ao longo dos anos, as suas relações comerciais com novos parceiros. Diante disto, não só a China, como também outros importantes polos consumidores, em destaque a Arábia Saudita, Turquia, Uruguai e Emirados Árabes, avançaram em grande escala as suas importações de carne bovina do Brasil no período recente.

Com a reabertura do mercado norte-americano à carne in natura do Brasil, o estreitamento de laços com a União Europeia e a perda de competitividade do produto australiano, o cenário é de otimismo com relação ao avanço da proteína brasileira para novas fronteiras, em destaque regiões consumidoras com alto nível de crescimento populacional e econômico.

No entanto, em meio à tensão no cenário internacional, com o avanço da pandemia de Covid-19 e a recente guerra de preços entre a Opep e a Rússia, a preocupação com a capitalização do consumidor e o consumo de carne cresceu. Embora o crescimento econômico mundial tenha sido revisado para baixo pela OECD (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), caindo de 2,9% para 2,4% e, podendo estender as quedas para até 1,5%, há pontos que favorecem análises mais otimistas. Dentre elas, destaque para a cooperação de grandes potências (G7) que buscam por estratégias que mitiguem os impactos da crise sanitária no crescimento do PIB mundial.

Neste mesmo contexto, outro ponto que deverá se manter no radar das análises é a questão cambial. Com a valorização do dólar frente ao real, que já atinge máximas históricas, a perspectiva é de ganho de competitividade dos produtos brasileiros e de um estímulo maior à receita das exportações de proteínas. Com isso, o quadro de oferta restrita no mercado interno, vivenciado ao final do ano passado, poderá ser prolongado e sustentar as cotações no mercado físico.

No momento, as projeções de crescimento para a China apontam para uma desaceleração em 2020, com probabilidade baixa de uma recessão. Segundo as estimativas divulgadas pela OCDE em seu relatório de Perspectivas Econômicas, divulgado no início deste mês, a economia chinesa deve registrar uma perda de 1,2 p.p. na taxa de crescimento em relação a 2019, encerrando este ano com uma expansão de 4,9% do PIB. Esta seria a sua menor taxa de crescimento em três décadas, mas ainda assim representaria uma expansão robusta: com uma taxa de crescimento de 5% a.a., a economia chinesa dobraria de tamanho dentro de um período de 15 anos.

Gráfico 3-  Destinos das exportações de carne bovina brasileira (mil toneladas)

Fonte: ComexStat. Elaborado por: StoneX

Gráfico  4-  Comparativo das projeções para o crescimento do PIB (%)

Fonte: OECD. Elaborado por: StoneX

Neste mesmo contexto, outro ponto que deverá se manter no radar das análises é a questão cambial. Com a valorização do dólar frente ao real, que já atinge máximas históricas, a perspectiva é de ganho de competitividade dos produtos brasileiros e de um estímulo maior à receita das exportações de proteínas. Com isso, o quadro de oferta restrita no mercado interno, vivenciado ao final do ano passado, poderá ser prolongado e sustentar as cotações no mercado físico.

No momento, as projeções de crescimento para a China apontam para uma desaceleração em 2020, com probabilidade baixa de uma recessão. Segundo as estimativas divulgadas pela OECD em seu relatório de Perspectivas Econômicas, divulgado no início deste mês, a economia chinesa deve registrar uma perda de 1,2 p.p. na taxa de crescimento em relação a 2019, encerrando este ano com uma expansão de 4,9% do PIB. Esta seria a sua menor taxa de crescimento em três décadas, mas ainda assim representaria uma expansão robusta: com uma taxa de crescimento de 5% a.a., a economia chinesa dobraria de tamanho dentro de um período de 15 anos.

Por mais que o desaquecimento da economia chinesa impacte invariavelmente a demanda do país por bens e serviços, seu efeito sobre o consumo de proteína animal não necessariamente será sentido com a mesma intensidade. Nos últimos anos, a melhoria da renda per capita e a urbanização da população chinesa promoveu mudanças no padrão alimentar do país, ampliando o espaço das carnes na dieta. Em um ano de desaceleração, em que a população precisa contrair seus gastos para se adequar a um orçamento mais apertado, a propensão tende a ser maior para o corte de bens supérfluos e menor para bens que atendem necessidades básicas, como a alimentação.

De qualquer forma, o cenário permanece sendo de incertezas com relação ao avanço da pandemia de coronavírus e dos seus impactos na economia. Apesar de as manchetes continuarem apontando para a China como um importante polo consumidor da proteína brasileira, vale ponderar que o consumo de carne bovina ainda poderá ser limitado caso as condições econômicas se deteriorem ainda mais.

 

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